Crítica
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Sinopse
Crítica
O primeiro dos muitos códigos cristãos de A Pedreira é a parábola do Bom Samaritano. O pastor beberrão David (Bruno Bichir), em viagem à sua nova paróquia, oferece ajuda a um sujeito desconhecido que está atirado na beira da estrada, aqui denominado apenas como o Homem (Shea Whigham). O religioso trata feridas, dá de comer, mas acaba atingido mortalmente por essa figura quieta. O assassino, então, assume o lugar da vítima, principalmente por vislumbrar nesse momento definidor a oportunidade de começar vida nova, incógnito num fim de mundo. A cidadezinha do Texas em que fica a igreja do ministro de araque é bem importante ao filme de Scott Teems, ainda que suas particularidades não sejam desenvolvidas como poderiam. Todavia, é sintomático que seu empobrecimento, bem como as tensões dela, seja fruto de um preconceito com a população mexicana de tal forma volumosa por ali que transforma a localidade num território bilíngue.
O arcabouço cristão é constantemente alimentado, vide a tentativa do Homem de alcançar a redenção. Mas, ele se define como pecador, ou seja, não tarda a sentir o peso de suas falhas. A Pedreira se guia absolutamente pela moral dos que creem em Jesus como salvador. Tanto que o realizador se aferra à organização das engrenagens alusivas aos dogmas católicos, bem mais do que necessariamente permite aos personagens imporem suas subjetividades. A partir do instante em que o protagonista toma contato com essa realidade empobrecida e em frequente ebulição, é mais comum vê-lo em penitência, como se um símbolo cada vez mais destituído de arestas. O mito do Cordeiro que tira os pecados do mundo com seu sacrifício aparece duplamente em Valentin (Bobby Soto). Primeiro, ele é erroneamente acusado. Sua condenação tem a capacidade de rasurar a culpa alheia. Segundo, o jovem infrator assume o erro cabal, se martirizando para salvar o irmão menor.
O delegado Moore (Michael Shannon), por sua vez, representa a autoridade moral, quem parece estar sempre um passo adiante. Felizmente A Pedreira o lê a partir de seus erros, do preconceito nutrido pelos mexicanos. Infelizmente, Scott Teems não permite um aprofundamento dessa leitura, logo igualmente confinando o coadjuvante importante à área dos arquétipos cristãos. O longa perde a oportunidade valiosa de debruçar-se sobre a dubiedade de um "chefe" colérico que acaba propagando o mal, ainda que acredite piamente estar fazendo o necessário para expurgar a crueldade do entorno. As chagas nas mãos do falso profeta, a pretensa encruzilhada – de um lado a verdade que liberta o espírito, do outro a mentira que garante a liberdade do corpo –, tudo acaba ganhando tintas desgastadas, pelo menos desproporcionais em relação a pouca densidade dos personagens. Há várias conveniências e facilidades utilizadas para simplesmente fazer a trama andar.
As flores roxas que crescem na vizinhança são empregadas como prova do delito do Homem. Não faz sentido que o elemento frágil seja irrefutável. De modo semelhante, soa forçado o gradativo sucesso do novato como reverendo da paróquia abandonada, sobretudo porque seus sermões são bastante apáticos, assim como qualquer manifestação desse protagonista que evidentemente carrega outros fardos do passado. Aliás, a dificuldade de Scott Teems de manter a curiosidade acerca desse personagem aparece acintosamente no paulatino desinteresse quanto ao que ele fazia antes de ser resgatado da sarjeta pelo sacerdote alcoólatra. A colombiana Catalina Sandino Moreno, estrela de Maria Cheia de Graça (2004), então atriz latino-americana em ascensão, ganha a um papel minúsculo, servindo somente como ocasional mediadora feminina dos conflitos masculinos. Em A Pedreira, as alegorias sufocam, determinando a debilidade do conjunto genérico.
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