Crítica
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Sinopse
Crítica
Quatro personagens. Noventa por cento das cenas num apartamento. Dois casais, em tempos e circunstâncias sentimentais distintos, por ali estão/passaram. Todas as Canções de Amor, primeiro longa-metragem ficcional da experiente Joana Mariani, lida habilmente com a restrição espacial, ganhando pontos por não permitir que a narrativa se torne enfadonha ou caia numa mesmice contraproducente. Os recém-casados Ana (Marina Ruy Barbosa) e Chico (Bruno Gagliasso) se mudam ao local que outrora foi o berço do matrimônio de Clarice (Luiza Mariani) e Daniel (Júlio Andrade), cujo elo é especialmente testemunhado nos instantes em que se dão, inapelavelmente, os penosos passos antes do ocaso. Uma fita cassete é encontrada pela jovem que, não bastasse a obsessão por conjecturar sobre o passado conjugal de outrem, delineado pelas letras das músicas, decide escrever um livro com base nisso. A ponte temporal, assim, é estabelecida na execução da linda seleção de tons da trilha sonora.
Todas as Canções de Amor evita a armadilha de utilizar composições emblemáticas, amplamente conhecidas, como meras ilustrações das ocasiões e/ou das emoções dos personagens. Os exemplares pinçados por Maria Gadu, diretora musical da produção, se entrelaçam organicamente com as situações, possuindo peso semelhante ao da bela fotografia a cargo de Gustavo Hadba ou do desempenho valioso do elenco. A realizadora demonstra criatividade para tratar das vicissitudes afetivas, mirando com doçura essas pessoas que descobrem as dores e as delícias de estar apaixonado. Ana e Chico estão naquela fase de lua-de-mel, com pequenos contratempos sendo rapidamente resolvidos, mas de reincidência, ao longo da trama, sintomática da inevitabilidade dos conflitos e, por conseguinte, da fragilidade de enunciados românticos bastante apregoados. Clarice e Daniel experimentam a sensação dolorosa da incompatibilidade, mesmo obviamente apaixonados e desejosos um do outro.
É difícil não se identificar, em alguma medida, com Todas as Canções de Amor. Ele contempla delicadamente fases comuns dos envolvimentos. Da euforia inaugural, passando pelos silêncios conciliadores e a condescendência, chegando aos instantes de falta de paciência, quando os acúmulos parecem não oferecer saída. Joana promove uma bela interligação entre os casais, recorrendo a procedimentos engenhosos de montagem e transições temporais sem cortes, ou seja, num só plano, que reforçam a impressão de que os quatro representam fases distintas de uma ideia universal, mas não taxativa, de relacionamento. Isso, em que pese a preservação da singularidade dos indivíduos. É arguto esse olhar desbragadamente terno. Marina Ruy Barbosa está ótima na pele da menina instada a lidar com a novidade do casamento; Bruno Gagliasso confere várias camadas a um sujeito apaixonado, mas com certos vícios de outras relações e uma vontade exacerbada de decidir tudo pela dupla. Eles funcionam bem juntos.
Mas, o destaque vai para o duo encarnado por Luiza Mariani e Júlio Andrade, obrigado a vivenciar momentos conturbados, decisões difíceis, e a encarar o fato de que amar não é suficiente. Daniel tem o cotidiano – até ali organizado – bagunçado pela decisão de Clarice de pedir o divórcio, reagindo com um misto de impotência e esperança de reviravolta. Já Luiza Mariani corporifica a figura mais intensa, recebendo instantes preciosos para desfilar seu talento, dançando lambada numa cena emocionante e, paulatinamente, ratificando que ambos são atravessados de maneiras particulares pela finitude do casamento. Essas histórias de amor contadas simultaneamente são argamassadas por músicas diversas, tais como Não Aprendi Dizer Adeus, de Leandro e Leonardo, Chorando se Foi, da banda Kaoma, e Ne Me Quitte Pas, de Edith Piaf, inseridas cirurgicamente para provocar comoção, a fim de desenhar, amavelmente, os casamentos como repositórios de fragmentos do discurso amoroso que nos atinge, a todos.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 7 |
Diego Benevides | 6 |
Robledo Milani | 6 |
Chico Fireman | 1 |
MÉDIA | 5 |
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