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Crítica


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Sinopse

Dona de uma destreza linguística impressionante, Rachel é convocada pela Mossad para atuar em uma missão em Teerã, capital do Irã. Com identidade falsa e disfarçada como professora de inglês, ela precisa se aproximar de um empresário para não apenas descobrir informações sobre o negócio como também impulsionar a venda de tecnologia nuclear defeituosa ao país, de forma que seja possível ampliar a espionagem. O problema é que Rachel acaba se apaixonando pelo seu alvo.

Crítica

Não é de hoje que existe um certo fascínio pela imagem do espião, seja pelos riscos envolvidos ou mesmo pela possibilidade - por vezes atraente - de encarnar uma vida que não é propriamente sua, em um âmbito bem mais profundo (e perigoso) que a mera arte da atuação. Nesta seara, há dos espalhafatosos aos sorrateiros, dos ícones àqueles cujo nome jamais será conhecido, dos realistas às paródias. O cinema, e tantas outras artes, já exploraram à exaustão cada uma destas vertentes, sendo difícil apresentar uma personalidade propriamente nova. The Operative, baseado no livro "The English Teacher" de Yiftach R. Atir, tenta tal proeza ao adaptar esta persona a uma figura feminina.

Mais que a história em si, o interessante neste longa-metragem é justamente como se adapta ao fato que sua personagem principal é uma mulher e o quanto ressalta, intrinsecamente, o machismo entranhado na sociedade. Senão, vejamos. Se os testes de capacidade e frieza são até corriqueiros, diante do contexto envolvido, há nesta história esforços pontuais no sentido de desmerecê-la e até humilhá-la, explorando unicamente o fato de não ser um homem. Mesmo quando está em atividade, há um momento em que Rachel aceita tacitamente um caso de machismo extremo, quando seu alvo lhe diz que, como está pagando a conta, ele decide sobre o que conversarão.

A questão não é propriamente discordar sobre o modo de agir da espiã que protagoniza The Operative, mas sim como a história é construída para atingir de forma contundente a feminilidade, inclusive sob o âmbito sexual. O que levanta outro questionamento: alguma vez você já viu James Bond, Jason Bourne ou qualquer colega de trabalho sofrer alguma ameaça de cunho sexual? Há entre os homens um certo "código de ética" que afasta tal possibilidade, de forma a não afetar sua potência masculina, enquanto tal artimanha é usada sem o menor pudor quando há uma mulher envolvida. Mais que artifícios narrativos, há um modo de agir baseado no gênero que delimita agressões e ofensas, sendo muito mais invasor quando é ela o alvo. Triste modus operandi, que condiciona a humilhação de acordo com o sexo.

Questionamentos sociais e estruturais a parte, The Operative é um filme um tanto quanto dúbio em sua proposta. Não exatamente no envio de uma agente infiltrada rumo a Teerã e seu raio de atuação na cidade, mas no porquê de tal missão estar em andamento. Por mais que uma justificativa até seja dada, ela jamais é esmiuçada ao ponto de lhe dar alguma credibilidade, soa como desculpa dita ao vento. Isto traz ao filme uma incômoda fragilidade em seu aspecto macro, no que acontece fora de Teerã, por mais que o desfecho traga a sensação de continuação à vista, onde se poderia preencher tais lacunas. Caso se confirme, maniqueísmo escancarado em detrimento de uma história bem contada.

Em meio a tantos problemas, quem consegue segurar a atenção é a dupla Diane Kruger e Martin Freeman, muito mais por seus talentos do que pela construção de tais personagens. Se Freeman mais uma vez exercita seu lado confidente, Kruger surge de cara limpa em um ambiente instigante mas inédito, aprendendo no dia a dia como agir. Sua espiã está longe de ser a agente meticulosamente preparada, o que até lhe dá um aspecto interessante. Mas não há muito além disto.

Convencional e apelando a joguetes convenientes em seu terço final, The Operative é um filme ambicioso no que deseja, mas bem longe de executá-lo a contento. Seja por problemas de roteiro ou mesmo de conceitos embutidos que transmite de forma tão escancarada, é difícil escapar da sensação de decepção ao seu término.

Filme visto em Portugal, em junho de 2020.

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Jornalista e crítico de cinema. Fundador e editor-chefe do AdoroCinema por 19 anos, integrante da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro), autor de textos nos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros", "Documentário Brasileiro - 100 Filmes Essenciais", "Animação Brasileira - 100 Filmes Essenciais" e "Curta Brasileiro - 100 Filmes Essenciais". Situado em Lisboa, é editor em Portugal do Papo de Cinema.
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