Crítica
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Sinopse
Atormentado por um estranho barulho que vem da parede de seu quarto, o garoto Peter precisa ainda lidar com a incredulidade dos pais que insistem em culpar a sua imaginação. Mas, será que os seus pais não escondem algo?
Crítica
Anunciado como um filme baseado no conto Coração Delator, de Edgar Allan Poe, TOC TOC TOC: Ecos do Além tem quase nada a ver com o texto original. Poe escreveu sobre um personagem obcecado pelo olho cego do senhorio com quem mora. Esse sujeito mata o idoso, desmembra o cadáver e o esconde sob o assoalho. O clímax mostra a confissão do assassino que não aguenta a pressão do inesperado som de um coração que supostamente bate onde não mais deveria existir vida. Portanto, é um conto sobre a paranoia/insanidade levando aos extremos. No longa-metragem dirigido por Samuel Bodin a premissa é completamente diferente. O protagonista é o pequeno Peter (Woody Norman), criança isolada, vítima constante dos valentões de sua classe e fechado num núcleo familiar estranho. Ele começa a ouvir batidas e depois uma voz suplicante vindas diretamente da parede de seu quarto iluminado expressivamente. Desde o começo, salta aos olhos o empenho da direção de arte e da fotografia para garantir a nossa compreensão sobre o cenário e a atmosfera de horror. Então, de um lado, temos a criança desencorajada pelos pais a acreditar em qualquer coisa anormal acontecendo no seu quarto – será que é uma projeção das sensações do menino? –, e, do outro, o visual que afirma sem parar: “estamos num filme de terror”. Vide a casa assustadora, a escuridão do imóvel, o comportamento dos pais, etc.
Um dos princípios fundamentais do suspense é a dúvida. No entanto, as interrogações em TOC TOC TOC: Ecos do Além são mais improdutivas do que instigantes. O realizador não elabora bem as incertezas a respeito do que vemos e percebemos. Ele poderia deixar espaços indeterminados entre aquilo que ao protagonista parece uma verdade aterrorizante e os fatos objetivos. Como fizeram, por exemplo, Roman Polanski em O Bebê de Rosemary (1968) e Jack Clayton em Os Inocentes (1961), ou seja, tornando praticamente indiscerníveis a realidade (sobre)natural e os frutos da árvore da imaginação. Então, o questionamento “será que realmente há uma criança emparedada pedindo socorro ou tudo não passa da projeção da mente em sofrimento precoce?” perde força antes de se estabelecer como fator instigante. De tanto pontuar a estranheza dos adultos, o caráter inquietante da casa caindo aos pedaços, que fica na vizinhança marcada pela tragédia, a atitude, no mínimo suspeita, dos pais desenhados como homicidas em potencial (com direito a passivo-agressividade e vários sorrisinhos medonhos), o filme sobrecarrega a experiência com os excessos de chamarizes. E, especialmente no seu terço final, ele meio que manda às favas o potencial da dúvida e aposta numa correria que tem bastante de genérico e pouco de impacto dramático. O medo poucas vezes se instaura como sensação predominante.
O filme é ciente da tradição à qual busca se filiar e faz questão de ressaltar isso. Tanto que escancara as referências, como as várias feitas a O Iluminado (1981) – o cabelo do menino é igual ao do protagonista mirim da obra-prima de Stanley Kubrick; é semelhante a brincadeira solitária da criança com a bolinha; há a reprodução da famosa cena com um familiar arrombando a porta com a ajuda do machado (até o movimento da câmera é o mesmo). Além disso, as abóboras apodrecendo no quintal, a casa isolada e carcomida pelo tempo, o porão assustador, as lendas urbanas, tudo faz parte do cânone do terror. No entanto, Samuel Bodin não utiliza a intertextualidade (essas conexões com outras obras, ícones e formatos) para desenhar uma jornada deliciosamente autorreferente, como faz o excelente Maligno (2019), cuja construção narrativa é baseada na consciência sobre obras que vieram antes. Peter poderia ser observado como eco (desculpem o trocadilho) do Danny do filme do Kubrick, não como decalque que dele aproveita apenas parte do visual e imita alguns gestos. Ao mesmo tempo, a mão pesada na construção da ambiência cria um clima totalmente propício a perseguições, homicídios e outras formas de agressão típicas do gênero. Porém, não é suficientemente elaborada para ser mais do que uma reprodução de códigos que, no máximo, carrega a boa intenção do dizer sem palavras.
TOC TOC TOC: Ecos do Além desperdiça boas oportunidades de fugir à obviedade, como na cena em que a professora ensina sobre o teor enganoso das aparências por meio de um gesto singelo. Enquanto acolhe o isolamento do menino, ela captura uma aranha aparentemente venenosa e a solta na natureza, assim rompendo com o senso comum de agredir aquilo que parece perigoso. Esse tipo de lição não verbal poderia ser interessantíssimo quando a brutalidade finalmente toma conta do filme, no instante em que os farrapos de ambiguidade são soterrados por uma perseguição um tanto anticlimática – pela forma burocrática de resolver os vínculos familiares. No entanto, Samuel Bodin não faz o link diante do monstro, transformando a professora numa coadjuvante descartável que serve somente como o olhar esclarecido diante de uma realidade duvidosa e quebradiça. Lizzy Caplan e Antony Starr dão conta do recado com seus papeis de pais caracterizados por comportamentos gritantes e indicativos. Não é culpa deles os personagens do pai e da mãe serem tipificados quase ao extremo, mas da concepção da direção que não prevê hesitações, mas certezas sobre essas pessoas que somente poderiam habitar um filme de horror. Já Woody Norman se sai bem como o menino assombrado. Por fim, o antagonista parece a Samara da Saga O Chamado. É outra conexão possível que soa como uma manifestação de fã.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 4 |
Chico Fireman | 5 |
Maria Caú | 1 |
Alysson Oliveira | 2 |
Ticiano Osorio | 6 |
MÉDIA | 3.6 |
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