Crítica
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Sinopse
Jim Arnaud é um policial do Texas que está tentando criar sua filha na melhor maneira possível. É um retrato tragicômico de uma figura autoritária norte-americana que está falhando tanto no cenário pessoal quanto profissional.
Crítica
Lidando aos trancos e barrancos com a morte precoce da mãe, o policial Jim Arnaud (Jim Cummings, aqui também diretor e roteirista), demonstra seu pesar de maneira inusitada no velório, dançando sem música, alternando momentos de extrema emotividade e rompantes de quase agressividade. A imagem permanece focada nos movimentos desconjuntados do sujeito que representa a autoridade local. Não são poucos os instantes em que é possível rir de trapalhadas, da forma estranha dele se portar, especialmente, diante de situações adversas. Thunder Road é absolutamente dependente desse sujeito. A trama invariavelmente gravita ao seu redor e/ou se desenvolve a partir dele. Os colóquios com o parceiro de ronda, e amigo, são destituídos de frescor, obedecendo ao intento óbvio de posicionar o enlutado num espaço distinto dos demais. Até com a filha pequena há demonstrações do desajuste que, muitas vezes, pode ser confundido com distúrbio mental.
Thunder Road investe na construção de uma aura de excentricidade para caracterizar Jim. Seus cada vez mais frequentes acessos de destempero se tornam temerosos, mas não são investigados devidamente pela câmera que, instaurada a tragicomédia, parece sempre à espera de uma deixa para adicionar outro episódio jocoso. Esse desequilíbrio, observado especialmente da segunda metade do filme em diante, reforça a tese de que o protagonista padece de alguma enfermidade psíquica, algo não confirmado no decurso da trama, mas um agravante se assim entendido. Os demais personagens são meras figuras ilustrativas num percurso totalmente centrado na singularidade desse homem da lei. Enquanto pai, ele se esforça como pode para garantir a afeição da filha – embora a contrarie demonstrando ciúme quando a mesma, que deve ter uns sete anos de idade, pega na mão de um colega. A relação com a ex-mulher é protocolar, seguindo um roteiro batido, sem variações.
Jim Cummings se destaca mais como intérprete que na condição de diretor. Jim ofusca inapelavelmente os coadjuvantes, do que decorre um enfraquecimento do conjunto. É como se as pessoas que fazem parte de sua vida servissem apenas de escadas para ele se expressar. A ligação com a mãe, as dificuldades matrimoniais, a camaradagem com os colegas de trabalho, tudo isso não passa de um ramalhete de desculpas para o ator/diretor ter solos de interpretação, como na já mencionada passagem do velório ou no desabafo considerável no estacionamento da delegacia. O filme literalmente estagna durante alguns minutos para exibir a singularidade do personagem, chamativa, sem dúvida, mas cujo descolamento circunstancial é disfuncional e expõe uma fragilidade conceitual. Certos elementos são arremessados levianamente, como o rabo preso dos colegas e a dinâmica com a família do parceiro, ao contrário da sua, estruturada, não em total frangalho.
Outro indício da debilidade narrativa de Thunder Road é a guinada abrupta que trata, convenientemente, de encaixar peças ao encerramento, senão propriamente feliz, mas conciliatório. Com um evento específico, que não cabe aqui revelar, Jim tem a possibilidade de dar a volta por cima, isso numa situação supostamente sem muitas garantias de prováveis remendos. É um daqueles filmes repletos de boas intenções, de pequenos exageros e descompassos, em semelhante medida, naturais num exemplar de estreia. Afora a inexatidão do quadro psicológico do protagonista, ele é uma figura cativante, capaz de barbaridades, como sacar a arma numa discussão banal – traço insuficientemente estudado como sintoma de um efetivo despreparado, ou algo que o valha –, mas que sobressai pelo carisma e a ingenuidade ao lidar com várias demandas cotidianas, sejam as da família disfuncional ou as dos chamados diários da profissão, turbilhão que trata de lhe sobrecarregar.
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