The French Teacher: Um Amor a Três
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Stefania Vasconcellos
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The French Teacher
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2019
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EUA / Brasil / Turquia
Crítica
Leitores
Sinopse
Uma professora de Francês começa um romance com um de seus alunos, que tem metade da sua idade. Depois da morte do pai, sua filha retorna para casa e a complicada relação entre as duas se intensifica com a presença do rapaz. O presente se colide com o passado desenterrando profundos conflitos familiares.
Crítica
Alguns filmes são simplesmente ruins. Outros podem ser ofensivos, mal-intencionados e até mesmo perniciosos. Há ainda os que tentam, mas revelam seu amadorismo a cada segundo da projeção. The French Teacher: Um Amor à Três, escrito e dirigido pela gaúcha Stefania Vasconcellos, infelizmente, se encaixa nessa última categoria. Apesar de ter frequentado a Escola de Teatro de Porto Alegre (TEPA), se formado em Direção de Cinema pela Escola Darcy Ribeiro, no Rio de Janeiro, e trabalhar atualmente em Los Angeles, nos EUA, fica impresso do início ao fim deste que é o seu segundo longa como realizadora uma total falta de percepção de mise-en-scène, denotando deficiências desde o ajuste da câmera como a disposição dos elementos em cena, como os personagens devem se comportar e os argumentos que, supostamente, fariam que a trama avançasse. Tudo é tão artificial e simplista que na maior parte do tempo o único sentimento emulado é o do constrangimento total e absoluto.
Cleo (Marie Laurin, que transita entre a apatia e o exagero, sem paradas intermediárias) é uma mulher solitária, que mora sozinha e ocupa seus dias dando aulas de francês. Quando Matthew (Sean Patrick McGowan, de Virando a Página, 2014, incapaz de evitar a expressão armada de galã suburbano) se apresenta como novo aluno, não há sutileza nas intenções confessas do rapaz: ele está interessado mais na professora do que nas aulas. Primeiro chega adiantado à classe, depois solicita aulas particulares, e por fim a convida para uma festa. Tudo é bastante escancarado, para que não reste dúvidas. O problema é que não há o despertar desse desejo: a sensação é que se aproximou da tutora com uma agenda já pronta, algo que nunca chega a ser esclarecido.
A partir do momento em que os dois dormem juntos e se declaram, com direito a “eu te amo” de um lado e do outro, uma questão familiar, já pontuada desde o começo da trama, volta a se manifestar. O pai de Cleo é um senhor doente, com Alzheimer. Há um cuidador sempre com ele, mas, como única filha, é seu papel também se fazer presente. No entanto, enquanto lhe dá banho, o idoso a chama pelo nome da já falecida mãe, sua esposa. E, num rompante, chega a lhe dar um beijo romântico. É óbvio que o homem está pensando na antiga companheira. Mesmo sendo a única pessoa racional entre os dois, tal gesto é suficiente para abalar a mulher de tal forma que passa evitar novos contatos, certificando-se do estado paterno apenas por telefone, sem mais visitá-lo. Quando vem a notícia do seu falecimento, dois pesos se somam: o de um trauma vivido na infância – a reação desproporcional não permite dúvidas a respeito do que um movimento tão simples teria suscitado – e a culpa por tê-lo abandonado nos seus últimos dias. E assim, como se não fosse suficiente, no meio desse imbróglio eis que surge a filha dela, que retorna para o velório.
Questões como um chalé deixado como herança, que a protagonista nunca soube de sua existência, mas que mesmo assim se encontra em perfeito estado de conservação, ainda que o velho proprietário há muito já devesse ter esquecido dele devido a sua doença, são problemas menores dentro da nova dinâmica que se estabelece com a chegada desta terceira figura – que parece ser introduzida apenas para justificar o subtítulo “Um Amor à Três”. A mãe está frágil com a recente morte do pai, mas, ao mesmo tempo, passa a se comportar como uma adolescente virginal, excitada a cada nova ligação do namorado, chegando escondê-lo da filha. Seria um recato maternal? Pelo contrário, pois, a partir do que se entende com a severidade dos seus gestos assim que filha e rapaz se conhecem e começam a interagir, é um nítido caso de ciúmes por parte da mulher mais velha. É também quando a diferença de idade do casal passa a ser um pormenor perseguido pela diretora à exaustão. O preconceito se torna evidente numa sequência num ambiente noturno. Quando a protagonista adentra o lugar, todos os jovens presentes passam a encará-la com expressões de espanto. Comentários como “por quê ele trouxe a mãe para uma festa?”, seguidos de risinhos infantis, se proliferam. A pergunta que fica é: ao expor tal situação sem o menor cuidado, seria o sentimento dos personagens ou da realizadora?
Chegando ao ponto de citar O Poderoso Chefão (1962) em uma cena de laranjas caindo ao chão antes de anunciar uma morte – o que a mulher fazia com todas aquelas frutas dentro da bolsa? – esse The French Teacher: Um Amor à Três não desiste de cavar uma cova cada vez mais funda para si mesmo quando, aleatoriamente, passar a inserir pequenas rixas diárias entre mãe e filha, apenas para deixar claro que a relação das duas, já tensa, se tornaria ainda mais instável com a chegada do rapaz apaixonado. Mas os diálogos entre eles são sempre muito forçados, aleatórios e desprovidos de qualquer potencial de convencimento. Enfim, trata-se de um desastre anunciado, e que só piora diante da insistência no uso de tomadas em câmera lenta, tantas e absurdamente deslocadas que, caso tivessem sido exibidas na velocidade normal, era capaz de estarmos agora diante de um curta-metragem. Um conjunto tão mal estruturado como esse poderia ser apenas um grande equívoco, mas a soma crescente de más decisões torna o desastre ainda maior.
Filme visto online no 7o BIFF: Brasília International Film Festival
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