Crítica
Leitores
Sinopse
Quando o namorado do escritor Ned Weeks contrai o vírus da AIDS, ele se torna um grande ativista. Sua principal pauta é mostrar ao mundo que a enfermidade não deve ser vista como um "câncer gay", bandeira abraçada por uma médica que a agita dentro da comunidade científica.
Crítica
O número de novos casos de infecção do vírus HIV aumentou 11% em 2014 no Brasil. Os dados da Unaids, programa conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids, são ainda mais preocupantes pois vão na contramão da média global, que registra uma diminuição de 13% nos últimos três anos. Neste cenário, é mais que importante o lançamento de um longa-metragem como The Normal Heart. O telefilme de Ryan Murphy estreou ainda no ano passado na HBO e recebeu o Emmy Awards de Melhor Filme Feito para Televisão.
A produção retrata o início da expansão da doença nos anos 1980 nos EUA, quando ela ainda era considerada “o câncer gay”. O foco é a luta de Ned Weeks (Mark Ruffalo), alterego de Larry Kramer, autor da peça de teatro original e que também assina o roteiro do filme. Ele é um dos criadores da organização Gay Men’s Health Crisis (GMHC), que busca combater a doença, mas encontra no preconceito da sociedade e no descaso do governo seus principais obstáculos. Afinal, como enfrentar uma doença invisível para a maioria da população? Ao mesmo tempo, seu namorado, Felix Turner (Matt Bomer), também manifesta o vírus HIV, o que torna sua batalha ainda mais pessoal.
Ryan Murphy, diretor e produtor televisivo conhecido por inserir elementos da diversidade em suas produções, como Glee (2009-2015) e American Horror Story (2011-), aqui se encontra mais contido em suas discrepâncias estéticas e dá lugar a sutileza, deixando a história, forte por si só, ser contada de forma simples, mas não menos chocante. Para tal, todos os lados são explorados, das tentativas fracassadas de que a doença chegasse a conhecimento público sem ser tratada como algo exclusivo de homens gays aos incessantes contatos (sem resposta) com o governo.
The Normal Heart traz no elenco grandes atuações, seja do explosivo Weeks no melhor papel de Mark Ruffalo em sua carreira (inclusive que lhe valeu o prêmio de melhor atuação masculina em televisão pelo Sindicato dos Atores), a diva Julia Roberts sem glamour nenhum como a única médica heterossexual que busca uma cura e ainda vários atores assumidos do lado de cá da tela, como Jonathan Groff, Jim Parsons e o excepcional Matt Bomer (incrível e bem distante de seu protagonista de White Collar, 2009-2014), vencedor do Globo de Ouro e do Critics Choice pelo papel. Além deles, outros nomes famosos figuram na tela, como Alfred Molina, Taylor Kitsch e Joe Mantello.
O mais interessante da narrativa não é a denúncia pela denúncia, mas sim trazer de forma mais inédita para o público em geral (especialmente o heterossexual) como o HIV conseguiu que a luta pelos direitos LGBT regredissem na década de 1980 após a libertação sexual da década anterior. Se os gays comemoravam poder se assumir com tranquilidade, a manifestação da doença através de manchas na pele e do corpo esquelético indicavam um novo (e grande) medo de sair do armário e, principalmente, morrer por uma doença que não se fazia ideia de como ser tratada.
A conclusão de The Normal Heart não indica finais felizes e nem é sua proposta. Afinal, mesmo com os tratamentos avançados que surgiram desde então para seu controle, o HIV ainda é uma doença que mata e causa temor. Só aqui no país, havia 730 mil pessoas com Aids até o início de 2013. O número aumentou com mais 44 mil novos casos surgidos durante o ano passado. A produção ganhou o que, espero, chame ainda mais a atenção para um trabalho tão importante que retrata um dos períodos mais obscuros da história LGBT no mundo.
Últimos artigos deMatheus Bonez (Ver Tudo)
- In Memoriam :: Joan Fontaine (1917-2013) - 22 de outubro de 2020
- Morte Sobre o Nilo - 10 de março de 2020
- Aspirantes - 1 de novembro de 2019
Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Matheus Bonez | 8 |
Robledo Milani | 7 |
Daniel Oliveira | 7 |
Lucas Salgado | 7 |
Adriana Androvandi | 7 |
Francisco Carbone | 7 |
MÉDIA | 7.2 |
"The Normal Heart"(EUA,dir.Ryan Murphy, 2014), que acabo de assistir,um filme sobre a gênese da AIDS/HIV na Nova Iorque dos anos 1980 é uma das experiências estéticas mais contundentes que tive em minha vida. Baseado numa peça teatral escrita por Larry Kramer em1985, nos narra as lutas políticas sobre o então "câncer gay". Os regimes de verdade produzidos sobre a epidemia; as dificuldades da comunidade gay em abdicar de sua liberdade sexual tão duramente construída, em prol da contenção da doença; a negligência do poder público diante da questão proposta pelas lideranças gays protagonistas do filme. É preciso sublinhar que "naquele momento histórico, silêncio, armário e vergonha significavam morte", lembra o diretor, a partir das conversas que teve com o roteirista Larry Kramer, que fez a obra com tons assumidamente biográficos.A atuação do Comitê da Crise da Saúde dos Homens Gays, fruto dos movimentos sociais pelos direitos civis homossexuais estadunidenses na década de 1980. "Os tempos mudaram, mas a discussão sobre a epidemia global da Aids é ainda tão importante e contemporânea quanto o debate sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a luta por termos, todos nós, o direito de sermos amados e aceitos como cidadãos, independentemente da afetividade sexual. A História provou que Larry estava certo. De herético, ele se transformou em um dos heróis do movimento pelos direitos civis dos gays nos EUA", nos diz Murphy." "The Normal Heart" é uma sequência de imagens sobre a vida, a morte, a vulnerabilidade, o governo e os governamentos dos corpos, da saúde coletiva ... mas também dos silêncios, dos "armários" que sujeitam, das lutas dos movimentos sociais e as tensões dentro dos próprios grupos societários com "identidade" de gênero e de orientação sexual... não bastasse tudo isso, é uma bela narrativa sobre o amor que OUSA dizer seu nome, fazendo um trocadilho com a célebre citação de Oscar Wilde.
Verdade, Ionara. Confusão minha na hora de escrever. Obrigado pela correção. :)
Matt bomer não ganhou o Emmy, ele levou o Globo de Ouro e o Critics Choice da TV.