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Sinopse

Especialista em Direito Criminal, o professor Roberto é convidado a ajudar na investigação de um assassinato. Com o passar do tempo, ele começa a desconfiar de seu mais brilhante aluno.

Crítica

Mais um belo filme argentino de gênero esse Tese Sobre um Homicídio, estrelado pelo quase onipresente Ricardo Darín. Aliás, é por meio da exploração dos diferentes gêneros – e não por meio do descarte deles, como bem fazemos com frequência no Brasil em prol de longas pretensamente “genuínos e nacionais” – que a cinematografia hermana se consolidou uma das mais plurais e relevantes da América do Sul. Neste thriller, temos um embate intelectual próximo àqueles muitas vezes motrizes dos suspenses de Alfred Hitchcock. Também semelhante ao itinerário criativo do diretor de Festim Diabólico (1948), Hernán Goldfrid procura resolver primeiro a narrativa em termos visuais para depois recorrer às palavras.

Em Tese Sobre um Homicídio, o especialista em direito criminal Roberto Bermudez (Ricardo Darín) leciona no imponente prédio da Faculdade de Direito da Universidade de Buenos Aires. Sujeito apaixonado pela arte de encontrar respostas – e culpados – nos detalhes, ele se vê confrontado por um jovem estudante regresso da Espanha. Gonzalo (Alberto Ammann), esse aluno, não esconde por trás da aparente diplomacia a astúcia de alguém talhado para ser tudo, menos ordinário. Após crime brutal nas imediações, Roberto passa a suspeitar que Gonzalo seja o assassino e logo intui fazer parte de jogo no qual a inteligência definirá vencedores.

A linguagem privilegia a construção ao mesmo tempo compassada e nervosa do clima. Roberto investiga por conta própria como se fisgado pelo oponente sagaz que faz frente à sua capacidade dedutiva. Já Gonzalo permanece enigma apenas parcialmente desvendado pela imagem projetada muito a partir das percepções de seu “inimigo”. Será ele culpado ou vítima das desconfianças infundadas do mestre enciumado ante sua arrogância? Tese Sobre um Homicídio, então, extrai força da dúvida, do suspense criado sobre certezas instáveis que mudam constantemente o direcionamento de nosso olhar. Se na primeira parte confiamos na culpa de Gonzalo, na segunda relativizamos os julgamentos precipitados e a possibilidade do acaso como tempero antes refutado por Roberto.

O mais interessante, porém, é Tese Sobre um Homicídio utilizar o crime quase como desculpa para o duelo psicológico/racional ora aparentemente real ora semelhante à obsessão cega. Dois homens brilhantes travando batalha velada por supremacia intelectual ou a construção solitária da culpabilidade alheia? Por mais que a verdade esteja ali, na nossa frente, teimamos em desconfiar. Engenhosa maneira de prender a atenção do público, atingindo assim a finalidade maior do suspense. Inevitável comparar Tese Sobre um Homicídio com O Segredo dos Seus Olhos (2009), ainda que tal movimento desfavoreça o primeiro, mais pela amplitude da obra de Juan José Campanella que por suas poucas fraquezas.  O filme de Hernán Goldfrid é inteligente do conceito à execução, excelência pouco vista até mesmo nos berços do gênero ao qual se filia com autoridade.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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