Crítica
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Sinopse
Jon trabalha como garçom num restaurante de Nova Iorque enquanto persegue o sonho de viver de suas composições para o teatro. Prestes a apresentar o projeto de um musical, ele precisa lidar com as aspirações da namorada, as questões do amigo que busca estabilidade financeira e com a chamada epidemia da AIDS.
Crítica
Se teve alguém que soube aproveitar o período da quarentena imposta pela Covid-19, esse foi Lin-Manuel Miranda. Somente em 2021 ele lançou nada menos do que quatro novos filmes – e todos musicais! Primeiro foi a versão para a tela grande do sucesso da Broadway Em um Bairro de Nova York (2021), no qual aparece como ator, produtor e compositor. Depois vieram as animações A Jornada de Vivo (2021), que colabora dublando o protagonista e assinando todas as canções, e Encanto (2021), da Disney, em que além de ter composto a trilha sonora, também foi autor do argumento que deu origem à trama. Nenhum desses projetos, porém, deve lhe ter sido tão especial quanto tick, tick... BOOM!, afinal, mesmo não tendo se envolvido com as músicas, foi este o longa que marcou sua estreia enquanto realizador. O fato de se tratar da adaptação de um projeto que havia passado pelos palcos, aliado a uma estrutura de cinebiografia que visa homenagear um autor fundamental para o gênero, torna o conjunto ainda mais importante. Tamanha afinidade, por outro lado, poderia resultar em algo indicado somente aos mais entendidos. Felizmente, não é o que acontece.
Há um sentimento de urgência que permeia a narrativa. Jonathan Larson (papel que Andrew Garfield se atira de cabeça, pecando pelo excesso e nunca pelo comedimento, oferecendo um saldo acima do que lhe poderia ser confortável e, por isso mesmo, distante da mediocridade através da qual muito se esconderiam para evitar deslizes) está prestes a completar 30 anos. A juventude, para ele, vai acabar em poucos dias. E a grande pergunta que lhe martela os pensamentos é: o que fez da própria vida até então? Seu sonho era se tornar um autor renomado de musicais, mas há quase uma década tem trabalhado como atendente de uma lanchonete para destinar o tempo livre restante à construção de um espetáculo que atenda seus desejos: Superbia, uma ópera-rock futurista que gera movimentos de admiração por parte daqueles que com ela tem contato, mas, ao mesmo tempo, provoca pouca identificação. Seria artística demais? Ousada além da conta? Ou apenas distante daquilo que se convencionou reconhecer nesses ambientes?
Larson inscreveu seu nome da história não com a primeira, nem com a segunda peça de sua autoria. Foi a terceira, chamada Rent, que o eternizou. Além de ter sido premiada com o Pulitzer, está em cartaz desde 1996 (há mais de vinte anos, portanto) ao redor do mundo, e foi também transformada em filme (Rent: Os Boêmios, 2005). Ele, no entanto, não compartilhou desse fenômeno – nem mesmo chegou a assistir a uma montagem do seu maior trabalho, tendo falecido de uma doença rara, uma dissecção aórtica, provavelmente causada pela síndrome de Marfan, na madrugada da véspera da primeira apresentação! Entre Superbia e Rent, porém, se dedicou à elaboração de algo chamado inicialmente Boho Days, mas depois batizado como tick tick... BOOM! Quando, mesmo após os elogios recebidos, seu esforço inicial não se concretizou, sua agente lhe deu um sábio conselho: “escreva sobre algo que você conhece profundamente”. O resultado está aqui.
Elaborado como um monólogo, tick tick... BOOM! na tela grande ganha outros personagens, mas todos tendo, em resumo, uma única função: orbitar – e tentar sobreviver – ao redor do furacão que era Larson. Muitos saem chamuscados de tamanha proximidade, e em cena esses são melhor exemplificados nas presenças (e posteriores ausências) da namorada, vivida com graça por Alexandra Shipp, e do melhor amigo, um Robin de Jesus (The Boys on the Band, 2020) capaz de aproveitar o círculo por onde trafega para dotar o tipo que defende de uma humanidade quase palpável. Os pais são meras notas de rodapé, e colegas de trabalho (entre eles, uma mal aproveitada MJ Rodriguez) servem apenas para compor cenário. Por outro lado, essas interações possibilitam oportunidades que melhor são aproveitadas pelos números musicais. Ainda que nenhum seja particularmente marcante – como “Seasons of Love”, de Rent, se tornaria anos depois – há vários empolgantes a ponto de permanecer com a audiência, como “Sunday” (a mais criativa das apresentações, não por acaso aquela que conta com uma rápida participação de Miranda), “Boho Days” (que rende uma ótima piada junto ao “penetra” da festa) e “Come to your Senses”, a grande canção “que faltava”.
Por mais que na maior parte do tempo se revele indeciso entre assumir o lado fantasioso que o gênero permite ou investir num viés mais “pé no chão” que a abordagem de uma história real permitiria, tick, tick...BOOM! é dotado de uma energia singular, justamente esse estalar do relógio resgatado pelo título e empregado como senso de inevitabilidade próxima que terminou por determinar a passagem de Larson entre os vivos. Com um final anticlimático, que poderia ter sido melhor desenvolvido para não soar como se jogado diante de uma audiência sem nenhum preparo prévio, ao menos a caminhada até esse ponto escapa do vazio comum de muitos que se empenham em iniciativas semelhantes pela nítida paixão de seu realizador a esse estilo de contar histórias, assim como o comprometimento de um elenco – e de Garfield em especial, que apesar de criar um tipo difícil de simpatizar na maior parte do tempo, nunca o faz de modo indiferente ou impessoal – empenhado em fazer jus a um legado que até hoje repercute. Já seria válido somente como curiosidade. Mas é o algo a mais que contém que garante uma atenção diferenciada.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 7 |
Daniel Oliveira | 6 |
Chico Fireman | 5 |
Francisco Carbone | 8 |
Ticiano Osorio | 7 |
Leonardo Ribeiro | 6 |
Lucas Salgado | 8 |
MÉDIA | 6.7 |
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