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Crítica


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Sinopse

Um retrato sobre um tempo muito específico passado na Unidade de Internamento de Psiquiatria Forense.

Crítica

Existe um tempo próprio dentro de uma instituição psiquiátrica, um ritmo distinto que pouco se assemelha à pressa e a agitação do chamado “mundo externo”. O documentário Talvez Deserto Talvez Universo, dirigido pelo português Miguel Seabra Lopes e pela cineasta e montadora carioca Karen Akerman, captura bem essa realidade, na qual homens que foram considerados inaptos a viver em sociedade recebem acompanhamento psiquiátrico, psicológico e social em um hospital forense em Lisboa. A câmera se aproxima daqueles sujeitos, que revelam muito de seus anseios e personalidades para os olhos atentos de Seabra Lopes.

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Como se trata de um hospital para pacientes homens, Akerman foi aconselhada a não participar das filmagens, com apenas Lopes entrando no local, comandando a câmera e as entrevistas. O que vemos é um retrato correto, íntegro e paciencioso daquela realidade. Para filmá-los, o diretor pediu permissão para cada um dos 32 homens que lá habitam e recebeu um sonoro não de todos. Sem saber o que fazer, passou a visitar o local para filmar os vazios, objetos e qualquer coisa que lhe chamasse a atenção. Foi quando, fumando junto dos internos, que passou a ganhar a confiança das pessoas de lá, que passaram a não se mostrar tão avessos à presença daquela câmera. Segundo Seabra, as gravações terminaram quando ele passou a se sentir próximo demais daquelas pessoas, o que atrapalharia o trabalho.

Com tomadas longas e fotografia em preto e branco, Talvez Deserto Talvez Universo dá tempo ao tempo para que os personagens se revelem. Alguns simpáticos, mesmo turrões, como o senhor com cenho sempre franzido, que pede moedas para todas as pessoas a sua volta; ou o rapaz que ouve sua música e deseja fumar seus cigarros em paz, sem que lhe peçam um trago; ou o outro, que sempre tenta filar um cigarro dos colegas; ou o homem que espera ansioso pela presença de seu grande amor. O filme não retrata estas figuras apenas como curiosas personalidades, dando espaço para que se observe o ser humano que está na nossa frente, com toda a sua complexidade.

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Em um dos grandes momentos do longa-metragem, que fecha o documentário, acompanhamos uma longa e franca entrevista com um interno do hospital, um homem que não se misturava ou falava com outros, mas que se abriu para Miguel Seabra Lopes. Contando que estava ali por ter esfaqueado o irmão, o homem passeia por diversos assuntos de sua vida, com o cineasta mantendo fixa a câmera naquele sujeito. Uma prova de que não é necessário qualquer tipo de acrobacia para capturar a atenção do espectador. Basta um assunto interessante e uma presença forte em cena para que não tiremos os olhos da tela.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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