Crítica
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Sinopse
Joe e Bernard são empresários negros que vivem no sul dos Estados Unidos nos anos 1960. Eles decidem contratar um homem branco para se passar por chefe deles. Só assim conseguem driblar o preconceito, tornando-se dois dos proprietários de imóveis mais ricos e bem-sucedidos do país.
Crítica
Até que ponto um homem é, de fato, livre para ir e vir, fazer o que bem entender da sua vida e lutar pelos seus sonhos? Se todos são iguais entre si – como garante a maioria das constituições desse planeta, inclusive a norte-americana – por que na prática exercer tais direitos parece ser uma meta a ser conquistada às duras penas? Isso, é claro, se aquele que ousar ir atrás daquilo que acredita ter direito como resultado do seu empenho e esforço pertencer a uma minoria social, como gays, mulheres e negros, por exemplo. A história de O Banqueiro, que se baseia em um episódio real, tem como ponto de partida um caso que diz respeito diretamente ao último caso. Afinal, trata-se de dois homens afrodescendentes que, mesmo jogando de acordo com as regras vigentes – criadas e impostas por maiorias brancas, é bom nunca esquecer – acabam sofrendo mais percalços do que qualquer outro talvez fosse capaz de suportar. Por nunca se darem por vencidos, esse já é um filme que merece ser observado com cuidado. E se o conjunto não chega a surpreender pela originalidade, também está longe de provocar constrangimentos ou decepções.
O tema é árido, isso é verdade, e não será qualquer tipo de público que irá se colocar a disposição sem maiores ressalvas para acompanhar a jornada de Bernard Garrett (Anthony Mackie, construindo uma carreira cada vez mais diversificada e interessante). Garoto de família humilde, quando criança trabalhava como engraxate no centro da cidade, o que lhe permitiu se aproximar de homens de grande sucesso – todos, invariavelmente, brancos. Atento, desde pequeno soube prestar atenção com cuidado e guardar o melhor dos exemplos a que tinha acesso. Com isso, cresceu com uma meta a cumprir: se tornar tão ou mais bem-sucedido do que aqueles que tanto serviu anos atrás. Ao seu lado, apenas a mulher (Nia Long, voltando a uma produção de prestígio, após anos desperdiçando seu talento e carisma em bobagens como Medo Profundo: O Segundo Ataque, 2019), aparentemente a única a acreditar no que o movia. Mas ninguém vai a lugar nenhum sozinho, e conexões precisam ser feitas.
Pois é o que acontece quando se junta ao empresário Joe Morris (Samuel L. Jackson, marcado por tantos anos como o Nick Fury do Universo Cinematográfico Marvel). Com a visão de um, e o capital do outro, ambos seriam capazes de fazer milagres. Mas um detalhe ainda os impedia de atingir o potencial que almejavam: ambos eram negros. Era preciso, portanto, de alguém capaz de lhes abrir as portas que o tom de suas peles os impedia. É quando entra em cena o jovem Matt Steiner (Nicholas Hoult, eficiente no que lhe compete, apesar de passagens que não lhe favorecem, como o final apressado e o romance um tanto desajeitado que conduz). No começo, ele não é mais do que um simplório ajudante de obras. Mesmo assim, o rapaz acaba servindo de ‘laranja’ para os outros dois, rendendo passagens divertidas – como a sequência do seu aprendizado. Mas é pouco, e quando a ambição começa a guiar seus atos, o filme é relapso em colocar tal mudança apenas na conta da esposa interesseira. E quando a crise se estabelece entre os três, a sociedade se mostrará frágil, num embate que terminará no tribunal e terá fortes consequências para os diretamente envolvidos.
Chama atenção o fato de O Banqueiro ser dirigido por George Nolfi – o mesmo do interessante Os Agentes do Futuro (2011) e do frustrante A Origem do Dragão (2016). E se seu retrospecto é irregular, é também impossível ignorar o fato de se tratar de um homem branco – mais ou menos como aconteceu com Green Book: O Guia (2018), dirigido por Peter Farrelly, ou o recente Luta Por Justiça (2019), do havaiano Destin Daniel Cretton. Os três filmes falam de assuntos que dizem respeito diretamente à comunidade negra, ainda que nenhum deles tenha vivência para se colocar em tais lugares. Lembra, por exemplo, do protesto de Natalie Portman, primeiro no Globo de Ouro de 2019 e depois no Oscar de 2020, contra a falta de reconhecimento ao trabalho de mulheres como diretoras, sendo que ela mesma nunca trabalhou sob o comando de uma cineasta (além dela mesma). É certo que estão conduzindo atos e histórias que merecem vir a público, assim como suas vozes não podem ser ignoradas. Mas não teria sido melhor abrir espaço e criar as condições necessárias para que aqueles que melhor conhecem essas realidades se encarreguem de conduzi-las, ao invés de mais uma vez lhes eclipsar tais oportunidades?
A despeito de possíveis controvérsias, chama a atenção também o fato de que O Banqueiro é o primeiro projeto original em longa-metragem da Apple+, a plataforma de streaming da gigante da tecnologia. E isso por ser um filme sério, que trata de temas adultos e urgentes, como preconceito e racismo, longe das comédias românticas ou dos títulos de terror tão comuns entre as opções oferecidas por muitas das suas concorrentes. Mackie e Jackson formam uma boa dupla, e se é exigido mais do que Hoult é capaz de entregar, essa parece ser culpa de uma edição apressada, e não do próprio ator. Longo – são exatas duas horas de duração – e bastante didático – há muitas cenas de preparativos, subtramas (o início como corretor de imóveis) e outros pormenores – acaba perdendo precioso tempo na construção de um momento que, quando finalmente acontece, não serão muitos na audiência que manterão o mesmo nível de atenção. Para se ter ideia, a trama a qual o título faz referência só tem início depois da metade do filme. Mesmo assim, são tropeços que não inviabilizam o proveito de um conjunto cujos méritos conseguem se sobressair diante de um potencial que, se não chega a ser explorado no seu todo, também não é desperdiçado por completo.
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