Crítica
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Sinopse
Simon é um lendário ator de teatro que frequenta os palcos desde os 13 anos de idade. Ao sentir-se perdendo o dom da interpretação, esse idoso entra em crise e se retira à floresta. As coisas mudam com a chegada de uma jovem.
Crítica
O grande ator Simon Axler (Al Pacino), sentindo perder seu talento para viver outras realidades, ou seja, para desempenhar o ofício que o faz transitar de uma persona a outra, entra em parafuso e tem um surto, jogando-se do palco em meio a uma apresentação. A temporada no hospital psiquiátrico serve, entre outras coisas, para que tudo volte minimamente aos eixos, ainda que o persistente incômodo no espaço cênico que o consagrou faça, em princípio, inapelável sua decisão de aposentar-se. Baseado no livro de Philip Roth, O Último Ato parte de uma questão que o definirá em sua totalidade: o que é a verdade? Assim, a fricção constante entre factual e ficcional preenche cada fresta da narrativa proposta pelo diretor Barry Levinson, adicionando algo indefinido à atmosfera do filme.
Após a internação, o ator volta para casa, para seu novo cotidiano de nada fazer e de esquecer o que deixou para trás. Quase tudo o que vemos é projetado do relato verbal de Axler ao seu terapeuta pelo skype. Sendo assim, quanto de veracidade existe no relacionamento que ele logo engata com Pegeen Stapleford (Greta Gerwig), mulher bem mais jovem, filha de um casal de amigos, e nas demais ocorrências? De qualquer maneira, a garota trará algum frescor para a vida dele, além de situações insólitas, como os constantes encontros com as ex-namoradas dela, incluindo uma que mudou de sexo. Ele se apaixona, passa a fazer de tudo para que ela não o abandone, como se a nova companheira fosse sua tábua de salvação.
Paralelo a isso, uma ex-colega de hospital o persegue, propondo o assassinato do marido pedófilo. Mas porque a mulher encasquetou justo com ele? A resposta é: porque em determinado filme Axler interpretou convincentemente um matador. Essa confusão particular entre ficção e realidade é apenas evidência da insanidade alheia, ou mais um indício da linha tênue que separa as duas possibilidades? Algumas ocasiões são estapafúrdias, engraçadas por conta da maneira como Levinson as apresenta. O diretor faz do protagonista um centro racional enganoso ao redor do qual gravitam esses acontecimentos estranhos. Enquanto isso, Axler continua seu trajeto de bloqueio artístico, do qual só abdicará em nome do amor que teme perder.
O Último Ato oscila entre a comédia e a tragédia, trazendo à baila, portanto, as duas vertentes simbolizadas pelas máscaras do teatro. A crise do ator é bem mais existencial do que vocacional. Na aparente simplicidade do longa, moram questionamentos bastante profundos a respeito da natureza das pequenas interpretações cotidianas, dos papeis aos quais somos convidados (obrigados?) a assumir em virtude desta ou daquela situação, em nível tal que não conseguimos, assim como o protagonista a partir de dado momento, discernir verdade e simulacro. Essa flutuação é apresentada sutilmente, sem necessidade de mostrar Axler como alguém de fato acometido por uma patologia qualquer, afinal boa parte da matéria-prima do filme é a dúvida, a incerteza em seu estado mais intrigante, ainda que no mais das vezes tenhamos a falsa sensação da objetividade.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 8 |
Alysson Oliveira | 5 |
MÉDIA | 6.5 |
O filme é um pouco arrastado no início mas depois ganha ritmo.
Adorei fricção entre factual e ficcional. Cenas explícitas gestando o imaginário em busca da razoabilidade perpassando hospitais, relações afetivas inesperadas e crises profissionais. Ato ou Fato? Só não gosto do Al Pacino ( neste filme). Sua performance histriônica e cabeleira beiram o ridículo. Mas seria esta caracterização (atuação) mais uma desconstrução de modelos ou um blefe?
No mínimo esse filme parece ser "assistível". O que está difícil com os últimos trabalhos de Al Pacino!