Crítica
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Sinopse
Alexander Meier luta pela sobrevivência da empresa na qual trabalha. Quando o novo CEO é nomeado, ele se mete numa ferrenha luta por poder que o coloca diante da única possibilidade de vencer: a vingança.
Crítica
Uma das coisas que mais chama atenção em Temporada de Caça, longa que chega ao Brasil como parte da programação do Panorama Digital do Cinema Suíço – e sem previsão de lançamento comercial do país, infelizmente – é o fato de ser escrito e dirigido por mulheres, apesar de se tratar de uma história absolutamente masculina. Isso desperta curiosa, pois tem se tornado cada vez mais frequente o questionamento de obras de temática feminina realizadas por homens – como o recente A Vida Invisível (2019), escrito e dirigido por Karim Ainouz, que contou também com Murilo Hauser como parceiro de escrita. O oposto, no entanto, ainda é raro. Mas Sabine Boss e a co-roteirista Simone Schmid se saem bem na tarefa, não apenas ao colocar em evidência dois protagonistas masculinos de forte impacto na tela, mas também com reviravoltas calculadas e tomadas de decisões que deixam claro estarem acima de uma mera questão de identidade ou sexo.
Primeiro longa de Sabine Boss em quase uma década, após um período dedicado à séries de televisão e telefilmes, conta com Simone Schmid (que, além de roteirista, é também diretora de fotografia, o que explica muitas das soluções visuais da história) para mostrar o que acontece a um alto executivo de uma empresa fabricante de automóveis quando o CEO da companhia é substituído de forma inesperada. Com a chegada de Hans Brockmann (Ulrich Tukur, de Em Pedaços, 2017), a vida de Alexander Maier (Stefan Kurt, de Meninas Não Choram, 2002) começa, pouco a pouco, a ser revirada de cabeça para baixo. Mas não chega a ser um confronto direto: está mais na linha da agressividade passiva, que aos olhos de todos ao redor pode aparentar pura cortesia, mas que por baixo dos panos pode ser tão sangrenta quanto a pior das batalhas.
Justamente por isso, o confronto entre eles não é declarado – ao menos, não de imediato. Maier se espanta com a mudança, ainda mais por ser alguém de fora daquele ambiente corporativo. Quando a mentalidade de Brockmann passa a ser revelada, indicando um desapego à antigos costumes já enraizados, o funcionário da casa não hesita em demonstrar sua resistência às mudanças. Esse é um tema tratado com cuidado tanto pela realizadora como pelos atores, que em momento algum se aproximam do duelo pelo simples prazer do embate: o que se passa entre eles é quase como um jogo de xadrez, com movimentos muito pensados e jogadas estratégicas que deixam claro numa análise não centrada apenas no que está em discussão, mas também voltada às consequências e seus possíveis desdobramentos.
Se de uma estranheza inicial os dois passam a se ver como aliados necessários – “eu preciso de você”, “você está comigo ou não?” e outras frases de efeito são proferidas de ambos os lados – acompanha o aumento do vigor da narrativa o progressivo deixar das máscaras de lado, quando as verdadeiras intenções de cada um começam a se revelar sem maiores ressalvas. O modo como se comportam no mundo dos negócios é ilustrado a partir de como se ocupam em seus horários livres: enquanto um possui em casa um quarto amplamente tecnológico para o exercício da caça – “o que me interessa é a mira e a precisão, e não o sangue e a morte gratuita”, declara, para espanto do outro – o chefe prefere sair em campo com arma em punho, em busca justamente das vísceras que nas relações do dia a dia vislumbra apenas de modo figurado.
Com dois atores no domínio dos seus jogos, Temporada de Caça é também um acerto para as profissionais por trás das câmeras, ocupadas com uma trama que se passa em poucos ambientes e com um número limitado de personagens, mas que nem por isso deixa de apresentar o nível correto de tensão, brincando com uma dinâmica precisa e capaz de surpreender a cada novo desenlace. Com isso, consegue se manter em alta mesmo diante do seu desfecho agridoce, sem vencedores nem derrotados, mas ainda assim capaz de celebrar a vitória planejada. Aquela que agora impossibilita qualquer comemoração, mas que irá gerar efeitos muito mais consistentes e duradouros. É como a onda que se anuncia com uma marola: num primeiro momento parece ter nada a dizer, mas apenas o tempo conseguirá revelar sua verdadeira força.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 7 |
Leonardo Ribeiro | 7 |
MÉDIA | 7 |
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