Tarja Branca: A Revolução que Faltava
Crítica
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Sinopse
A partir dos depoimentos de adultos de gerações, origens e profissões diferentes, o documentário discorre sobre a pluralidade do ato de brincar, e como o homem pode se relacionar com a criança que mora dentro dele. Por meio de reflexões, o filme mostra as diferentes formas de como a brincadeira, ação tão primordial à natureza humana, pode estar interligada com o comportamento do homem contemporâneo e seu "espírito lúdico".
Crítica
Brincar não só é um direito da criança. É fundamental em qualquer idade. A esta conclusão que o espectador chegará após assistir a Tarja Branca – A Revolução que Faltava, bom documentário dirigido por Cacau Rhoden. Entrevistando diversos adultos de origens diferentes e idades díspares, o filme explora a temática da brincadeira com a seriedade que lhe deve. Com bons depoimentos e frases que geram reflexão, Tarja Branca tem tudo para gerar muitas conversas no acender das luzes do cinema.
O documentário é dividido basicamente em três eixos, com roteiro de Rhoden, assinado ao lado de Estela Renner e Marcos Nisti. O primeiro segmento prega a necessidade do tempo do brincar para a criançada e as lembranças dos adultos entrevistados a respeito deste momento lúdico em suas vidas. O segundo trecho é voltado ao lugar do brincar na vida dos adultos. Se este lugar existe e o quanto é importante se permitir um momento de descontração e diversão. Por fim, o documentário se embrenha na cultura popular brasileira, com os adultos que cantam, dançam e se fantasiam em festas de grande apelo das massas. Aí entram o carnaval, o maracatu e outras representações da cultura do País.
Cacau Rhoden entrevista uma gama extensa de personagens interessantes. Tem músico, ator, psicanalista, escritor, feirante, DJ, advogado, artista plástico. Alguns com visão bastante intelectualizada a respeito do ato de brincar. Outros que deixam apenas o sentimento desabrochar para levá-los de volta à infância. O filme é costurado apenas com os depoimentos dos entrevistados que vão dando conta do que Tarja Branca quer exprimir. A expressão que dá nome ao filme, inclusive, é proferida por um dos mais curiosos personagens do filme: Hélio Leites, artista que veste roupas vibrantes, óculos de plástico excêntricos e uma cabeleira revoltosa. Ao contrário dos remédios tarja preta, a tarja branca é o sentimento da brincadeira, um santo remédio, segundo ele.
Além de Leites, Wandi Doratiotto, José Simão, Domingos Montagner, Helder Vasconcellos e Lydia Hortelio são alguns dos nomes mais renomados ou conhecidos que apresentam sua visão da brincadeira como algo sério. Por vezes o filme peca exatamente por isso: ser intelectual demais a respeito de uma temática que deveria ser mais lúdica, espontânea, sensorial. A seriedade que o filme passa parece destoar do assunto a ser tratado. O retrato das crianças também surge como um problema. Em um filme sobre o ato de brincar, elas aparecem se divertindo, mas nunca ganham voz. Como se elas não pudessem contribuir em um tema que lhes diz total respeito. Outro ponto problemático é o terceiro ato, que mergulha na cultura popular de tal forma que todo o segmento soa como outro filme.
Interessante pela brasilidade que transborda de sua trilha sonora e pelos personagens que busca, Tarja Branca guarda momentos de reflexão impagáveis. Você sairá do cinema se perguntando se a sua versão criança estaria satisfeita com os caminhos que você deu a sua vida. Ou se a sua profissão é algo que lhe deixa feliz ou apenas é uma ocupação em busca da sobrevivência. Ou se você está se permitindo um tempo para respirar e brincar. São diversos os pensamentos que o longa-metragem de Cacau Rhoden desafia o espectador a se fazer. E isso perdoa muitos pecadilhos que o cineasta acaba cometendo em seu documentário.
Rodrigo de Oliveira, vamos brincar? Que tal brincar de apoiar em vez de dar nota 3 a um filme que merece 5?