Crítica
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Sinopse
Selminha é uma frentista que tem a chance de deixar seus dias de pobreza para trás ao descobrir uma herança de família. Mas, para conseguir colocar a mão nessa grana, ela terá que cumprir o desafio lançado por seu tio: gastar 30 milhões de reais em 30 dias, sem acumular nada e nem contar para ninguém.
Crítica
Se alguém por aí pensa que foi o cinema brasileiro que inventou a fórmula do pobre que fica rico da noite pro dia e não sabe o que fazer com tanto dinheiro, muito se engana. Pois se este mesmo argumento já foi usado à exaustão na trilogia Até que a Sorte nos Separe e deu um desgastado suspiro em Um Suburbano Sortudo (2016), qualquer cinéfilo mais atento irá apontar lembranças de títulos hollywoodianos mais antigos, tendo, provavelmente, como melhor exemplo Chuva de Milhões (1985), clássico da Sessão da Tarde estrelado por Richard Pryor e John Candy. Pois é diretamente nesta fonte que bebe Tô Ryca, veículo para o estrelato na tela grande da comediante televisiva Samantha Schmütz. E por mais que o argumento pareça desgastado, é com satisfação que o percebemos mais uma vez em cena, dessa vez com vigor renovado e discurso em sintonia com o momento atual.
A trama é basicamente a mesma do longa dirigido por Walter Hill: pobretona (Schmütz) descobre que é a única herdeira de uma fortuna, porém, para que possa colocar as mãos na grana, precisa vencer o desafio de, no prazo de trinta dias, gastar R$ 30 milhões. Única condição: tudo isso sem acumular nada em seu próprio nome. Ao invés de investir em um time esportivo ou gastar cada tostão de modo irresponsável, a protagonista decide contra-atacar partindo para uma tática quase inesperada: lançando-se na política como candidata à prefeitura. Se no Brasil de hoje toda denúncia de corrupção termina com ‘pobres inocentes’ donos de nada – é sempre de um amigo – chega a ser curioso ver tal cenário ser aqui desenhado na ficção, ainda mais com uma personagem obrigada a gastar que pretende cumprir o que lhe é exigido de modo honesto e através de uma prática tão malfadada.
O que consegue impedir que Tô Ryca seja mais do mesmo é a habilidade do seu elenco em criar personagens diferenciados, ainda que tenham como fonte um mesmo clichê. A Selminha de Schmütz é desbocada e intempestiva, porém não é uma tola fácil de ser enganada, e estará em seu coração a chave para sua virada. Luane, a melhor amiga interpretada por Katiuscia Canoro, é outro tipo satisfatoriamente real, que não se deslumbra com qualquer coisa e prefere manter o pé no chão antes de se meter em roubada. E quando surge um momento de aperto para qualquer uma delas, será na outra que encontrarão o ponto de apoio esperado, por mais que seus caminhos tentem afastá-las. Marcelo Adnet (como o político falastrão concorrente) e Marcus Majella (como o assistente com segundas intenções) são os mais próximos do estereótipo superficial, e por mais que na maior parte das situações rendam-se à piada fácil, ainda assim contam com carisma suficiente para entregar o que o público espera de cada um.
Depois de um momento em que toda comédia nacional campeã de bilheteria tinha como marca o “padrão Globo de qualidade” (tanto em aspecto como no discurso), o que se percebe agora é que essa corrente está abrindo espaço para um tipo de humor mais sofisticado, ainda que não abra mão de ser popular. E em comum, está a origem nos programas do Multishow, canal a cabo que tem se destacado por investir em talentos próprios e apostar não no óbvio, mas naquilo que pode ser seu diferencial. Foi assim com Fabio Porchat em Meu Passado me Condena (2013) e com Paulo Gustavo em Vai que Cola (2015). Estava mais do que na hora, portanto, de uma mulher também garantir seu espaço. Samantha Schmütz e seu Tô Ryca pode ser essa resposta.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 6 |
Alysson Oliveira | 1 |
Adriana Androvandi | 2 |
Francisco Carbone | 5 |
Diego Benevides | 5 |
MÉDIA | 3.8 |
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