Crítica
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Sinopse
Mary é forte e independente, mas solitária. No ano de 1854, ela precisará levar três mulheres até o Iowa, onde elas poderão viver em paz. O caminho do grupo é atravessado por um criminoso que acaba o ajudando na jornada.
Crítica
Tocante, surpreendente, intrigante e nada convencional. Dívida de Honra (2014), quarto filme dirigido, estrelado e produzido por Tommy Lee Jones é um faroeste que carrega o improvável êxito de reinventar este tão desgastado gênero – e não apenas de atualizá-lo para novas audiências. O longa, que acompanha as agruras da vida de um pioneiro norte-americano na Nebraska dos 1850, sobrepuja certa superficialidade inicial com direção, fotografia e atuações impecáveis – que estranhamente passaram em branco na temporada norte-americana de premiações, mas não na indicação à Palma de Ouro no Festival de Cannes.
Com uma abordagem imprevisível, o western acompanha Mary (Hilary Swank), balzaquiana solteira que corre contra o tempo para se casar e ter filhos, porém não encontra pretendente disposto a aceitar suas investidas. Sem outras perspectivas para seu futuro, ela aceita uma proposta do reverendo Alfred (John Lithgow) para transportar três mulheres com problemas psicológicos e potencialmente perigosas para o Iowa. Para a jornada, ela conta com a ajuda de George (Jones), que parece carregar alguns segredos consigo e não ser muito confiável. Concebido a partir da obra homônima de Glendon Swarthout, o roteiro de Jones, Kieran Fitzgerald e Wesley A. Oliver é pautado em uma narrativa singular, que transcorre entre o absurdo, o cômico, o dramático e o assombroso de forma natural e competente. Ainda que, resumidamente, seja um épico que acompanha um vagão de trem que cruza planícies vazias, Dívida de Honra nunca se torna enfadonho ou desinteressante, uma vez que a cada curva o filme lança situações inesperadas. Como em qualquer road movie, não faltam encontros que transformam os protagonistas e interferem em suas buscas, além das tragédias incontornáveis que pontuam seus caminhos.
Hilary Swank é a alma de Dívida de Honra, porém Tommy Lee Jones compartilha de seu protagonismo: a improvável dupla desenvolve ao longo da projeção uma química certeira e envolvente. Swank se dedica a uma caracterização que se equilibra entre a inocência e a bravura de Mary, enquanto Jones imprime em seu personagem uma energia vigorosa, porém ambígua. George é um golpista manipulador que subverte qualquer expectativa presumida a seu respeito, porém ao desenrolar da viagem permite o desenvolvimento de alguma afeição por ele. Miranda Otto, William Fichtner, Tim Blake Nelson, Hailee Steinfeld, James Spader e até Meryl Streep – sim, Meryl Streep! – são os coadjuvantes de luxo que tornam a sessão deste neo-western ainda mais interessante. Diferentemente de O Atalho (2010), produção de Kelly Reichardt que detalha as dificuldades da vida de pioneiros, a obra de Jones dedica seu enfoque aos desejos conflitantes e condições psicológicas destes desbravadores. O compromisso de Mary e George é quase sobre-humano, porém o elo e a necessidade que os une, que transcende amor e amizade, torna este fardo mais tolerável.
Ainda que indique caminhar para uma redenção, Dívida de Honra se direciona para um desfecho totalmente diferente e, ainda que amargo, se encerra com uma comicidade que reitera que algumas pessoas são incapazes de mudar, independente de quaisquer circunstâncias.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Conrado Heoli | 8 |
Francisco Carbone | 8 |
Chico Fireman | 5 |
Alysson Oliveira | 8 |
MÉDIA | 7.3 |
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