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Sinopse

Adriano é um empresário bem-sucedido. Dirige um carro caríssimo, ostenta um relógio não menos valioso e tem uma família aparentemente perfeita. Todavia, após encontrar sua amante morta num quarto de hotel, ele é acusado de homicídio e vai precisar provar inocência.

Crítica

Há diversas camadas narrativas se sobrepondo desengonçadamente em Testemunha Invisível. O protagonista é Adriano (Riccardo Scamarcio), empresário bem-sucedido, atualmente em severos apuros por ser o principal suspeito do assassinato de sua amante, Laura (Miriam Leone). Esse sujeito é confrontado por Virgínia (Maria Paiato), considerada uma das principais preparadoras de testemunhas da Itália. A fim de livrar o cliente da condenação próxima do inevitável, ela precisa saber os detalhes dos acontecimentos que o levaram à prisão domiciliar na qual se encontra enquanto aguarda o julgamento. O cineasta Stefano Mordini usa e abusa do conceito do narrador não confiável ao apresentar flashbacks contraditórios. Mas, aqui, estes se tratam de simples encenações das versões que o acusado conta à jurista encarregada de livrá-lo da lei. É patente a falta uma direção firme para adensar a hesitação entre aquilo que de fato aconteceu e as tantas mentiras ditas.

O realizador tem dificuldades para lidar com sutilezas em Testemunha Invisível. Ele demarca as posições, entregando segredos antes do tempo, criando dinâmicas gradativamente esvaídas da capacidade de instigar o espectador. É gritante que os primeiros testemunhos de Adriano, devidamente transformados em flashbacks longos, o coloquem numa exagerada posição de vítima, com Laura sendo responsável por praticamente todas as atitudes sórdidas que sobrevêm ao encontro furtivo deles num local ermo. O sujeito obviamente está delineando uma edulcoração dos fatos. Ele oferece à sua interlocutora uma perspectiva distorcida, na qual é um homem de família tomado pela culpa e, adiante, levado pela impetuosidade quase vilanesca de sua parceira a ocultar o cadáver de um rapaz por eles assassinado involuntariamente em meio a uma discussão acerca dos rumos da relação. Não há habilidade para criar espaços de dúvida, tudo fica muito escancarado e óbvio.

Testemunha Invisível tenta colidir linhas distintas apenas quando Virgínia questiona Adriano, paulatinamente extraindo dele confissões que alteram os rumos da percepção desse imbróglio que, na verdade, ao invés de ser determinado por um cadáver, comporta a existência de dois e, portanto, de crimes interconectados. Stefano Mordini não consegue criar um ambiente genuinamente tenso nessa interação entre advogada e suspeito, fazendo dos embates meras desculpas para, subsequentemente, entregar opções ao testemunho inicialmente considerado autêntico. Apenas próximo ao clímax, assim que a legitimidade acerca desse vínculo de ocasião fica mais clara do que certamente o cineasta gostaria, as conversas ganham um componente essencialmente desestabilizador. Riccardo Scamarcio, o nome mais conhecido do elenco, está no piloto automático, criando uma figura genérica que não se utiliza das entrelinhas. A aversão do personagem pela veracidade é crassa.

Na medida em que avança, rumo a um desfecho antecipável pela forma como os labirintos frágeis são construídos, Testemunha Invisível adquire um caráter rançoso. Os personagens revelam os simplórios detalhes do que coloca uns correndo atrás dos outros. Trabalhando as reviravoltas de modo burocrático, incorrendo em escassos momentos de perspicácia nesse jogo cênico que envolve bem mais do que gente num conflito de nervos, Stefano Mordini, sequer, faz uma leitura da sensação de onipotência experimentada por esse homem milionário. Nesse sentido, não basta a meia dúzia de palavras ditas pela advogada ou a demonstração de subornos, ocultações pagas e o que os valha. Falta um estudo essencial desse sistema curvado às vontades dos poderosos, assim como é difícil identificar esforços para entender dinâmicas a partir de óticas que não a do próprio suspense. Bebendo sem personalidade da fonte, o resultado soa bastante genérico.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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