Crítica
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Sinopse
David se esforça para confortar a filha após a morte acidental de uma colega dela. Porém, aos poucos ele começa a ter contato com indícios perturbadores de que sua filha pode ser responsável pela tragédia.
Crítica
No imaginário coletivo, a palavra “vulgar” está associada a uma conotação moral e preconceituosa, de forte senso conservador. No entanto, originalmente, o termo significa tanto “que denota baixo nível de gosto ou educação” quanto “trivial, banal” e ainda “popular”. Tara Maldita (2018), refilmagem do suspense de 1956, em versão telefilme do canal Lifetime, desperta constante sensação de um produto vulgar, em todos os sentidos do termo. Ele não é “ousado” ou “chamativo”, como se costuma dizer da pessoa vulgar. No entanto, o projeto se apropria de uma fábula psicologicamente densa, para então retirar qualquer interesse imagético, discursivo e cinematográfico que poderia ter. A condução de Rob Lowe, na função de diretor, carrega um aspecto grosseiro: as cenas são filmadas com pouco cuidado, os atores apresentam composição exagerada, a montagem opta por cortes bruscos, a fotografia evita a valorização dos espaços. Este longa-metragem desperta a impressão de uma obra elaborada no piloto automático para rechear a grade de programação do canal e sustentar o interesse dos espectadores ávidos por emoções fáceis e banais – outro aspecto da vulgaridade.
No entanto, o ponto de partida poderia gerar uma discussão interessante. A noção de crianças inerentemente malvadas rompe com a pressuposição de inocência, pureza e bondade imputada aos pequenos. Quem podemos responsabilizar diante das crianças assassinas? Seria culpa dos pais, da sociedade, do destino? Ou talvez culpa de ninguém? Filmes como O Anjo Malvado (1993) e Precisamos Falar sobre o Kevin (2011), além de dezenas de produções de terror, confrontam o espectador à responsabilidade infantil e adulta diante dos casos excepcionais da psicopatia dos jovens. Neste caso, a pequena Emma (Mckenna Grace) é suspeita de empurrar o colega de turma de um precipício. Depois, ela se torna a principal suspeita de novos crimes. O pai David (Rob Lowe) fica horrorizado com a possibilidade de sua filhinha ser uma pequena homicida. Ora, este projeto demonstra preocupação nula em compreender os mecanismos psicológicos por trás das atitudes da garota e do pai. Emma perdeu a mãe, porém qualquer sinal de trauma e saudade está ausente da trama. A perversidade apresenta um caráter inevitável: o roteiro aborda esta característica enquanto traço inato. O que o pai, a escola e a sociedade poderiam fazer? Nada, aparentemente: a solução encontrada no desfecho comprova a total falta de interesse da roteirista Barbara Marshall, a partir da peça de teatro clássica, em discutir a questão.
Assim, o filme explora seu dilema sem entendê-lo. Emma se constrói a partir de um olhar externo, surpreso com as atitudes inesperadas para uma criança. O cineasta aborda este caso pelo prisma do exotismo, semelhante ao discurso dos programas televisivos vespertinos e sensacionalistas, fetichizando famílias disfuncionais que fazem as nossas parecerem tão aceitáveis em comparação. A questão do ponto de vista fragiliza bastante o resultado: não observamos a história de mortes pela percepção do pai surpreso, nem pela interpretação da menina – o que seria ainda mais ousado. A câmera adota a postura distanciada de quem admira o caos à distância, sem empatia pelos personagens – conforme atestado pela conclusão. Ironicamente, o discurso reproduz o comportamento criticado em sua anti-heroína. As metáforas, ambiguidades e sugestões estão fora de cena: sabemos muito bem que Emma cometeu todos os crimes, porque o autor antecipa, revela e confirma cada ato da jovem. Tornamo-nos meros cúmplices da subversão infantil, numa sucessão de atos equivalentes e repetitivos.
Já os personagens se convertem em caricaturas involuntariamente cômicas de grupos sociais: David é descrito como “DILF”, e Lowe coloca a si mesmo seminu em cena para ostentar os músculos; Sarah Dugdale encarna uma babá tão erotizada e agressiva que jamais manteria um emprego real, e a Dra. March (Patty McCormack) revela conhecimentos limitadíssimos de psicologia. O roteiro adora introduzir novos personagens, apenas para oferecê-los de isca à menina selvagem. A execução de planos tão complexos, sem testemunhas nem provas, soa absurda, porém menos improvável do que o desfecho encontrado pelo cineasta. O projeto recorre a uma simplificação extrema, ao limite da perda de sentido. A trilha sonora onipresente insiste no caráter sombrio da protagonista; os símbolos atingem um grau impensável de obviedade (a fumaça espessa na floresta em sinal de perigo, a carne mal passada em paralelo com a morte, a menina assassina lambendo uma faca), e pequenos indícios são filmados de perto, repetidos sem sutileza (a medalha, o ninho de marimbondos). Tara Maldita (título anacrônico para uma produção do século XXI) constitui uma forma de cinema para quem não sabe ver e, portanto, exige o reforço de evidências. Os produtores supõem um espectador pouco inteligente e pouco exigente.
Em paralelo, a montagem incorpora ferramentas televisivas incompatíveis com o cinema: a obra se inicia com flashes das cenas mais chamativas, incluindo incêndios e tiros – espécie de teaser para garantir que o público se mantenha preso ao canal. Uma vez concluída a colagem de “melhores momentos”, cabe apenas esperar que se concretizem. Já as cenas são cortadas de modo abrupto, anticlimático, em pontos onde provavelmente se inseriu algum intervalo comercial. De resto, a iconografia resulta óbvia e previsível: Emma é a única criança vestindo roupas pretas, ao lado de colegas com roupas claras (visto que ela representa o mal, perto de crianças boas); a casa possui corredores inexplicavelmente escuros, o quarto da menina traz poucas cores ou brinquedos. Acima de tudo, ela tem “cara de psicopata”, espremendo os olhos e sugerindo mau caráter. É triste se deparar com condução tão amadora, até porque Mckenna Grace tem demonstrado impressionante talento filme após filme. A jovem atriz proporciona o único desempenho aceitável do elenco, face a Lowe canastrão – basta ver a cena dos comprimidos lambidos. O diretor e ator se apropria de um material rico em termos de psicologia humana, porém entrega um filme B sem criatividade, esmero nem humor.
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concordo com a crítica a primeira versão é muito melhor e fiel ao livro. este filme poderia render muito mais porém ficou pobre, e mal construído. A garota é caricata demais. e o elenco muito fraco. E o diretor alterou muito a historia!
Eu me sinto aliviado quando vejo uma crítica que coloca em palavras exatamente o que achei do filme. Tudo tão óbvio, explícito, e com uma fotografia que remete a seriado de baixo orçamento. Vulgar é a palavra certa pra descrever esse filme, adorei essa crítica de um filme que odiei :)