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Crítica


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Sinopse

Michael é um autor vencedor de um Prêmio Pulitzer hospedado em um hotel em Paris, após ter lançado seu livro mais recente. Faz pouco tempo desde que ele deixou sua esposa, Elaine, e está tendo um tempestuoso caso com Anna, uma jovem e ambiciosa jornalista, que sonha em fazer carreira com livros de ficção. Ao mesmo tempo, Scott, um empresário, está na Itália para roubar ideias de design para casas. Odiando tudo que é italiano, Scott vai até um café com estilo americano, para procurar algo familiar para comer. Lá, ele encontra Monica, uma bela mulher de Roma, que está próxima de se reencontrar com sua filha, que foi sequestrada. No entanto, ela teve seu dinheiro roubado, e Scott, ao saber disso, se sente obrigado a ajudá-la. Em Nova York, Rick e Julia se encontram em meio a uma batalha judicial pela guarda do filho do casal. Agora, essas três histórias, cada uma com seus mistérios, irão se cruzar.

Crítica

Paul Haggis se tornou um nome influente em Hollywood ao ter duas obras premiadas com o Oscar de Melhor Filme em anos consecutivos. Primeiro foi Menina de Ouro (2004), que foi dirigido por Clint Eastwood a partir de um roteiro seu, e depois Crash: No Limite (2004), lançado no ano seguinte e pelo qual ganhou duas estatuetas, como produtor e roteirista (além de ter sido indicado como diretor). Tal feito o tornou um nome quente na meca do cinema, consagrando-o como objeto de desejo de nove entre dez atores em busca de uma grande oportunidade. Isso nos leva à Terceira Pessoa, seu mais recente trabalho como cineasta, um filme que chama atenção pelo elenco repleto de nomes conhecidos, mas que alcança muito pouco diante dos talentos envolvidos, mais ou menos como tudo que fez desde sua consagração com os prêmios da Academia.

Três é o número que rege a ação em Terceira Pessoa. Para começar, somos apresentados a uma trinca de histórias de amor em três cidades diferentes. Julia (Mila Kunis) mora em Nova York e está em uma batalha para conseguir acesso ao filho, cuja guarda é do ex-marido (James Franco). Michael (Liam Neeson) é um escritor tentando concluir seu próximo trabalho em um quarto de hotel em Paris, ao mesmo tempo em que tenta lidar com a ex-mulher (Kim Basinger) e com a nova namorada (Olivia Wilde). E Scott (Adrien Brody) é um homem de negócios em Roma que se envolve com uma imigrante do leste europeu (Moran Atias), sem estar desligado por completo da ex-companheira (Maria Bello). As ligações entre eles vão se desvendando aos poucos, porém de modo tão frágil quanto forçado. E é neste ponto em que a credibilidade do projeto começa a fraquejar.

Tudo é muito simples e linear em cada uma das histórias, e seus pontos de interesse não resistem a uma análise mais profunda. Os protagonistas possuem traumas a serem superados muito similares entre si, e suas motivações não vão além da superfície. Michael quer investir na nova relação, mas ainda tem sentimentos fortes pela ex-esposa, enquanto que a garota com a metade de sua idade tanto se aproxima quanto se afasta dele, sem que nada de concreto aconteça entre eles. Julia precisa se desculpar por um erro quase fatal, mas faz tudo errado e falha a cada nova tentativa, ao passo que o pai da criança parece estar movido apenas por uma vingança gratuita. Scott, por outro lado, desenvolve uma atração quase inexplicável por essa mulher que faz tudo para afastá-lo. Até que ponto ela – ou todos eles, na verdade – estão sendo sinceros? A questão, que deveria ser pertinente para nos manter atentos aos acontecimentos, acaba sendo tratada com tanto descaso que, quando percebemos, nem mais nos importamos com ela.

Nem tudo é desperdiçado em Terceira Pessoa, no entanto. É muito bom reencontrar Liam Neeson em um personagem que não precisa arrombar portas aos pontapés nem atirar em pessoas no primeiro contato. Sua composição é sensível, e se seu episódio tivesse um desenvolvimento mais detalhado seria capaz de realmente nos envolvermos com ele. Kim Basinger (em uma participação quase especial) e Adrien Brody, mesmo à frente de tipos que carecem de profundidade, conseguem fazer o espectador se lembrar, ainda que por instantes, porque são artistas vencedores do Oscar, fazendo uso com efeito de muita empatia e sinceridade. Mas nem tudo são flores, e basta verificar o descaso com que Franco se impõe em cena e a falta de preparo de Kunis para fugir do clichê ao qual está entregue para despertar uma total antipatia por este segmento. E por mais que Moran Atias e Olivia Wilde se esforcem, há muito pouco a dispor das duas para que possam revelar mais do que a beleza natural característica de ambas.

Filmes-corais, como é o caso tanto de Terceira Pessoa quanto do anterior Crash: No Limite – para ficarmos restritos ao universo de Paul Haggis – precisam de um evento que justifique as ligações entre cada linha narrativa ou de um olhar apurado que consiga se colocar acima do que é evidente – como Robert Altman tão bem sabia fazer, por exemplo. Haggis, enquanto diretor ou roteirista, no entanto, não consegue nem uma coisa, nem outra. A necessidade de cada personagem em ser visto – “watch me” é uma expressão recorrente – só alimenta o ego individual deles, enquanto que os momentos de suposto lirismo – um recado anotado em Nova York que é jogado fora em Paris, entre outros – são tão gratuitos e deslocados que acabam perdendo seu sentido. E no final o que se tem é um filme longo demais (são mais de duas horas de duração) que diz muito pouco, esteticamente bonito e atraente, porém desprovido de coração, justamente o que deveria ser o cerne de suas intenções.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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