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Sinopse

Um bebê é criado por gorilas após a trágica morte de seus pais. Os animais passam a tratá-lo como filho. Ao crescer, ele se torna o rei da selva e a principal esperança da biodiversidade local contra mercenários que ali se agrupam.

Crítica

Criado pelo escritor norte-americano Edgar Rice Burroughs (o mesmo autor de John Carter, 2012), Tarzan surgiu pela primeira vez em um livro de 1912 – ou seja, há mais de um século. Durante esse tempo o personagem protagonizou inúmeras incursões pelo universo pop, principalmente no cinema. O primeiro filme foi Tarzan dos Macacos (1918), com Elmo Lincoln no papel principal. Pouco mais de uma década depois, foi a vez do atleta olímpico Johnny Weissmuller ser o novo rosto do homem-macaco em Tarzan: O Filho das Selvas (1932), papel que repetiria em outras 11 continuações! Mais recentemente, Christopher Lambert foi o último a encabeçar uma adaptação digna em Greystoke: A Lenda de Tarzan (1984), longa que chegou a receber 3 indicações ao Oscar. Depois de tudo isso, ainda tivemos a incrivelmente bem-sucedida animação da Disney, Tarzan (1999), que faturou quase US$ 500 milhões nas bilheterias de todo o mundo. Então, qual a razão de ser deste Tarzan: A Evolução da Lenda, que chega agora aos cinemas? Difícil responder.

A mudança deste Tarzan para os anteriores não é apenas tecnológica – como o 3D do título anuncia espalhafatosamente e sem muita razão, uma vez que esta febre já dá sinais de exaustão – mas também de conteúdo. A Evolução da Lenda é, antes de mais nada, absurdamente raso e simplista em suas intenções. Muito se deve ao fato de se tratar de uma produção alemã – país de pouca tradição no gênero – escrita e dirigida por Reinhard Klooss, o mesmo do infantil Animais Unidos Jamais Serão Vencidos (2010). Além do básico que todo mundo conhece – garoto é abandonado no meio da África após a morte dos pais e criado por gorilas – as invencionices que o roteiro propõe soam tão descabidas e fora de contexto que, além de repetirem velhos clichês cansados, fazem com que o embrulho passe a cheirar mal, a despeito de um visual inicialmente atraente, porém pouco consistente.

Lançado ainda no ano passado primeiro na Rússia e depois em alguns países europeus, do Oriente Médio e em Hong Kong, Tarzan: A Evolução da Lenda chega agora ao Brasil sem previsão de estreia nos Estados Unidos – o que, é preciso concordar, é pouco provável que aconteça. Afinal, trata-se de uma obra dedicada quase que exclusivamente aos pequenos em férias, em busca de distração rápida e sem maiores consequências. A ação é centrada quase que exclusivamente na selva, com seu visual inexplorado de paraíso perdido, obviamente longe da realidade atual. Para se ter uma ideia, a trama começa ainda na pré-história, quando um meteoro teria caído na Terra, causando o extermínio dos dinossauros. Milhares de anos depois, é atrás dessa preciosidade vinda do espaço que dois cientistas se deslocam até o coração do continente africano. Quando um deles morre num acidente, o filho sobrevive ao ser acolhido pelos animais. Mais duas décadas se passam, e agora será a filha do outro explorador, uma garota chamada Jane, que não somente irá encontrá-lo, como também colocar todo aquele santuário em perigo.

E não que seja essa a vontade dela. Acontece que foi enganada por um vilão de histórias em quadrinhos que quer ficar rico com as possibilidades de lucro que o mineral extraterrestre poderá lhe oferecer. Assim, Jane e Tarzan terão não somente que defender a natureza, como também dar um fim a essa ameaça devastadora. Não há nada sobre o conflito entre civilização e selvageria, muito menos a ida de Tarzan à cidade e sua descoberta pela sociedade. Tudo é muito óbvio, previsível e rapidamente solucionado, sem necessidade de torcida. É um filme, afinal, ao qual se assiste sem sustos, sejam eles por surpresas ou mesmo de gratificações.

Como se pode perceber, tudo é extremamente maniqueísta em Tarzan: A Evolução da Lenda – o bandido é mal até o fim, os mocinhos são puros e inocentes. Outro incômodo é a falta total de humor, com a ausência inclusive de coadjuvantes engraçadinhos que ajudassem no desenrolar da trama. Busca-se, obviamente, o realismo, com resultados próximos àqueles vistos em títulos como o frustrante O Expresso Polar (2004) – a técnica de captura de movimento é a mesma, inclusive. Mas se até as peripécias e o visual deslumbrante deste cenário foram melhor explorados na produção da Disney quinze anos atrás, pouco mais pode se esperar deste título que promete pouco, e entrega menos ainda.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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