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Crítica


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Sinopse

Estados Unidos, anos 1970. Ted Bundy é responsável pela morte de, pelo menos, 30 mulheres em sete diferentes estados. Sua namorada, no entanto, não tinha conhecimento de seus crimes.

Crítica

Um dos mais temíveis assassinos em série dos Estados Unidos, Ted Bundy (Zac Efron) é desenhado em Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal como um sujeito charmoso, cativante e de retórica convincente. Ele não se encaixava, portanto, nos estereótipos vulgarmente associados aos bandidos, o que plantou diversas dúvidas na opinião pública quando brutais assassinatos de mulheres foram a ele atribuídos. Todavia, o cineasta Joe Berlinger, ao invés de observar esses núcleos facilmente engambelados pela lábia do homem, prefere empurrar uma bruma de incerteza ao espectador, algo ineficiente, para começo de conversa, por conta da base factual. Embora a recusa de tachar a culpabilidade do protagonista intente criar um lugar ambíguo, tal expediente é malfadado, não apenas pela inaptidão e a fragilidade da teia criada com tal propósito, mas, sobretudo, em virtude do pré-conhecimento dos desdobramentos reais daquilo que está na telona. É um esforço bem inútil.

Tendo à disposição vários recortes possíveis, o cineasta privilegia o envolvimento de Ted com Liz (Lily Collins). A primeira parte de Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal entremeia a demonstração do início de um relacionamento aparentemente ideal e a agitação da imprensa com o número crescente de corpos femininos descartados após atos bárbaros como estupros e mutilações. De supetão, sem cerimônia, há o primeiro encarceramento por suspeita de sequestro. Inexiste uma observação acurada dos evidentes torvelinhos emocionais que sobrevém ao baque. A esposa, mesmo que metaforicamente perca o chão sob os pés com a prisão e as acusações ao cônjuge “perfeito”, não sustenta essa agitação interna. O papel é gradativamente reduzido àquela que sofre e o trabalho de Collins não é consistente o suficiente nas minúcias, o que torna ainda mais anódina uma parte essencial do conjunto, tendo em vista a abordagem do caso escolhida pela direção.

Zac Efron sai-se bem como o indiciado capaz de atrair jovens incautas para um julgamento com seu jeito autoconfiante e carismático. O paulatino desinteresse de Liz, vide as ligações telefônicas rápidas, a pouca disposição a conversar com o enjaulado, não têm amparo num panorama emocional devidamente deflagrado. As oscilações desse vínculo tornado central por Joe Berlinger não são enquadradas como decorrência da insólita situação, mas simplesmente dispostas sem muito critério a fim de manter vivaz o interesse no amor espreitado pela violência. Pela insistência nisso, perde-se de vista um manancial de componentes que passam meramente pela tela, como a influência da mídia (voraz por audiência) a uma espécie de mitificação do assassino, a atuação da polícia e mesmo os efeitos disso na enteada que cresceu sob a égide de um homem processado por retalhar mulheres. Nem mesmo a perspicácia de Ted ganha a atenção merecida nesse filme.

Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal se restringe a empilhar ocorrências relativamente fieis aos fatos, mas sem o ímpeto de costura-las para ressaltar determinados pontos essenciais. A dramaturgia esmorecida pela direção apenas burocrática, as constantes adições de elementos sem contornos densos, os desperdícios consecutivos, tudo isso depõe contra o resultado. Zac Efron carrega praticamente nas costas o longa-metragem, uma vez que a coadjuvância de Lily Collins é ineficiente, pelos motivos supracitados, e a entrada em cena de nomes conhecidos como Jim Parsons e John Malkovich pouco adiciona efetivamente. A palidez de toda a sequência do tribunal – representando o primeiro julgamento televisionado ao vivo dos Estados Unidos – é sintomática do tom prevalente nessa produção esmerada somente no que tange aos figurinos que remontam aos anos 70 e 80. Se na realidade não restam dúvidas quanto à culpa, no longa optou-se por estabelecer um suspense trivial que não chega a instigar ou a deixar uma insistente pulga atrás da orelha.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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