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Sinopse

Dax é um grande fã de basquete de rua, e coordena seu próprio time amador. Ele decide gastar todas as suas economias para garantir a classificação da equipe em um campeonato no Harlem, Nova York. No entanto, após uma série de eventos desastrosos, perde o controle do grupo e precisa urgentemente formar uma nova equipe. Para resolver o problema, recruta uma grande lenda do esporte, o incrível Tio Drew, aposentado há anos. Com uma equipe repleta de setentões, Dax acredita que finalmente conseguirá alcançar uma vitória em sua carreira esportiva.

Crítica

Baseado numa leva de comerciais de refrigerante, Tio Drew mostra o retorno espetacular às quadras de um time de septuagenários, então improvavelmente liderados por Dax (Lil Rel Howery), treinador tido como fracassado até por sua namorada, Jess (Tiffany Haddish). A premissa impõe a necessidade da escalação de atores jovens, fortemente maquiados a fim alcançarem a aparência da terceira idade. Estamos na seara da comédia, em tese, propícia a uma série de absurdos e situações nonsense. Todavia, o longa-metragem dirigido por Charles Stone III abusa do humor simplista, com base numa estrutura que nem consegue sustentar a mítica construída inicialmente com as boas sequências que emulam programas esportivos. Vários medalhões do basquete falam sobre o Tio Drew (Kyrie Irving), considerado um astro das quadras a céu aberto nos anos 60, lenda que desapareceu antes de um jogo importante, e que aparentemente nunca mais foi visto pelas redondezas. O protagonista, contudo, o encontra facilmente quando precisa de alguém para ajuda-lo a vencer.

Portanto, assim que surge, Drew demole a sustentação dessa aura legendária, mesmo surpreendendo com a bola nas mãos, deixando moleques petulantes no chinelo. A dinâmica estabelecida entre ele e Dax é batida, com diferenças emergindo na medida em que se amplia a convivência na estrada. Gradativamente, eles entendem que têm algo a acrescentar ao outro. Cada jogador do time antigo, então reunido novamente, é vivido por um grande medalhão real do esporte, especialmente esportistas da ativa ou que fizeram bastante sucesso entre os anos 1990 e os 2000 na NBA. Chris Webber interpreta Preacher, pastor excêntrico, dado a batizar crianças como se estivesse manipulando a bola cobiçada; Lisa Leslie é Betty Lou, a brava e determinada esposa do religioso; Reggie Miller encarna Light, o idoso com a visão prejudicada, o que atrapalha seu antigo dom; Nate Robinson é Boots, o de saúde frágil, internado numa clínica psiquiátrica, mudo e preso à cadeira de rodas; e, finalmente, Shaquille O'Neal é Bigg Fella, o gigante magoado, lutador de artes marciais.

Tio Drew tenta extrair graça da reunião desse grupo de velhinhos que utilizam o basquete para “rejuvenescer”. Mas a inspiração é pouca, tanto a do roteiro, repleto de gags que não funcionam, quanto a da direção, limitada a fazer o básico. No que tange ao desenvolvimento dos personagens, ele atende única e exclusivamente à ideia de superação. Tanto que precisamos suspender bastante a descrença ao ver o entrevado quicar nas quadras, como nos antigos tempos, apenas por colocar seus velhos tênis – que nem estão tão desgastados para ser os fieis companheiros de outrora. Isso também se aplica à evolução meteórica de um time que perde para oponentes adolescentes, demonstrando o peso da passagem dos anos, e imediatamente depois se torna o franco favorito de um torneio dificílimo, somente por todos terem acesso a totens de sua jovialidade. Não se trata de aferra-se demasiadamente à verossimilhança, mas de entender que, mesmo dentro das possibilidades intrínsecas ao terreno jocoso, há coisas que não funcionam. Aqui, a banalidade do exagero dilui as jornadas.

Drax é a argamassa do grupo, percorrendo um caminho surrado, acossado por um trauma do passado. Sua caminhada diz respeito a aprender a olhar para frente. Talentos como Tiffany Haddish são subaproveitados, pois os personagens não têm espessura. Jess é uma consumista interesseira, nada além. Assim como ela, as demais figuras se encaixam mais ou menos em arquétipos, não sobrepujando seus limites. Elemento fundamental em Tio Drew, a maquiagem é, também, um de seus pontos fracos, especialmente a de Shaquille O'Neal, que a todo o momento beira o colapso. Os jogos, propriamente ditos, são apresentados burocraticamente, sem emoção, seguindo uma rota quadrada e previsível. Os desafios intermediários são expostos em clipes, para acelerar o andamento, e os importantes forjam alternâncias de placar, instantes sucessivos de acertos e erros, numa tentativa malfadada de modular a ação. Porém, como a comicidade, tímida e asfixiada pela ausência de timming e conteúdo, a adrenalina sequer é alcançada no decurso das partidas protocolares e anêmicas.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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