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Sinopse

Desde o primário, cinco amigos têm um hábito curioso, que realizam pelo menos uma vez ao ano: brincar enlouquecidamente de pega-pega, correndo em uma partida alucinante para ser o último homem de pé ao final do jogo, arriscando seus empregos e relacionamentos. Neste ano, que coincide com o casamento do jogador invicto da trupe, eles farão de tudo para derrubá-lo nesse momento de vulnerabilidade.

Crítica

Baseado num artigo do Wall Street Journal, Te Peguei aborda um grupo de amigos que brinca de pega-pega há trinta anos. Claro que as tintas cômicas trazem consigo certo exagero, mas a pegada do diretor Jeff Tomsic trata de elevar tudo a alguns tons acima do que o gênero pressupõe, muitas vezes incorrendo numa vulgarização. Justamente por ser inspirado numa história real, o filme poderia ser menos histriônico e simplório, mas, mesmo assim, dá conta de agradar ocasionalmente. A estratégia básica é filmar os momentos de perseguição como se eles fossem similares ao de um exemplar de ação. Os personagens se "caçam" em situações inusitadas, como em funerais e afins. Hogan (Ed Helms) se autointitula o “espírito da brincadeira”, por ser aquele que mais se esforça para manter viva a amizade de infância dos que acabam entrando nessa onda. A ideia de preservar a criança interna não apenas guia os acontecimentos, mas é desnecessariamente verbalizada com frequência, num processo de reiteração da mensagem (como se fosse necessário).

O pega-pega não é constante, acontece somente nos meses de maio, nas últimas três décadas. Bob (Jon Hamm), proeminente empresário do ramo dos seguros, é quem traz consigo a jornalista Rebecca (Annabelle Wallis), responsável por registrar tudo à imprensa. Supostamente, tal personagem deveria funcionar como uma espécie de representante do espectador, já que é a única alheia à relação central. Todavia, ela serve de mero penduricalho no longa-metragem, sequer tendo uma ocasião de importância. Te Peguei alcança seus melhores instantes ao mostrar as verdadeiras barbaridades às quais todos estão dispostos para preservar a tradição que os une. Portanto, o filme atinge a graça quando detido nos planos mirabolantes, especialmente a partir da entrada em cena de Jerry (Jeremy Renner), o campeão invicto, aquele que, desde os tempos da escola, nunca foi pego. Ocupado por conta dos preparativos de seu casamento, portanto aparentemente vulnerável, ele terá de lidar com os visitantes que desejam lhe derrotar.

Te Peguei, a despeito das boas sacadas, rapidamente cai numa banalidade contraproducente, basicamente repetindo métodos e ocorrências. Nesse percurso tolo, os personagens perdem espessura gradativamente e nem mesmo acertos de contas com o passado funcionam como deveriam, sendo praticamente descartáveis. Nesse sentido, são bem subaproveitadas a energia excessiva de Anna (Isla Fisher), a presença curiosa de Cheryl (Rashida Jones) e a vontade desesperada de Lou (Steve Berg) de participar do pega-pega. Aliás, Kevin Sable (Hannibal Buress), parte da turma principal dos jogadores, tem um papel ínfimo, se limitando a observar certas coisas e a ficar embriagado numa recepção. Corroborando esse empilhamento de circunstâncias inusitadas, pretensamente jocosas, o fato da mãe de Hogan, Linda (Nora Dunn), dar em cima de um dos colegas do filho é totalmente deslocado, pois um traço definidor, sem dúvida, mas sem qualquer relevância, nem como gatilho cômico.

Te Peguei ainda investe forçosamente num aspecto dramático, próximo ao fim, tentando alavancar a expectativa quanto à veracidade dos relatos, afinal de contas, mentiras são instrumentos valiosos na estratégia do pega-pega. Todavia, Jeff Tomsic não consegue criar incertezas genuínas. Jeremy Renner está bem à vontade num papel que, de certa maneira, satiriza boa parte dos personagens que ele interpretou recentemente. É como se o ator vivesse um espião, agente secreto ou o que os valha, sempre um passo adiante dos demais que o tem como meta. Jon Hamm, também da ala dos não comediantes, sai-se bem até que o filme diminuía significativamente sua representatividade. Os demais, atores e atrizes acostumados à comédia, não comprometem, mas tampouco sobressaem, fazendo o básico. E para quem ficou com a sensação de tudo ser fantasioso, há a famigerada montagem com gravações reais dos participantes pregando peças para vencer o pega-pega. Um escudo que não diminui as falhas conceituais.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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