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Crítica


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Sinopse

Chefe da seção de imigração do Rio de Janeiro, Segismundo tem como missão evitar que nazistas entrem no Brasil. Diante de um ex-ator polonês, ele desconfia que pode estar sendo enganado.

Crítica

Após uma série de sucessos de bilheteria, o diretor Daniel Filho – um dos mais apaixonados defensores do cinema brasileiro – entregou ao público seu trabalho mais maduro e introspectivo: Tempos de Paz, com Tony Ramos e Dan Stulbach à frente do elenco. Os dois, aliás, eram também os protagonistas da peça Novas Diretrizes em Tempos de Paz, em que o filme se baseia. E a boa performance deles conferida nos palcos se mantém na tela grande, fazendo deste aspecto o ponto mais forte da obra. Outra figura que foi mantida nessa transição foi o autor Bosco Brasil, que assina o roteiro da versão cinematográfica. E esse cuidado um pouco exagerado com a origem do texto termina por ser um deslize – o que vemos é um (bom) teatro filmado, e não mais do que isso. Ou seja, a linguagem não foi recriada.

Daniel entende as diferenças entre cinema e teatro. Já adaptou peças elogiadas, como A Partilha e A Dona da História (o melhor longa dele até o momento), e sabe que cada meio exige formas de comunicação específicas. Porém, em Tempos de Paz, esta consciência esbarrou num respeito desnecessário à fonte. Tanto na peça quanto no filme temos dois homens discutindo por cerca de 90 minutos, alternando momentos de dor e felicidade, de supremacia e derrota. O longa traz mais personagens e se estende num drama apenas mencionado anteriormente (num papel interpretado pelo próprio Daniel Filho, que deveria se conter por trás das câmeras), mas tudo isso não passa de distração. O que importa é o embate entre Segismundo (Tony), um agente da alfândega, e Clausewitz (Stulbach), um imigrante polonês recém chegado da Europa. Estamos em 1945, e a Segunda Guerra Mundial está terminando. E quando um judeu se encontra com um ex-torturador da polícia política do Governo Vargas muitas lembranças vêm à tona em ambos os lados.

Depois dos campeões de público Se Eu Fosse Você (2006) e Se Eu Fosse Você 2 (2009), os dois com mais de três milhões de espectadores (o último é o recordista nacional dos últimos 20 anos, tendo ultrapassado a casa dos 6 milhões), Filho realizou uma obra bastante pessoal, mas que não encontrou ressonância em sua audiência habitual. Tempos de Paz teve pouco mais de 100 mil espectadores, muito aquém inclusive dos seus longas até então menos vistos, como Muito Gelo e Dois Dedos D’Água (2006) e Primo Basílio (2007), ambos vistos por mais de 500 mil pessoas. Um resultado assim indica duas coisas: um amadurecimento do realizador, que não fez concessões em nome de uma bilheteria mais expressiva, e uma falta de vontade da plateia, que parece só se satisfazer ao receber sempre a mesma coisa.

Tempos de Paz não é um filme fácil. Muito pelo contrário, tem momentos dolorosos e de difícil digestão. E se a trama aparentemente monótona – afinal, tudo se resolve apenas na conversa – por instantes cansa pela estrutura cíclica e um pouco repetitiva, a entrega dos intérpretes faz a diferença, mostrando dois atores em completo domínio do jogo. E no que diz respeito ao ‘fracasso’ de Daniel Filho, ele certamente não está preocupado. Seu próximo projeto, previsto para estrear em janeiro de 2010, será a cinebiografia do médium Chico Xavier. Alguém duvida que será outro fenômeno de bilheteria?

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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