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Sinopse

Alfred Miller é um roteirista que consta na chamada lista negra de artistas proibidos de trabalhar em Hollywood por suspeita de comunismo. Ele pede para o amigo Prince vender seus roteiros aos estúdios como se fossem dele.

Crítica

Assim como muitos profissionais da indústria do entretenimento na década de 50, o cineasta Martin Ritt foi pego pela caça às bruxas macartista e colocado na lista negra, uma forma que o senador norte-americano Joseph McCarthy encontrou para tirar os “vermelhos” de seus empregos. O clima de paranoia em relação ao comunismo era tão grande que qualquer pessoa que tivesse alguma inclinação esquerdista, ou alguma simpatia com as ideias da foice e do martelo eram perseguidas. Neste cenário desolador, onde acusar amigos e parceiros de trabalho era prática encorajada pelas autoridades, Martin Ritt, um talentoso roteirista e diretor de tevê, se viu obrigado a abandonar seu emprego e buscar oportunidades no teatro, visto que seu nome na lista negra o impedia de conseguir outras funções. Com o fim da caça aos comunistas, em 1956, Ritt começou seus trabalhos no cinema. Mas foi apenas 20 anos depois que ele conseguiu colocar algumas de suas experiências em filme, com o ótimo Testa-de-Ferro por Acaso, roteirizado pelo também listado Walter Bernstein.


Na trama, Howard Prince (Woody Allen) é caixa de um bar, apostador inveterado, sempre com dinheiro curto. Seu amigo, o roteirista de tevê Alfred Miller (Michael Murphy), está na lista negra e com sérias dificuldades em conseguir emprego. Assim, surge uma ideia peculiar: Prince levaria os roteiros de Miller para o estúdio de tevê como se os trabalhos fossem seus, receberia o dinheiro do contrato e repassaria para o amigo – retendo, claro, 10% do pagamento. Em um primeiro momento, Howard aceita por amizade, dizendo não precisar da grana. Mas, logo que aquele pagamento fácil começa a chegar, o pseudo-roteirista passa a gostar da ideia, e pede para Miller arrebanhar mais escritores que estejam na lista negra. O filme retrata a situação não só dos roteiristas, mas também dos atores que foram pegos pela caça às bruxas, como mostra o personagem de Zero Mostel, o irreverente Hecky Brown. Forçado a dedurar profissionais que ele acredite serem comunistas, o ator se vê rejeitado pela emissora em que trabalhava, tendo de aceitar cachês míseros pelo seu talento. Não se engane pela presença de Woody Allen no elenco. Ainda que existam cenas engraçadas e seu personagem tenha certa leveza, Testa-de-Ferro por Acaso puxa mais para o lado do drama do que da comédia. Martin Ritt e o roteirista Walter Bernstein acertam a mão ao tentar passar sua mensagem de uma forma menos agressiva, com momentos cômicos que contrabalançam a seriedade da situação. Isso deve ter sido possível graças ao tempo transcorrido entre o fim da caça às bruxas comunista e a produção do longa-metragem. Um pouco de perspectiva faz bem.

Allen, por sua vez, está bastante contido em sua performance, uma surpresa para a época, certamente. Até então, o ator/diretor/roteirista havia apenas feito comédias escrachadas. Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977), filme pelo qual recebeu Oscar e indicação pela sua atuação, viria apenas no ano seguinte. Portanto, a ideia de ver Woody Allen como um sujeito inicialmente sem escrúpulos, que acaba aprendendo com as situações postas em seu caminho, era novidade em 1976. Bem dirigido por Martin Ritt, Allen faz um dos papeis dramáticos mais interessantes de sua carreira – concorrendo fortemente com seus personagens um pouco mais sérios em Crimes e Pecados (1989) e Hannah e suas Irmãs (1986). Em seu último papel, Zero Mostel também mostra um lado dramático pouco praticado em sua carreira. O ator, assim como Martin Ritt e Walter Bernstein, estava na lista negra nos anos 50. Até por isso, sua escolha para o papel não é nada estranha. Todo o arco envolvendo Hecky Brown e suas dúvidas sobre entregar – ou espionar – seus amigos é muito bem orquestrada pelo roteiro, que acaba dando-lhe um final inesperado e que desperta em Howard Prince o desejo de fazer o certo.

Indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original em 1977, Testa-de-Ferro por Acaso é mais um trabalho ímpar de Martin Ritt, cineasta que conseguiu expurgar alguns demônios de seu passado em um filme igualmente dramático e irreverente. Um desafio vencido por este ótimo cineasta nova-iorquino.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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Rodrigo de Oliveira
10
Chico Fireman
7
MÉDIA
8.5

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