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Sinopse

A trajetória e a vida de Tim Lopes a partir do ponto de vista de seu filho, dez anos após a morte de Tim. Um olhar sobre outras histórias além das de quando ele era jornalista, através de imagens de arquivos, depoimentos de amigos, família e admiradores.

Crítica

Quem acompanha documentários brasileiros com certa frequência deve ter percebido uma onda de filmes muito pessoais chegando aos cinemas. Cineastas e roteiristas que buscam em suas histórias de família, em fatos doídos e muitas vezes sem resposta, uma maneira de expurgar algum sentimento de perda, de aplacar uma saudade que machuca. Filmes como Uma Longa Viagem (2012), de Lúcia Murat, Elena (2012), de Petra Costa, e Em Busca de Iara (2014), de Flávio Frederico, são alguns bons títulos nos quais podemos perceber esta vontade dos realizadores em dividir com o público uma dor há muito sofrida, dúvidas que tanto incomodam. Tim Lopes: Histórias de Arcanjo entra nesta mesma seara.

Bruno Quintella, filho do premiado repórter da Rede Globo brutalmente assassinado em 2002, tenta se reconectar com o pai através deste documentário, contando os mais curiosos causos daquele intrépido jornalista. Amigos, colegas e familiares relembram passagens marcantes da vida de Tim Lopes, enquanto imagens de arquivo nos dão a dimensão do trabalho de investigação que ele realizava. Quintella assina o roteiro e busca estes depoimentos, servindo como entrevistador e cicerone da trama, que conta com a direção de Guilherme Azevedo – repórter fotográfico que trabalhou com Tim Lopes em diversas matérias.

O título do doc é bem sacado. Arcanjo é o nome verdadeiro de Tim Lopes (que ganhou o apelido pela semelhança física com o cantor Tim Maia) e, ao mesmo tempo, já deixa claro que veremos um filme que eleva o retratado a algo totalmente puro. Se por um lado, Histórias de Arcanjo não consegue fugir da ode irrestrita, por outro, nos dá uma chance de entendermos tudo o que Tim Lopes representava para sua família, amigos e colegas de trabalho. Um sujeito irreverente, amante do samba, apaixonado por jornalismo e que não temia peitar o desafio que fosse para conseguir sua matéria.

Guilherme Azevedo e Bruno Quintella são hábeis em desvelar as diversas camadas da personalidade de Tim Lopes aos poucos e de forma não linear. O filme começa com a câmera escondida do jornalista para depois fazer um recorte rápido de matérias de tevê que anunciavam o desaparecimento e morte de Lopes. A averiguação acerca do acontecido também é retratada, com direito a Bruno confrontar o investigador que, em seu laudo, havia apontado que a morte do jornalista tinha sido descuido (e culpa) do próprio Tim Lopes. Quintella se mostra um bom entrevistador, não se furtando a fazer as perguntas difíceis ao mesmo tempo em que consegue deixar seus depoentes à vontade.

Tim Lopes: Histórias de Arcanjo faz um retrato significativo do jornalista que dava espaço para os “invisíveis” na mídia – sejam pobres, viciados em drogas, prostitutas. Estas pessoas, tão ignoradas ou menosprezadas pela imprensa, ganhavam espaço humanizado em suas matérias. Conhecido nos últimos anos como um repórter investigativo da TV Globo, Lopes teve um passado relevante no jornalismo impresso, com ótimos textos – colocados em destaque pelo documentário.

Se é interessante conhecer os meandros do trabalho de Tim Lopes, o documentário consegue manter-se igualmente cativante quando se torna ainda mais familiar durante o terceiro ato. A viagem a Itaqui, no Rio Grande do Sul, cidade onde sua mãe e irmãos residem, é bastante emocional e representa um belo fechamento a este retrato do homem, não do repórter. O filme poderia ser mais longo e minucioso a respeito da trajetória de Lopes até se tornar jornalista, mas este pequeno esquecimento não deixa Histórias de Arcanjo menos valioso. Tem tudo, inclusive, para ser usado como material de estudo para faculdades de jornalismo no Brasil todo.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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