Crítica
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Sinopse
Inseparáveis, Avril e sua mãe, Mado, não podem ser mais diferentes uma da outra. Avril, 30 anos, é casada, tem um emprego fixo e é organizada, ao contrário de sua mãe, eterna adolescente irresponsável e petulante, que vive à custa de sua filha desde o seu divórcio. Mas quando as duas mulheres se veem grávidas ao mesmo tempo e sob o mesmo teto, os estranhamentos são inevitáveis.
Crítica
Em princípio, parece que Tal Mãe, Tal Filha ficará restrito ao batido choque geracional entre a mãe de comportamento jovial e a filha, digamos, careta. Avril (Camille Cottin), assalariada e casada com um mestrando, tem sérias dificuldades para lidar com a personalidade solar e o comportamento um tanto irresponsável de Mado (Juliette Binoche), sua mãe. Próxima de completar 50 anos, a senhora perambula lépida pelas ruas de Paris numa inconfundível moto cor-de-rosa. Enquanto a jovem adulta se preocupa em deixar a casa em ordem, a mulher de cabelos loiros, que exibe constantemente um sorriso largo no rosto, é mais afeita à bagunça. Elas moram juntas, o que dificulta bastante as coisas. A diretora Noémie Saglio parte dessa construção de opostos para deixar bem claras as diferenças substanciais. O predominante tom cômico se encarrega de tornar tudo leve e agradável, até quando a situação se complica sobremaneira, pois ambas se descobrem grávidas, o que provoca mais transtornos e brigas.
Avril se torna essencialmente irritadiça, consequência também dos hormônios que fervilham nela. Já Mado, depois de passada a dúvida de ter ou não sua criança, tenta a todo custo se aproximar da filha, geralmente sem sucesso. Nessa comédia com ligeiros toques agridoces, Noémie Saglio investe pouco nos possíveis aprofundamentos que poderiam dar conta de melhor respaldar ações e reações. Ao invés de mergulhar, a realizadora prefere conduzir, inclusive os desdobramentos, na superfície, sem com isso tornar seu filme enfadonho ou bobo. Nos instantes em que a trama percorre caminhos desgastados, o desempenho do elenco segura as pontas, especialmente o de Juliette Binoche, excepcional como a quarentona meio destrambelhada, mas extremamente simpática ao espectador. Camille Cottin, por sua vez, concebe uma figura afetada, como nenhuma outra da trama, pelo comportamento das demais, sendo, portanto, compreensíveis as frequentes oscilações de humor e a ranzinzice.
No que tange à participação masculina, Lambert Wilson, que interpreta Marc, pai de Avril e ex-marido de Mado, se destaca. Aliás, a insólita e fortuita transa desse maestro com a personagem de Binoche ocasiona boa parte das celeumas principais do longa-metragem. Na seara dos coadjuvantes, a veterana Catherine Jacob rouba a cena como a mãe estranha de Louis (Michaël Dichter), marido cenicamente meio apagado de Avril. Tal Mãe, Tal Filha perde força assim que o roteiro se biparte, tratando de separar as protagonistas a fim de delinear em paralelo suas questões que, não demoramos a perceber, devem se mesclar afetivamente mais adiante. Há no filme de Noémie Saglio instantes completamente descartáveis, como o ridículo vislumbre de um cachorro mirando fotos de cadelas num tablet, mas nada que diminua o sabor levemente adocicado que resulta dos bem-vindos aparos das arestas, sobretudo entre mãe e filha. Longe de ser memorável, é, contudo, uma realização gostosa de ser vista.
Juliette Binoche engrandece Tal Mãe, Tal Filha, não exatamente por se tratar de uma estrela maiúscula, de renome internacional, mas por, mesmo em meio a uma narrativa convencional e muitas vezes rasteira, ela conseguir transcender as limitações do papel, novamente criando uma personagem cativante, pela qual torcemos invariavelmente. Ocasionalmente, a estrutura do roteiro causa uma flagrante sensação de dispersão, por investir demasiadamente em elementos periféricos, deixando o fundamental em banho-maria, como se fosse necessário guardar determinadas cartas na manga para utilizações mais oportunas. No fim das contas, ainda que não seja difícil antever o desfecho dessa ciranda propiciada, principalmente, pelas gestações simultâneas, o saldo é mais positivo, grande parte em virtude do trabalho dos atores, eles que encarnam pessoas comuns e afetadas, em semelhante medida, por atrasos menstruais e pela dificuldade corriqueira de comunicar-se com os pais.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 6 |
Bianca Zasso | 6 |
Leonardo Ribeiro | 3 |
Matheus Bonez | 6 |
MÉDIA | 5.3 |
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