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Crítica

Filho de gregos e nascido na Turquia, o cineasta Elia Kazan chegou aos EUA ainda pequeno, com quatro anos de idade. Porém, a luta da família para fugir da opressão em seu país de origem sempre foi uma história que o diretor quis contar. Após escrever um livro sobre o tema, não demorou para que Terra do Sonho Distante (1963) chegasse aos cinemas. Na época, recebido com certa frieza pela crítica. Hoje, aclamado como uma das obras-primas de Kazan, ainda mais por ser um longa aberto a diversos significados.

No filme originalmente chamado de America, America, acompanha-se a história do jovem Stravos (Stahis Giallelis), avô do protagonista. Primogênito de uma família grega, o rapaz precisa partir de Anatólia, território da Turquia regido com autoritarismo e perseguição aos gregos, para Constantinopla, para ajudar o primo rico. Com toda a riqueza da família em mãos e a promessa de leva todos para a cidade após se estabelecer, as coisas dão errado ao mesmo tempo que ele coloca em prática o secreto plano de se mudar para os EUA.

É esta jornada em que o tal sonho impera sobre os demais objetivos que Kazan conta na tela. É uma crítica não apenas ao sistema da Turquia como também ao próprio american way of life, tema tão caro na filmografia de Kazan. De um lado, o autoritarismo, do outro a pretensa liberdade. Ainda assim, o mais interessa é o caminho percorrido por Stravos até sua chegada aos EUA. Do rapaz sorridente e trabalhador, aos poucos percebe-se que ele pode fazer de tudo para conseguir o que quer, mesmo que seja enganando os outros.

Neste interim, o jovem aceita casar com a filha de um rico comerciante para receber o dote ao mesmo tempo em se envolve com uma mulher casada que mora, justamente, na América tão sonhada. Não que estas atitudes aparentemente sem escrúpulos não venham acompanhadas de um complexo de culpa que aproxima o protagonista do espectador. Stravos se ressente tanto de suas atitudes que mal consegue encostar em sua mulher, deixando-a cada vez mais triste e inconsolável.

É notável a habilidade inquestionável de Kazan em lidar com a câmera. A jornada imersiva de seu protagonista a um caminho sem volta não se deve à bela atuação de seu intérprete, mas também à fotografia que vai aumentando as sombras no rosto de Stavros, indicando sua natureza. Ou a mudança dela. Parece que o cineasta questiona seu público: como conseguir conquistar um grande objetivo sem atropelar as próprias ideias a respeito de moral e ética?

Ao final, Kazan parece ser conivente com as atitudes de Stravos (um respeito à própria família, talvez), ainda mais com a famosa cena em que o protagonista chega aos EUA e beija o chão da terra prometida. Foi chamada de excessiva pela crítica, algo que o próprio diretor rebateu por ter ocorrido realmente. É fácil de entender o porquê da cena ter sido utilizada, pois ela se encaixa completamente no perfil do protagonista e resume sua conquista. Terra do Sonho Distante é o filme favorito do próprio Kazan e uma de suas mais corajosas obras. Uma pena que nem todos consigam compreende-la.

 

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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