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Sinopse
Tangerina: Sin-Dee está de volta ao seu bairro depois de passar um tempo na cadeia, quando descobre que seu namorado não tem sido fiel. Junto com a amiga Alexandra, ela vai tentar descobrir o que é fato e o que é mentira nessa história toda, entrando em contato no caminho com uma diversidade enorme de culturas em Los Angeles, EUA. Premiado no Festival do Rio 2015.
Crítica
Existe uma falta de pretensão em Tangerina que faz com que a produção de Sean Baker em muito relembre o cinema, que tanto faz falta, de John Waters. Tudo é muito exagerado na história de Alexandra e Sin-Dee Rella, duas transexuais negras que fazem programa nas ruas de Los Angeles. Quando Sin-Dee sai da prisão temporária que esteve por 28 dias e decide procurar seu namorado Chester, Alexandra deixa escapar que ele a traiu com uma “branquela com vagina de verdade”, a viciada em crack e prostituta Dinah.
Esse pontapé inicial eleva a trama a um road movie por Los Angeles com Sin-Dee decidida a se vingar de Chester e Dinah. A jornada começa nas calçadas, passa pelo metrô e também pelo táxi do armêmio Razmik que, apesar de ter uma família, mantém um caso com Alexandra e está apaixonado por Sin-Dee. Nestes passeios com Razmik, acabamos encontrando personalidades diversas que integram esse universo kitsch da cidade: bêbados, prostitutas, cafetões, traficantes e travestis. Baker brinca e faz piada com todos esses personagens ao som da trilha sonora, que mistura o som eletrônico de djs com a música clássica de Beethoven, além de um belo número musical de Mya Taylor, que interpreta Alexandra.
Brincadeiras à parte com este universo obscuro, Baker traz assuntos pertinentes em seu filme, dando protagonismo, como Waters fazia, a personagens que enfrentam preconceito e categorizações de gênero da sociedade, além de falar sem grandes filtros sobre sexualidade, drogas e prostituição. Há espaço ainda para dramas existenciais, família e a força da amizade. Com diálogos excepcionais e alinhados com a cultura pop, temos aqui um filme digno de culto da primeira à última cena.
Tangerina vem sendo muito comentado por ter sido filmado inteiramente com apenas três iPhones, uma lente e um aplicativo de filtro de imagens para celular. E, realmente, com o uso do suporte, o diretor explora planos e enquadramentos dignos de grandes equipamentos. A produção que leva o aval dos pais do mumblecore, os irmãos Duplass, é certamente elevada a algo muito além da subversão de um equipamento ao abordar temáticas tão universais e, ao mesmo tempo, excêntricas. John Waters deve estar orgulhoso.
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