Sinopse
Ao retornar à casa do pai após cumprir pena na prisão, John tem expectativas de recomeçar a sua vida em paz. No entanto, na comunidade local, o crime que ele cometeu nunca foi esquecido e tampouco perdoado.
Crítica
O Amanhã tem início com uma sequência em que seu protagonista se prepara para reencontrar um familiar com quem, aparentemente, não convivia há muito tempo. A tensão entre ambos, na cena seguinte, é notável, fidedigna ao tipo de situação que existe quando duas pessoas já perderam a intimidade de outrora. Porém, esse desconforto é apenas a superfície do problema, e quando repensamos essa passagem ao final, parece incorreto que tenhamos ficado tão indiferentes ao elefante na sala que os personagens estavam ignorando.
Recém liberado de uma instituição de cárcere, John (Ulrik Munther) é levado de volta para casa e matriculado no colégio outra vez. Entretanto, seus colegas de classe e mesmo sua família não parecem confortáveis em recebê-lo de volta. Aparentemente incapaz de perdoar o jovem por um crime que se revela aos poucos, a comunidade ao seu redor passa a rejeitá-lo e puni-lo por sua recém adquirida liberdade. O que coloca os espectador em um conflito interessante: por um lado, é difícil não condenar o garoto, já que, de fato, o que fez foi horrível, mas por outro, sua fragilidade e exposição nos faz torcer para que parem com aquelas injustiças. Ou seja, O Amanhã constantemente confronta nossa própria civilidade, nos fazendo lidar da maneira mais justa possível com uma tragédia, sem que, com isso, nos corrompamos de forma criminosa.
Para tanto, o diretor Magnus van Horn assume um ponto de vista imparcial, mas que sugere “recortes” sobre aquilo que vemos. Fazendo uso de muitos planos longos e estáticos, o cineasta prefere colocar seus personagens emoldurados por portas e janelas, enquanto cenas inteiras se desenrolam num take só. E quando decide adotar outros movimentos com sua câmera, é sintomático que escolha “perseguir” cada uma destas figuras pelas costas, ou então observá-las ao longe, incitando a noção de que estão sendo vigiadas e visadas por todos ao redor.
A opção pela ausência de trilha também é um elemento angustiante na jornada de John, que, além disso, passa a adquirir mais machucados no rosto conforme sua realidade se torna mais repressiva. Com isso, é impossível que não se questione se a punição para um crime passional sejam atos violentos tão passionais quanto. E desse ponto de vista, Munther faz um excelente trabalho ao compô-lo como um jovem calmo e tímido que jamais acusa a selvageria da qual o culpam, tornando difícil para o espectador tomar partidos. O que, provavelmente, é de fato o objetivo do longa-metragem, já que tais sentimentos desafiam nossos impulsos pessoais e instigam aqueles que dizem respeito à saúde social.
Apenas decepcionante devido ao desfecho, que se entrega a uma resolução fácil e óbvia, O Amanhã nos realoca em posicionamento durante quase toda sua duração, forçando o espectador a repensar suas verdadeiras razões para condenar ou torcer por alguém no mundo do lado de cá da tela. E que faça isso com tamanha facilidade e talento, já é mérito o suficiente para ser lembrado.
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