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Sinopse

Em meio às folias do Carnaval, Carol descobre que foi traída por Beto. Inconformadas e solidárias, as amigas dela. que encaravam um período alternativo à festa, resolvem abandonar seu período "detox" para arrastar Carol para o fervo dos blocos. Enquanto isso, Beto, com a ajuda de sua amigo Diego, sai em busca de uma redução de danos.

Crítica

Os personagens principais de Todo Carnaval Tem Seu Fim se conhecem desde a faculdade. Esse traço frequentemente mencionado poderia ser utilizado pelos cineastas Vitor Baumgratz e Paulo Leite para substanciar os elos, fazendo assim do passado um componente essencial para que entendêssemos o presente de solidariedades às vezes incondicionais. Todavia, não é o que acontece. Quando muito, há menções de fulano que ficou com beltrana na época da graduação, sem que isso diga grande coisa. Aliás, o longa-metragem é um emaranhado de circunstâncias encenadas de maneira ordinária, como se nada daquilo tivesse real importância, do rompimento do casal prestes a começar uma vida conjunta aos vínculos que fazem os conhecidos procurarem entre si emplastros para amenizar dores de amor. Beto (Gutto Szuster) confessa à sua namorada, Carol (Thamiris Mandú), que deu “uma escapadinha”, ou seja, que a traiu fortuitamente, com uma colega de trabalho. O rompimento motiva a vinda das amigas dela que estavam descansando durante a folia.

Paola (Tóia Ferraz) é a casada que lança mão dos lugares-comuns matrimoniais – “não transamos mais”, “os filhos atrapalham a rotina”, “nossa libido praticamente inexiste”, “já chegamos à fase da acomodação”. Maira (Renata Fasanella) é, das três, a que pensa em encontrar um homem legal para “aquietar”, uma vez que não vê mais sentido em programas descompromissados e na variação de parceiros sexuais/amorosos. Portanto, essas protagonistas estão, cada uma à sua maneira, em lugares de insatisfação, constatação completamente ignorada pelos realizadores que preferem atropelos e enfileirar banalidades, instaurando, inapelavelmente, o enredo num espaço infértil. Num primeiro momento, o filme alterna tentativas das amigas no sentido de tirar Carol da fossa, buscando convencê-la de que a melhor forma de curar dores do coração é se atirar nos braços da festa popular, e a conversa mole de Diego (Johnnas Oliva), melhor amigo de Beto, sujeito histriônico e sem graça.

As tolas interações masculinas são sintomáticas do andamento narrativo modorrento, com pontos abordados num tom de brincadeira adolescente. Todo Carnaval Tem Seu Fim começa informando que foi rodado no carnaval paulistano, inclusive agradecendo as pessoas que funcionaram como figurantes – algumas, aliás, aparecem com o rosto borrado, denotando a não autorização do uso de imagem. Disso poderíamos ter a genuinidade da atmosfera, a apropriação da estética e da energia dos blocos que o fiapo de trama atravessa. Mas, nem isso acontece. Vitor Baumgratz e Paulo Leite preferem desenhar um percurso involuntariamente destrambelhado, apostando em dinâmicas que simplesmente não engrenam. Exemplo disso a festa na casa do ex-jogador uruguaio. Difícil determinar o que é mais postiço nessa sequência, se o sotaque macarrônico de Rafael Mentges (como o de todos os demais estrangeiros) ou a intensidade dramática da chegada da residente intrusa. Nessa seara também se instauram os pontos de vista enviesados, vide a câmera torta por puro fetiche.

Todo Carnaval Tem Seu Fim não consegue concatenar seus fragmentos ao ponto deles constituírem um painel coeso e consistente. A trilha sonora oferece tintas engraçadinhas em instantes supostamente solenes e as coincidências se acumulam, engrossando a prevalência da conveniência e do artificialismo. Beto caindo novamente em tentação num beco inóspito, depois de tanto relutar, seria uma conjuntura válida, não fosse a desfaçatez dos idealizadores de colocarem a ex-namorada dele e as amigas passando exatamente ali no instante em que um beijo sela a aquiescência do sujeito. Claro que certos encontros podem ser explicados pelas sinalizações dos foliões nas redes sociais, mas são muitas as assembleias aleatórias. Para piorar, num panorama em que os personagens se esvaem em meio a inúmeras incongruências, o encerramento beira o risível e/ou o constrangedor. O clímax expõe a falta de algo que faça o filme ter motivos suficientes de ser.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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