Crítica
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Sinopse
A palavra "Tenet" aparece em várias cenas de crimes e atentados. Agentes de sete nações distintas buscam a verdade num mundo de espionagens e traições constantes.
Crítica
O tempo é um elemento de vital importância no cinema de Christopher Nolan. Até em seus projetos mais tradicionais, como o oscarizado Dunkirk (2017), o passar dos minutos tem relevância fundamental para o desenrolar da trama. O que dizer, então, de alguns dos seus títulos mais discutidos, como a revelação Amnésia (2000) – cuja narrativa se dava de trás para frente – A Origem (2010) – cuja relação com o espaço ganhava novos ares de acordo com a perspectiva assumida – ou Interestelar (2014) – no qual presente e passado se confundiam na busca por um significado? Pois bem, Tenet, seu décimo primeiro longa como diretor, radicaliza muitas das questões apontadas em seus trabalhos anteriores, na mesma proporção em que as simplifica na medida em que se volta a uma audiência mais ampla e menos exigente. É cinema para as massas, sem se eximir de deixar impressa a marca do realizador. Com tudo de bom – e de ruim – que disso possa resultar.
Atenção: se você deseja evitar spoilers, melhor parar por aqui a leitura e voltar somente após já ter assistido ao filme
Tenet é uma palavra que, se percebida de modo tradicional ou no sentido inverso, continua com a mesma leitura. Um palíndromo, portanto. Tão adepto da forma quanto do conteúdo, Nolan constrói a estrutura de seu filme tendo essa concepção em mente. Pois tenet é também o código para entendimento de tudo que o filme se propõe a contar, em um frágil equilíbrio entre inovação (alardeada ao excesso) e consenso (disfarçado na mesma medida). Até a sua metade, o que se acompanha é algo não muito diferente do que outros thrillers similares já se propuseram antes. Porém, deste ponto em diante, a própria trama passa a andar em sentido reverso, literalmente revisitando muitos dos lugares vistos há pouco, porém agora sob outros pontos de vista. A proposta, como não poderia deixar de ser em um caso como esse, é intrigante. Porém, o mistério que leva a tal questionamento se esvai rapidamente através de um didatismo impressionante – e, na maior parte das vezes, completamente desnecessário. Lembra do citado A Origem, quando Cobb (Leonardo DiCaprio) explica à recém-chegada Ariadne (Ellen Page) o conceito no qual os personagens operam? Pois bem, imagine esses mesmos esclarecimentos, porém repetidos numa frequência quase irritante. É como se o diretor fizesse questão de não permitir que nenhuma dúvida paire a respeito do que está querendo dizer.
E qual é, afinal, a grande ideia por trás de Tenet? Nada muito engenhoso, enfim. Essa dúvida é eliminada em uma sequência até um tanto enfadonha – inclusive, é vista quase na íntegra no trailer de divulgação, quando a bala entra na arma, ao invés do contrário, que seria o esperado. Sim, uma cientista com cara de estudante universitária (Clémence Poésy, de Harry Potter e o Cálice de Fogo, 2005) é convocada para acabar com a confusão do protagonista, o agente do FBI vivido por John David Washington (que ainda tem muito o que percorrer até alcançar o carisma e talento do pai, Denzel). E sem muitos rodeios – até para não confundir demais a audiência – ela detalha que se trata de algo descoberto através de uma fissão nuclear capaz de alterar a entropia de determinados objetos. A partir disso, estudos continuaram até que seres vivos fossem capazes de realizar o mesmo. Ou seja, ao invés de ir para frente, voltar atrás. Uma decisão do presente, portanto, não irá afetar mais somente o futuro, mas também o passado, caso assim se deseje.
Não se trata de uma óbvia viagem do tempo – isso seria banal demais, imagina-se. Dessa forma, o que se vê, ao menos na maior parte do enredo, são os personagens interagindo com eles mesmos, porém em momentos diferentes (os acompanhamos primeiro na ida, e depois na volta). O argumento para que tais reversões se justifiquem, então, é ainda mais óbvio: um milionário malvado, insatisfeito com o mundo, decide acabar com o mesmo, levando tudo e todos consigo. A única maneira de impedi-lo seria retornar ao ponto em que este objetivo foi estabelecido, tendo que retornar para interferir naquilo que já aconteceu para que, então, possa ser possível mudar também o futuro. Enquanto Kenneth Branagh se diverte com um tipo maquiavélico repleto de cacoetes e exageros, a esguia Elizabeth Debicki sofre ao ter que lidar com uma figura estereotipada, da mulher sofrida capaz de tudo para escapar das mãos do homem que a trata com violência e desrespeito. Frases clichês, como “se eu não a tenho, ninguém mais a terá” povoam o relacionamento dos dois e tentam se validar enquanto justificativa para o que se vê desenrolar em cena.
Ao olhar apenas para cima, Nolan acaba tropeçando em questões bastante triviais. Entre elas, a de configurar uma simples história de amor. Colocar Washington e Debicki como um possível casal – ele empreende essa missão para salvá-la do marido abusador – apenas revela uma cegueira quanto à total falta de química entre ambos, o que torna a tarefa do espectador em acreditar nas motivações dele ainda mais árdua. Além disso, há um Aaron Taylor-Johnson chegando atrasado ao próprio filme – o que ele está fazendo, afinal? – e uma participação mínima, porém já esperada, do sir Michael Caine, quase um amuleto do cineasta. Entre mortos e feridos, quem se salva é Robert Pattinson, investindo em uma bem-vinda versatilidade que faz de Neil o elemento mais instável e inesperado dessa jornada. Se dependesse apenas dele, a experiência, se não capaz de provocar espanto e admiração, talvez conseguisse se mostrar ao menos divertida. Mas como lhe cabe apenas um posto de coadjuvante, resta pouco a ser feito. E assim Tenet mira alto, aparentemente esquecendo do básico: afinal, tudo que sobe, uma hora também desce.
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