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Crítica


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Sinopse

Ao chegar em Buenos Aires, na Argentina, Bennie vai encontrar o irmão mais velho que decidiu tirar um ano sabático na América do Sul. No entanto, ele percebe que Angelo agora é muito diferente do que ele lembrava.

Crítica

Francis Ford Coppola é um ícone. Ao listar os grandes criadores da chamada Sétima Arte, como esquecer o homem que realizou provavelmente a maior trilogia do cinema, O Poderoso Chefão (1972, 1974,1990), e Apocalypse Now (1979), um dos mais geniais retratos de guerra em forma de filme? Isso somente para citar dois exemplos de uma carreira com altos e baixos, mas na qual os pontos altos são muito compensadores. Porém, é notório que o cineasta, dentro da revolução que outrora ajudou a fomentar nos Estados Unidos, queria seguir a arte idealizada na Europa, por Godard, Truffaut, Visconti, Fellini, entre outros. Coppola reverencia o cinema do Velho Continente, antítese do predatório sistema de estúdios que rege a maior parte da produção norte-americana. De uns tempos para cá, financiado por sua vinícola, vem fazendo os longas que quer, pagando a conta e não dando satisfações.

Segundo trabalho dessa nova fase de Coppola, Tetro possui diversas semelhanças com seus filmes pregressos, mesmo que em termos de encenação, abordagem e construção narrativa, se aproxime mais do ideal perseguido que de muitas de suas criações sob a égide de Hollywood. De qualquer maneira, para ele não há outro assunto a discutir fora a família. Bennie (Alden Ehrenreich) é um jovem recém-chegado à Argentina em busca do irmão Angelo (Vincent Gallo), ele que sumiu do mapa, cortando laços com seus consanguíneos. Descobre um homem fragmentado, um animal acuado que agora se intitula Tetro, casado com uma bela e devotada esposa (Maribel Verdú), arredio quando convidado a reatar velhos laços. Bennie o desestabiliza completamente, lembrando-lhe de um passado que ele preferia enterrado junto com suas aspirações artísticas e sua vontade de ser grande.

O que começa em Tetro como acerto de contas, puro e simples, vai ganhando contornos líricos em virtude da mistura de linguagens, mas, sobretudo da encenação com pitadas de artificialidade. Coppola manipula a iluminação a olhos vistos, desenhando um embate denso entre luz e sombra. A luz representa ideais, esperança, enquanto a sombra esconde, não permitindo que vejamos inteiramente as pessoas em momentos de extrema angústia, por exemplo. Experimentamos essa inquietude ao passo que a história da família Tetrocini assume os contornos de uma opereta trágica, de um teatro expressionista ou mesmo de uma dança na qual todos caminham invariavelmente para a danação. Tetro é sobre família, mas também sobre arte, a face inebriante do sucesso e suas promessas vazias de transcendência.

Tem-se a sensação de que o filme tudo pode, sendo a ele permitido qualquer abuso. Coppola rege Tetro livremente, sem atrelá-lo aos manuais de evolução narrativa, convocando o risco à mesa. Angelo/Tetro é como Michael Corleone, ou seja, o filho que precisa tornar-se o chefe, líder da linhagem que conduzirá à sua maneira (distinta do pai). Verdade seja dita, Coppola sempre foi um autor comparável a seus mestres, até mesmo na fase em que arrumava brigas homéricas com os poderosos da indústria para fazer prevalecer sua visão, quando quase enlouqueceu por conta da megalomania ou da paixão por seus projetos. Em Tetro o que muda é liberdade, o registro formal, mas o ideário permanece intacto. A família segue nuclear, exatamente como em algumas de suas mais marcantes realizações.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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