Sinopse
Tentando construir a toca de seus sonhos, uma jovem coelha acaba acidentalmente cavando a casa dos vizinhos. E essa situação lhe traz uma série de embaraços.
Crítica
Uma jovem coelhinha pretende construir sua casa, mais especificamente a própria toca previamente planejada. Ela tem ferramentas e uma planta-baixa, mas logo enfrenta o imponderado ao perceber-se cercada. Toca fala de uma personagem incomodada pelo fato de futuramente ter vizinhos que, por isso, acaba cavando fundo, já que indisposta a fazer divisa com alguém. Em pouco menos de seis minutos, uma desventura que desemboca numa lição valiosa: o mundo é perigoso e provavelmente será menos hostil e nocivo se estivermos cercados de amigos. A cineasta Madeline Sharafian constrói uma narrativa bastante econômica, valendo-se do aspecto lúdico da animação em 2D – que remonta automaticamente a ilustrações animais de livros infantis – para desenhar esse conto moral em que rapidamente um problema enorme aparece no horizonte e a solução imediata é jogar pela janela concepções, medos e afins com o intuito de sobreviver e alcançar a satisfação.
Toca não parte de uma apresentação extensa da protagonista, inclusive porque inexiste tempo hábil para tanto. A coelhinha se sente completamente encurralada no subsolo escolhido como espaço para sua tão almejada moradia. Diante da sofisticação das tocas conjugadas e dos projetos arquitetônicos alheios, mais complexos que seus rabiscos, fica acanhada. O receio aumenta a sua indisposição pelo contato e a incita a se entocar cada vez mais profundamente. Porém, essa alternativa encontrada para afastar-se dos outros bichos cobra um preço, o gatilho da concepção da mensagem que norteia o curta-metragem. Ao acidentalmente encontrar água nas profundezas, a protagonista coloca em risco todos os demais e, sintomaticamente, a primeira coisa que faz é contrariar um preconceito e recorrer ao morador pretensamente monstruoso. O fato das aparências enganarem reforça o lúdico desse conto com uma abordagem bem direta e pueril.
Indicado ao Oscar de Melhor Curta-metragem Animado, Toca se apropria de códigos do cinema mudo e tem um trabalho de concepção visual calcado num limiar divertido entre a antropomorfização dos animais e a observação de suas características condizentes com a realidade. Alguns vizinhos da protagonista são trajados devidamente como operários escavadores – com direito a capacete de obra e instrumentos propícios ao trabalho subterrâneo –, mas são mantidas suas concepções físicas básicas. Como não existe tempo suficiente para ampliar essa observação, os vislumbres rápidos sugerem, como indícios, uma vontade corroborada pela menção ao infantil do traço alusivo. As motivações, ações e reações são bastante diretas, não havendo espaço para desvios, por exemplo, encarregados de delinear contradições e/ou paradoxos. Há uma personagem lutando contra fragilidades e, devido ao cataclismo iminente, levada a repensar sua posição no mundo.
Toca pega emprestado também das comédias mudas físicas a dinâmica da sucessão de erros e frustrações que acometem a protagonista crescentemente ciente da sua vulnerabilidade. Até chegar ao cúmulo da profundidade, ela empreende tentativas de encontrar um cantinho apenas seu. Cai em casas diferentes, de estruturas parecidas, mas com ligações entre os cômodos prenunciando o encerramento ecumênico e conciliador. Enquanto a coelhinha quer isolar-se, criar uma toca hermeticamente fechada, parte das demais “casas” ao redor têm aposentos interligados, o que alude a um imaginário gregário de interlocução. Assim, com signos facilmente reconhecíveis e alguns elementos de assimilação potencialmente mais subliminar, o curta de Madeline Sharafian ganha em graciosidade os pontos perdidos no quesito originalidade. No fim das contas, a ideia de “a união faz a força” sobressai, após as lições apreendidas no percurso em prol do bem-estar comum.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 7 |
Robledo Milani | 6 |
Lucas Salgado | 6 |
Chico Fireman | 6 |
MÉDIA | 6.3 |
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