O Mapa das Pequenas Coisas Perfeitas
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Ian Samuels
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The Map of Tiny Perfect Things
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2021
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EUA
Crítica
Leitores
Sinopse
Obrigados por uma força misteriosa a viverem repetidamente o mesmo dia, dois adolescentes decidem criar um mapa muito especial e único.
Crítica
O início de O Mapa das Pequenas Coisas Perfeitas é simplesmente sensacional. Mark (Kyle Allen, com impressionante desenvoltura), um adolescente nos seus 16 anos, levanta da cama e transita pela casa e por toda a cidade como se tudo aquilo fosse dele, um mestre que conhece cada detalhe e sabe de antemão todos os acontecimentos do dia a dia. Ele pega no ar a xícara que a irmã acabou de derrubar antes mesmo de se espatifar no chão, responde antecipadamente às perguntas do pai, conhece todos os vizinhos – e interage com eles exatamente de acordo com o esperado – com os quais vai cruzando no caminho até à escola, adivinha com precisão quais sinaleiras deve parar e quais estarão abertas permitindo o livre trânsito de sua bicicleta, ajuda a garota em busca de direção sem nem ao menos ter que falar com ela antes, abaixa – com discrição – a saia levantada da moça desatenta e rouba um trator para ir até a lanchonete justamente na hora que ninguém está olhando. Como ele sabe tudo isso? Simples: já viveu esse mesmo dia tantas vezes, que tudo lhe é tediosamente familiar. É sempre igual. Até que não é mais.
Sim, pois uma dessas tarefas que repete dia após dia é o salvamento de uma garota na beira da piscina após ela levar uma bolada de um grupo de crianças que está brincando por perto. Ele já aprendeu o momento certo de resgatar a bola desviada e impedir o choque. Porém, hoje, ainda antes dele poder se mexer, uma outra garota interfere, desviando o míssil e deixando-o perplexo. Como ela poderia saber que aquela trombada iria acontecer? Quem seria aquela menina, loira e de óculos escuros, passeando de botas em um dia ensolarado e deixando para trás um anúncio de cachorro desaparecido? Estaria passando pela mesma situação que a dele? Num mundo em que todos fazem as mesmas coisas e apenas um ousa – ou se vê obrigado – a ser diferente, se deparar com um igual é como identificar a sua alma gêmea, é reconhecer o único outro ser vivo em meio a um oceano de zumbis. Todos esquecem daquele dia e seguem com as suas vidas. Ele está preso eternamente (será?) naquele mesma série de acontecimentos. E, pelo jeito, agora tem companhia.
Se Mark se encontra no meio de uma anomalia temporal – e isso nem chega a ser muito discutido, é um fato estabelecido quando apresentado aos espectadores – o que descobre em seguida é que Margaret passa pelo mesmo problema. Ela também está vivendo repetidamente as mesmas coisas. Se o cinéfilo mais antenado irá remeter diretamente aos dramas – e comédias – vividas por Bill Murray no excepcional Feitiço do Tempo (1993) ou por Tom Cruise no divertido No Limite do Amanhã (2014), é importante que fique claro que o diretor Ian Samuels (Sierra Burgess é uma Loser, 2018) está ciente disso: tanto é que chega a citar não um, mas os dois filmes, literalmente. Ou seja, O Mapa das Pequenas Coisas Perfeitas compreende que faz parte de uma linhagem mais longa, e por isso trata de ser respeitoso com os parâmetros estabelecidos: tudo que os dois fazem é desfeito a cada amanhecer, e apenas eles mantêm o conhecimento adquirido a cada nova experiência. O curioso – ou a liberdade assumida – é que algumas coisas acabam ficando com eles. Como o número de telefone dela, anotado no smartphone dele. Ou a lista das pequenas coisas perfeitas.
É aí que o filme baseado no conto de Lev Grossman (com roteiro do próprio) consegue, ainda que minimamente, se diferenciar dos seus similares. Pois se no começo Mark pensa apenas em si – o que é natural, pois a exceção está acontecendo com ele, e não com os outros – aos poucos vai se dando conta de que podem ser outros os motivos que o levaram até sua situação. Isso começa a mudar a partir das interações que vai estabelecendo com Margaret (Kathryn Newton, de Freaky: No Corpo de um Assassino, 2020), das restrições que ela demonstra com determinadas coisas e atitudes, e com a necessidade, sempre ao final da tarde, de atender a um misterioso telefonema e sair correndo. É por isso, para se distraírem dessas decepções diárias – e até deles próprios – que começam a desenhar o tal mapa das pequenas coisas perfeitas. Encontros, coincidências ou surpresas que quase ninguém percebe, mas que eles, por terem aquele dia inteiro para reviverem à exaustão, podem se dar ao luxo de não apenas apreciarem, mas também de exaltarem tais belezas que poucos notam, mas que muita diferença proporcionam.
Apesar de vividos por dois jovens adultos – Kyle tem 26 anos, e Kathryn está com 23 – Mark e Margaret convencem como adolescentes, graças à boa química que os dois demonstram juntos. Ele é adorável, sensível, quase ingênuo. Ela é determinada, discreta, resignada ao que o destino lhe reservou. Aos poucos, juntos começam a entender que, sim, as coisas podem ser diferentes. Inclusive, na mudança até mesmo do protagonismo dessa história, deixando de olhar apenas para si, e se alertando para o que aqueles ao redor estão passando. As pequenas coisas perfeitas, como se vê, podem não ser apenas o momento em que uma águia dá um rasante para capturar um peixe no meio do lago ou o tráfico interrompido para que uma tartaruga possa atravessar a rua: também podem estar nos dilemas profissionais do pai, na saúde da mãe, na natureza esportiva da irmã e por aí vai. Mais importante do que o romance dos dois, em ir atrás das razões que os colocaram nesse eterno recomeço e em se livrarem do que acreditam ser uma prisão, é aprender a olhar para si e para os que de fato importam. Quando isso acontece, todo o demais ocorre naturalmente. Assim como se dá em O Mapa das Pequenas Coisas Perfeitas: um filme discreto cuja narrativa se desenvolve a partir de conceitos há muito estabelecidos, mas que mesmo assim consegue mostrar uma identidade própria, elevando-se de um lugar comum tão afeito ao gênero.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 6 |
Lucas Salgado | 4 |
Marcio Sallem | 5 |
MÉDIA | 5 |
Ótima crítica. Senti o mesmo ao assistir. Só faço duas correções: ele anota o número dela e depois decora e reagenda no dia seguinte porque a memória dele não apaga, mas do celular, sim. E, todos os dias, ele desenha de novo o mapa.