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Sinopse

O documentário acompanha as atividades no Girls Rock Camp Brasil, um acampamento só para meninas em Sorocaba, São Paulo, que tem como missão principal empoderar e promover a autoestima das visitantes, através de atividades que envolvem a educação musical, criatividade e feminismo. Lá elas aprendem ainda a tocar algum um instrumento, formam uma banda e se apresentam ao vivo para uma plateia formada por pais, familiares e amigos.

Crítica

Idealizado nos Estados Unidos no início dos anos 2000, o projeto Girls Rock Camp propõe uma experiência de interação social, por meio da música, exclusiva para meninas de 7 a 17 anos de idade. Durante uma semana, as participantes do acampamento aprendem noções básicas sobre algum instrumento, formam uma banda, compõem e apresentam uma canção autoral, se envolvendo num processo criativo que funciona como ferramenta de promoção do senso de coletividade e do protagonismo feminino. Trazida ao território nacional pela socióloga, educadora e guitarrista Flavia Biggs, a iniciativa ganha o registro documental da diretora Carol Fernandes neste Todas as Meninas Reunidas, Vamos Lá, que apresenta a história do Girls Rock Camp Brasil desde a realização de sua primeira edição, em 2013, na cidade de Sorocaba-SP.

Estruturado de modo bastante tradicional e didático, o documentário parte dos depoimentos de Flavia e das outras fundadoras do projeto, bem como de diversas das voluntárias – todas mulheres e, em sua maioria, envolvidas com o meio musical. Os primeiros minutos de projeção focam justamente na apresentação dessas personagens, que narram suas trajetórias pessoais e profissionais como integrantes de bandas, trazendo um interessante recorte da atuação feminina no panorama do rock nacional independente a partir do final dos anos 90, em especial na cena punk. De papel introdutório, porém, essa abordagem logo dá lugar aos relatos do envolvimento de cada uma das entrevistadas com o Girls Rock Camp, que acabam por compor o conteúdo do longa em sua quase totalidade.

Ganhando um extenso tempo de tela, a porção adulta das mulheres assume o protagonismo da obra, com a cineasta Carol Fernandes direcionando seu olhar para o impacto do projeto sobre elas, e não sobre as jovens campistas. Tal ponto de vista, obviamente, não deixa de ter seu valor, afinal, a transformação e a realização pessoal das idealizadoras e instrutoras também fazem parte do objetivo geral da empreitada. Todavia, sente-se a falta do aprofundamento nas percepções das meninas sobre a experiência, por mais que seja compreensível o desafio de lidar o público infantil. De seus depoimentos, Fernandes pouco consegue extrair, indicando um direcionamento excessivo e limitador na condução das indagações, que impossibilita a captação da riqueza da espontaneidade, do inesperado.

Os tópicos relevantes que integram discussões extremamente atuais sobre o papel da mulher na sociedade são abordados, mas acabam desenvolvidos apenas superficialmente, caindo num tom repetitivo, algo que tem reflexo direto também na esfera visual – composta de um apanhado de imagens que pouco diferem umas das outras, mostrando as atividades do acampamento, que incluem ainda aulas de skate, defesa pessoal e serigrafia, entre outras. Nesse quesito formal, o documentário soa primário, fazendo crer que boa parte do material tenha sido filmada previamente de modo amador, apenas como um registro particular e não com o intuito de ser utilizado cinematograficamente. Não há um padrão estético, sendo, por exemplo, perceptíveis as variações de iluminação e de qualidade de imagem a cada passagem, bem como de captação de som.

Tal aspecto de matéria bruta, pouco lapidada, não chega necessariamente a invalidar as boas intenções de Todas as Meninas Reunidas, Vamos Lá, que corroboram os próprios propósitos do acampamento. Fica clara a seriedade e o valor do projeto, sendo possível compreender sua importância para as envolvidas – a alegria das garotas no dia da apresentação das bandas, o encontro com modelos femininos dos mais variados, a elevação da autoestima, a noção da liberdade para serem e fazerem o que quiserem sem a imposição de uma figura de autoridade masculina etc. Contudo, o conteúdo apresentado não se mostra suficiente para sustentar um longa-metragem, nem para romper o caráter de peça institucional que o envolve e impede que a força dos conceitos defendidos pelo Girls Rock Camp seja plenamente transmitida.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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