Crítica
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Sinopse
Num futuro próximo, um grupo internacional de astronautas em uma estação espacial trabalha na solução de uma massiva crise de energia na Terra. A tecnologia experimental a bordo da estação apresenta um resultado inesperado, deixando o time isolado e lutando por sua sobrevivência.
Crítica
Em 2008 – ou seja, há exatamente uma década – fomos surpreendidos por um filme de monstros que mostrava tudo, menos... os monstros! Cloverfield: Monstro (2008) se revelou inovador com a sua proposta ao estilo found footage de focar nas reações das pessoas espalhadas por uma grande metrópole durante um ataque apocalíptico, quando uma criatura gigantesca – a qual só vemos de relance – ao melhor estilo Godzilla, recém saída do mar, se encarrega de destruir tudo pelo caminho. Oito anos depois, foi a vez de Rua Cloverfield, 10 (2016), que trouxe o mesmo título à tona, porém aparentemente sem conexões mais evidentes. Na trama, três pessoas se encontravam trancadas em um porão, com uma delas afirmando ter feito isso para proteger as outras duas do caos que o planeta havia se transformado. Estaria, no entanto, falando sério? Pois bem, as respostas finalmente se apresentam em The Cloverfield Paradox, um filme cercado de tanta expectativa que era quase inevitável que iria falhar sob um ou outro aspecto. Só não precisava se revelar uma experiência tão problemática quanto a que aqui encontramos.
Estamos no futuro, e o grande problema da humanidade é a falta de energia. Países avançam uns sobre os outros em busca de novas formas alternativas e reservas há muito protegidas, guerras eclodem a todo instante e regiões inteiras do planeta estão desoladas pela falta dos produtos mais básicos. A solução encontrada está em uma expedição espacial responsável por colocar em uso uma tecnologia única e inovadora, que tanto pode resolver a situação como, de acordo com alguns alertas, abrir uma Caixa de Pandora inimaginável. Afinal, tal esforço representará um confronto com linhas temporais e realidades paralelas. Quem faz a denúncia mais contundente é o escritor e cientista Mark Stambler (Donal Logue, de A Casa do Medo, 2015), autor do livro O Paradoxo Cloverfield. Ou seja, aquilo que vem para o bem, ao mesmo tempo, irá abrir possibilidades para males absurdos. Entre eles, ameaças existentes apenas no universo da imaginação, que não mais reconhecerão os limites entre fantasia e realidade, interagindo com ambos os lados.
E quem encontramos no espaço? Astronautas dos Estados Unidos (David Oyelowo), Inglaterra (Gugu Mbatha-Raw), Alemanha (Daniel Bruhl), China (Ziyi Zhang) e até do Brasil (o nova-iorquino John Ortiz). E é por aqui que podemos começar a elencar os problemas da produção. Afinal, não precisa ser nenhum guru para descobrir que a missão deles dará errado, liberando inúmeros problemas, tanto no céu quanto na terra. E se no chão firme acompanhamos, sem muito entusiasmo, o que acontece com um motorista (Roger Davies) – que pode ou não ter relação com um dos astronautas – ao tentar cuidar de uma garota perdida, no espaço o que se dá é a mesma série de clichês já vista em qualquer produção do gênero. O primeiro a morrer? Bom, há um russo na turma, e não precisa ser um gênio para imaginar suas chances de chegar até o final da trama vivo. O mesmo podemos dizer de outras minorias, como o infeliz brasileiro ou a coitada da chinesa, que termina sendo substituída por uma versão – loira e mais atraente – vinda de uma estrutura alternativa. Faltava um vilão de carne e osso para jogar a culpa? Pois bem, aqui o temos.
J. J. Abrams, diretor de sucessos como Missão: Impossível 3 (2006), Star Trek (2009) e Star Wars: O Despertar da Força (2015), é a mente criativa por trás da saga Cloverfield. Ainda que não tenha dirigido ou escrito os roteiros de nenhum dos três episódios, cuidou da produção de toda a trilogia. Ou seja, como se percebe, seu envolvimento existe, porém nada muito aprofundado. Esta pode ser a explicação porque algo que começou tão intrigante e seguiu dando um passo acima, pode ter resvalado tão feio na hora de apresentar qualquer tipo de explicação plausível. Matt Reeves, o diretor de Cloverfield: Monstro, entregou neste ano Planeta dos Macacos: A Guerra (2017), longa indicado ao Oscar. Dan Trachtenberg, que assinou a direção de Rua Cloverfield, 10, na sequência foi trabalhar em um episódio de Black Mirror (Playtest, 2016), uma das séries mais intrigantes do momento. Agora, o que esperar de Julius Onah, que com pouco mais de trinta anos está recém no comando do seu segundo longa-metragem (o anterior foi o inédito por aqui The Girl is in Trouble, 2015)? Se tirarmos como parâmetro as soluções esquemáticas e o discurso clichê que tenta a todo custo defender em The Cloverfield Paradox, é de se duvidar se ele chegará a dar novos passos de destaque.
Uma pessoa desconhecida surge no meio das ferragens em uma parede da espaçonave. Outro, ao se apoiar em uma viga para fazer um conserto, vê seu braço ser engolido pela matéria, para logo em seguida ser decepado – em um processo, no entanto, totalmente indolor. Há aquele que enlouquece, o que pode estar mentindo, a que é jogada no espaço, e a que revela ter segundas intenções somente na última hora. Ou seja, arquétipos mais do que comuns, já vistos em inúmeras histórias similares. The Cloverfield Paradox é genérico do início ao fim, abusando do melodrama e dos mais recorrentes clichês do gênero. Tinha, no entanto, um mundo de possibilidades em mãos. Porém, tudo o que consegue é mirar nas opções mais óbvias, sem risco ou ousadia, desperdiçando um elenco razoavelmente talentoso em jogadas vazias e desenlaces que mais atrapalham do que contribuem com o desenrolar dos acontecimentos. Melhor teria sido ficar apenas nas suposições, e, com isso, evitar um paradoxo como esse, repleto de boas intenções, mas frustrante até na mais banal delas.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 3 |
Marcelo Müller | 3 |
Thomas Boeira | 3 |
Mariani Batista | 4 |
Wallace Andrioli | 2 |
MÉDIA | 3 |
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