Crítica
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Sinopse
Na adolescência, Jesus enfrenta problemas escolares ao lado de seu melhor amigo, Lázaro. Para que ninguém suspeite de sua natureza messiânica, ele pretende se tornar uma espécie de bad boy do colégio.
Crítica
O grupo humorístico Porta dos Fundos descobriu um filão para os seus especiais de Natal. Em vez de se concentrar em histórias típicas da época, com famílias imbuídas do espírito natalino e pessoas repensando mesquinharias ao prometer coisas boas para o ano prestes a nascer, os comediantes se voltam à história de Cristo. No entanto, as abordagens são nada ortodoxas e geralmente corrosivas. Em Te Prego Lá Fora, primeira animação dessa estratégia que já contou com Especial de Natal: Se Beber, Não Ceie (2018), A Primeira Tentação de Cristo (2019) e Teocracia em Vertigem (2020), o time reafirma uma capacidade de metralhar piadas rápidas e incisivas, mas não faz algo tão diferente do que tinha apresentado nesses especiais de antes. Aqui Jesus (voz de Rafael Portugal) é um menino de 13 anos de mudança a uma nova escola. Criado por Fábio Porchat, o programa com cerca de 30 minutos parte de uma brincadeira com os filmes norte-americanos de adolescentes, tanto que o protagonista é apresentado aos grupinhos da escola por seu melhor amigo, Lázaro (voz de Fábio de Luca). Temos os nerds, as líderes de torcidas, os chatos brutamontes e...os vários leprosos.
Jesus está num dilema, pois não consegue controlar seus poderes e ainda vê Herodes (aqui o diretor da escola que conta com a voz de Fábio Porchat) tentando achar o Messias entre os alunos. Aliás, uma das grandes derrapadas do roteiro é justamente a negligência da falta de controle dos poderes divinos assim que Jesus precisa começar a agir completamente diferente para não ser descoberto pelos colegas. E mesmo em meia hora temos diversas piadas repetidas. E tal estratégia não parece o melhor caminho para torna-las memoráveis. A principal delas é a que diz respeito justamente aos adolescentes leprosos, frequentemente vistos perdendo literalmente as mãos, sangrando naturalmente e sofrendo preconceito de todos os demais grupos. A estratificação escolar passa a ser algo completamente irrelevante quando o cenário está desenhado, sobretudo por que o diretor Rodrigo Van der Put basicamente se esquece de observar os personagens a partir desses grupos específicos aos quais pertencem. Já a tal busca pelo Messias faz com que Jesus precise se passar por um garoto problemático a fim de que ninguém suspeite de sua filiação divina. É aí que o curta se torna comum.
Claro que há um bom ímpeto transgressor na condução de personagens bíblicos por situações controversas, como Jesus num prostíbulo ou Maria (voz de Thati Lopes) sendo uma mãe de broncas homéricas e um linguajar pouco associado à figura santificada no cristianismo. Então, o questionamento que fica é: o que está por trás desse "sacrilégio"? Seria Te Prego Lá Fora um primo-irmão de A Vida de Brian (1979), do também humorístico Monty Python, em que pesem as diferenças de atitude? Ou a animação estaria mais alinhada a um protocolo comercial que acaba tendo sempre o mesmo roteiro: o Porta dos Fundos lança um especial com altas doses de "profanação" e espera justamente as respostas iradas de grupos religiosos incapazes de desatarraxar ícones dos espaços de adoração? Trocando em miúdos, a vontade é brincar com as hipocrisias escondidas sob preceitos dogmáticos, por meio da humanização de personagens adorados, ou garantir a renovação de uma polêmica com os quadros sociais sisudos e dispostos a fazer barulho contra o Porta dos Fundos? De todo modo, a nova incursão pelo humor que corrói a tradição aponta para o esgotamento dessa fórmula.
Mas, não é apenas o esgotamento da fórmula que incomoda. Uma vez que a crítica tem os mesmos elementos vistos nos outros especiais, o que sobra da transgressão perceptível nos primeiros trabalhos? Já que sabemos exatamente o que esperar, os tipos de piadas e personagens que serão utilizados, será mesmo que o resultado ainda pode ser considerado potencialmente subversivo? Além disso, Te Prego Lá Fora exaure rapidamente as circunstâncias, reitera a piada sobre leprosos como se a simples repetição fosse tornar aquilo engraçado e parece que não sabe o que fazer quando Jesus se transforma num bad boy. As citações estão ali, à disposição, como o banho de sangue motivado por uma vingança que remete à cena do baile de Carrie, a Estranha (1976), na qual a protagonista igualmente humilhada dá vazão a seus poderes especiais promovendo uma carnificina na escola. Quanto aos personagens, chama a atenção negativamente a construção de Herodes, desenhado como um diretor tirano e....homossexual. Qual é a vantagem de requentar uma abordagem tão ultrapassada, a do vilão gay que coloca medo nas pessoas ao expressar seu desejo, ainda mais por cima tendo atitudes pedófilas, como ele faz por aqui? Com isso, não estaria o grupo apenas reforçando um estereótipo negativo?
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