Crítica


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Sinopse

Steve Butler trabalha numa empresa especializada em extração de gás. Um dia, lhe é solicitado que viaje até uma cidade do interior para convencer os moradores da região que eles não devem se opor à chegada da empresa extratora. Porém, ao lidar diariamente com as pessoas, Steve acaba questionando suas próprias convicções.

Crítica

As cidades avançam em direção ao futuro. As pessoas, porém, se perguntam para aonde vão, uma vez que o porvir não é físico e nem mesmo existe. Algumas céticas, outras demasiadamente crédulas, tateiam o deslocamento em direção ao progresso, seja lá o que isso significa. Com roteiro de Matt Damon e John Krasinski a partir do livro de Dave Eggers, Terra Prometida tem direção de Gus Van Sant, que deixa de lado histórias pessoais, como Inquietos (2011) e Paranoid Park (2007), para abordar um drama sociopolítico, como Milk: A Voz da Igualdade (2008). Alternância de estilos, aliás, na qual o cineasta transita naturalmente. Se a criação da esfera psicológica é o destaque do primeiro, a habilidade em construir personagens sólidos desponta no segundo.

Steve Butler (Damon) e Sue Thomason (Frances McDormand) são os escolhidos para adentrar o interior dos Estados Unidos em nome da companhia de gás natural Global. Entretanto, o potencial inexplorado da região esbarra na dificuldade de negociar com os donos das terras. A operação, que envolve milhões de dólares e uma prática contestável para a extração de gás, garantiria a modernização daqueles espaços esquecidos pelo mundo. Duas cenas iniciais marcam o que está em jogo. Em uma delas, Damon está no restaurante com um superior. Ter sido escolhido para a função, escuta, não é uma questão de competência, mas de números. Logo depois, a frieza e a perspicácia com que a companhia se apresenta na cena anterior estarão na estratégia de Sue e Steve de comprar roupas locais para se parecerem com os habitantes da cidade. Fantasiados de interioranos, se passariam por iguais e ganhariam a confiança. Compartilhariam os mesmos interesses. A farsa difícil de sustentar – física e moralmente – se torna mais acessível ao aceitar que o que se faz é para o bem daquela comunidade. Convertidos ao mantra da empresa, eles realmente acreditam nisso.

Forasteiros em uma terra que precisa ser conquistada, Sue e Steve são simpatia e confiança. Cada contrato assinado acelera o retorno de ambos para casa. Mas o que não se esperava, é que, dentre os ingênuos cidadão da cidade, estivesse o professor Frank Yates (Hal Holbrook), Bastou uma assembleia para que o discurso de Yates confrontasse com propriedade os argumentos de Steve. A promessa de um bem comum, de que se sabe o melhor para todos, arrefece. Yates consegue, assim, fazer com que a população pense melhor antes de permitir a intervenção da companhia. Soma-se a isso o suposto ambientalista aventureiro Dustin Noble (John Krasinski). Em nome da empresa Athena, criada por ele próprio, o jovem vem testemunhar o estrago que a Global causou nas terras de sua família.

A partir de então, o foco do filme se concentra no empenho do protagonista em combater as investidas cada vez mais bem-sucedidas de Noble. Ao enfrentar a má vontade das pessoas contra o que representa e se envolver com Alice (Rosemarie DeWitt), o personagem de Damon aprofunda-se em uma crise de consciência sobre a legitimidade da sua função. Neste ponto, Terra Prometida desenvolve o tema mais delicado e interessante de si na forma de uma reflexão moderna, nada maniqueísta, sobre a ética do trabalho.

O equilíbrio estético e narrativo, porém, conseguido pela direção até esse momento resiste mal ao final proposto pelo roteiro. Em um terceiro ato voltado exclusivamente para o acerto de contas e para a reconciliação, há na condução do enredo mais ingenuidade do que em todos os habitantes  conhecidos anteriormente. A trama sólida e bem amarrada de então se entrega à previsibilidade. O medo de que o espectador fosse embora da sala sem um herói para lembrar, faz Terra Prometida dar passos atrás e compromete o filme que poderia ter sido. E o medo, prova a filmografia reincidente do diretor, é algo a ser superado.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, e da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Tem formação em Filosofia e em Letras, estudou cinema na Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Acumulou experiências ao trabalhar como produtor, roteirista e assistente de direção de curtas-metragens.
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Grade crítica

CríticoNota
Willian Silveira
5
Chico Fireman
6
MÉDIA
5.5

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