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Sinopse

No verão de 1990, a democracia volta ao Chile. Em uma cidade isolada, Sofía, Lucas e Clara se preparam para o Ano Novo, enquanto lidam com seus primeiros medos e amores. Apesar de estarem longe dos perigos da cidade grande, estão perto dos da floresta.

Crítica

Como boa parte dos elementos de Tarde Para Morrer Jovem, a contextualização temporal se dá nas minúcias, por meio da observação dos cortes de cabelo, da música que faz a cabeça dos jovens e dos poucos equipamentos eletrônicos que surgem na telona. Recorrendo à sinopse, entende-se que a trama transcorre nos anos 90, quando o Chile experimentava o, por muitos, tão aguardado retorno à democracia. Numa comunidade isolada, sem luz elétrica, com provisões chegando às residências de maneira artesanal, vivem diversas famílias, sem que acessemos seus passados, embora pelo contexto e, igualmente em virtude da localização geográfica, a recusa de permanecer na metrópole as coloquem como possivelmente marcadas pela ditadura Pinochet num passado recente. Todavia, essas são suposições que não encontram embasamento em informações, mas na leitura de certas simbologias, tratadas pela realizadora como pilar deste filme que frequentemente soa despropositado e sem um norte.

Tarde Para Morrer Jovem é protagonizado por Sofia (Demian Hernández), adolescente que está naquela fase de afirmar-se, de reivindicar o seu espaço na vida adulta. Ela fuma, dirige e não perde oportunidades para deixar clara sua vontade de morar com a mãe na urbe. A vida campesina, com toques franciscanos, não parece lhe bastar. Lucas (Antar Machado), amigo de infância, possui abertamente uma queda por ela. O amor, portanto, é visto como uma fronteira a ser transposta nesse processo de crescimento. A cineasta Domingas Sotomayor Castillo não encadeia eventos emblemáticos, tampouco fundamenta a narrativa em algo sólido. Sua condução está mais disposta a observar o cotidiano e dele tirar filigranas. Nem sempre esse procedimento funciona a contento. Frequentemente, aliás, prevalece uma sensação de vazio, embora não haja prejuízos consideráveis à adesão aos personagens. Os jovens possuem bem mais espaço que os veteranos, estes meros coadjuvantes dos acontecidos.

De certa forma, o encerramento mitifica a floresta, promovendo abertamente a oposição com a concretude da cidade, embora haja poucos vislumbres desta. As metáforas permanecem acobertadas num cotidiano repetitivo, em que circunstancialmente acontece alguma coisa para tirar o longa-metragem do marasmo. Ignacio (Matías Oviedo) é o rival de Lucas pelo amor de Sofia, levando vantagem por ser mais velho, ou seja, por representar de fato o acesso, ainda que frugal, ao relacionamento na esfera adulta. Não à toa ambos possuem penteados iguais, se portam de forma parecida, somente com a diferença de idade os apartando. As configurações familiares são confusas, especialmente porque o roteiro não estabelece um percurso claro o suficiente para que o espectador sinta-se confortável. Essa nebulosidade perpassa o conjunto, ora potencializando a curiosidade daquilo que permanece escondido entre as coloquialidades, ora deflagrando o caráter contraproducente dessa indeterminação.

Domingas Sotomayor Castillo não nutre a trama com componentes fortes o bastante para substanciar o todo, sobretudo quando a trajetória de Sofia se encaminha à encruzilhada. A expectativa acerca da chegada da mãe para a festa de ano novo, a falta de diálogo com o pai, o fastio que a impele a tentar transformar a sua vida, são indícios de uma turbulência interna, tratada pelo longa com uma insuficiência concernente à espessura dramática. Tarde para Morrer Jovem exibe o domínio do instrumental cinematográfico por uma realizadora que sabe construir atmosferas, mas que aqui confia demasiadamente na simbologia, a despeito da fragilidade da ossatura, daquilo que pretensamente a sustentaria. Com diversas pequenas subtramas – como a da cadela perdida, “encontrada” em outra residência –, não chegam a configurar uma camada instigante, refletindo a predileção pela apresentação de situações comezinhas mediadas por mistérios afetivos e psicológicos que, apesar da qualidade do olhar, carecem de tônus.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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