Crítica
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Na virada do século, Justin Long surgiu no cenário hollywoodiano como uma promessa. Filmes como Duro de Matar 4.0 (2007) e Alvin e os Esquilos (2007) – no qual fazia a voz do protagonista – elevaram seu nome a um estrelato que acabou não se confirmando nos anos seguintes. Isso tanto é verdade que o último longa dele como protagonista a ser lançado comercialmente no Brasil foi a comédia romântica Eu Estava Justamente Pensando em Você (2014), há mais de meia década. Desde então, ou tem participado de curtas, telefilmes e seriados, ou em projetos que acabaram não vingando. Exatamente o caso deste The Wave: Onda Sem Fim, um misto de comédia e aventura que não funciona bem nem como um, muito menos como outro. E para piorar, o que fica evidente é a falta de carisma do ator, que deixou para trás uma cativante irresponsabilidade juvenil e parece não ter conseguido encontrar um substituto à altura na maturidade.
Long, que durante anos interpretou o personagem um tanto atrapalhado, tímido, mas charmoso e dotado das melhores intenções, agora surge como Frank, um advogado que busca lidar com uma vida estagnada. Acontece que ele continua com a mesma cara de adolescente de dez ou vinte anos atrás, com a diferença de alguns fios de cabelos a menos e algumas rugas ao redor dos olhos a mais. Um problema similar ao de Ralph Macchio (o Daniel LaRusso de Karatê Kid: A Hora da Verdade, 1984, que já tem mais de 60 anos e continua parecendo ter vinte – ou trinta – a menos), por exemplo. Pois bem, sem dedicar muito esforço à tarefa que tem em mãos, Long mais fala do que demonstra: comemora um sucesso profissional pelo qual esperava há tempos, se revela desajeitado diante dos colegas de trabalho – por não ser mais o mesmo “jovem” de antes, supostamente – e reclama da falta de interesse da esposa, mais acostumada a passar as noites em frente à televisão e dormir cedo do que em lhe dedicar qualquer atenção mais demorada. Por tudo isso, quando Jeff, um dos seus melhores amigos, o convida para uma noite na cidade, ele até hesita, mas acaba aceitando.
Jeff, por sua vez, tem o rosto de Donald Faison. Qualquer um que o tenha visto em As Patricinhas de Beverly Hills (1995) ou em um dos tantos episódios de Scrubs (2001-2010) sabe bem que o ator é capaz de atuar em apenas um tom, sem muitas variáveis possíveis. Pois é exatamente esse o tipo que apresenta em The Wave: o bobalhão alegre e irresponsável, sempre pronto para a farra, mas incapaz de pensar nas consequências dos seus atos. Os dois vão juntos a uma festa, mas quando a primeira garota lhe dedica mais do que meio minuto de flerte, o que havia provocado a saída abandona o outro sem pensar duas vezes. Frank está sozinho, e sem saber como agir, acaba sendo guiado por uma garota misteriosa – como, invariavelmente, acaba acontecendo nesse tipo de filme. Pois bem, ela o leva até um tal guru, que o apresenta a uma droga considerada por esse “a viagem inesquecível”. Sem questionamentos ou dúvidas, ele aceita o que lhe é oferecido. E é justamente aqui que os problemas começam.
Afinal, é essa a tal “onda sem fim” a qual o subtítulo brasileiro se refere: num piscar de olhos, Frank acorda no dia seguinte, sem ter noção do que lhe aconteceu nas últimas horas. É como se o espectador estivesse diante de mais um capítulo da saga Se Beber Não Case, porém sem a graça dos originais. Além de ter que descobrir o que fez, onde foram parar seus documentos, quem roubou o seu dinheiro e onde foi parar a moça que o acompanhava, também precisa lidar com os compromissos do dia seguinte: voltar para casa e apresentar uma desculpa razoável para a esposa, não se atrasar para o trabalho, comparecer à reunião que pode decidir seu futuro na empresa e evitar que o rombo nas suas finanças seja ainda maior. Como efeito complicador, os efeitos alucinógenos do que experimentou seguem indo e vindo sem avisar, derrubando-o por horas quando menos espera, atrapalhando ainda mais sua jornada em busca da própria verdade.
Pela forma como é descrito, esse poderia ter resultado em um filme no mínimo interessante – ainda que longe de original, uma vez que tal argumento já fora empregado diversas vezes antes. No entanto, a direção pesada do inexperiente Gille Klabin (que antes havia feito apenas curtas e seriados de televisão) se afasta dessa potencial, por não saber alternar entre o cômico e o trágico – tudo resulta tão absurdo que nada mais faz sentido. O roteiro esquemático de Carl W. Lucas (em seu primeiro crédito desde Illegal, 2010), que mesmo diante de uma história na qual as lacunas são bem-vindas faz o favor de deixar tudo bastante claro, evitando mais de uma possível interpretação, completa o conjunto acentuado por um desempenho no piloto automático do protagonista. Justin Long é mais um dos tantos que “quase” foram alguém no mundo do cinema. E The Wave: Onda Sem Fim deixa claro que basta fazer sempre o mesmo, sem se arriscar, para que toda marola tenha, sim, o seu término.
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