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Sinopse
Quando sua irmã se casa, Laura retorna à Espanha para acompanhar a cerimônia. Por motivos de trabalho, o marido argentino não pode ir com ela. Chegando no local, Laura reencontra o ex-namorado, Paco, que não via há anos. Durante a festa de casamento, uma tragédia acontece. Toda a família precisa se unir diante de um crime de grandes proporções, enquanto se questionam se o culpado não está entre eles.
Crítica
Somente a reunião do casal Javier Bardem e Penélope Cruz com o astro argentino Ricardo Darín em um mesmo projeto já seria suficiente para despertar a curiosidade de cinéfilos e admiradores do trio ao redor do mundo. Mas Todos Já Sabem vai além, pois coloca no comando dessa empreitada o diretor e roteirista Asghar Farhadi, vencedor de não um, mas dois Oscars de Melhor Filme Estrangeiro (A Separação, 2011, e O Apartamento, 2016). Pois se os ingredientes parecem imbatíveis, é com espanto que percebemos, durante o desenrolar da história, que a receita simplesmente não dá liga. Não que isso signifique que o filme é desprovido de méritos – muito pelo contrário, aliás. A questão é que a soma resulta em algo inferior ao valor dos seus elementos em separado. E diante de toda a expectativa levantada, tamanha frustração tem o seu preço a cobrar.
Assim como em Procurando Elly (2009), Farhadi mais uma vez constrói sua trama a partir do desaparecimento de um personagem. Se antes, no entanto, esse recurso servia mais para analisar aqueles que permaneciam em cena, dessa vez ele demonstra estar interessado no episódio em si. Laura (Cruz) e os dois filhos chegam ao vilarejo no interior da Espanha onde ela nasceu para o casamento da irmã, vindos da Argentina, onde foi morar após se casar com Alejandro (Darín). Durante a festa dos noivos, a filha mais velha dela é sequestrada, e logo surge um pedido de resgate: $ 300 mil euros, e a ameaça de que, caso a polícia seja notificada, a sobrevivência da garota não será garantida. Dentre todos os familiares e amigos, o mais empenhado em ajudar a mãe em desespero é Paco (Bardem), seu ex-namorado. Os dias, no entanto, vão passando, e sem um avanço nas investigações, o pai é chamado às pressas – ele havia ficado em casa por compromissos profissionais. Mas nem tudo é como se anuncia – como é de praxe no gênero.
Como o título anuncia, os envolvidos – os pais dela, a família do noivo, primos e tios, vizinhos e conhecidos – acabam, de um jeito ou de outro, a par do ocorrido. Mas o que, de fato, todos já sabem? Do sequestro? Das motivações que levaram ao crime? Ou de um segredo familiar que serve como pano de fundo para esse episódio? Um pouco de cada é a conclusão mais provável. Só que, ao contrário do que o espectador é levado a acreditar, ninguém, de fato, sabe de coisa alguma. Há dúvidas, desconfianças, mas a certeza inexiste, contrariando o próprio batismo. E se por momentos a audiência é levada a se imaginar diante de uma história digna de Agatha Christie – como o recente Assassinato no Expresso do Oriente (2017), que também contava com Penélope Cruz no elenco, e no qual não havia um único culpado, e sim todo suspeito tinha a sua parcela de culpa – logo Farhadi deixa essa possibilidade de lado, contentando-se em se manter restrito a um desenho de ação mais convencional: há um responsável, um por quê, e uma consequência da qual não será possível fugir.
Se Penélope surge estonteante, evidenciando em sua composição a boa escolha em ter partido rumo a uma vida melhor, logo que a tragédia se anuncia ela se recolhe a uma fachada de derrota, sombria e combalida pela angústia – e sem muito com o que contribuir dali em diante. Ricardo Darín, que entra no filme após mais de uma hora de ação, surge num registro oposto ao que lhe tornou popular, como um homem fraco, desprovido de recursos e que pouco tem a fazer frente ao inevitável. Teria sido justamente esse caminho contrário às expectativas a razão por ter se envolvido no projeto? Uma decisão controversa, pois se há alguém digno de atenção, esse é Javier Bardem, que se esforça para entregar o tipo mais complexo do elenco, sem medo em se aprofundar nas relações com aqueles ao seu redor. Feliz com a vida que leva, fica evidente o quanto a chegada da velha amiga mexe com ele, e o peso que as revelações de última hora despejam sobre seus ombros tornam críveis os atos pelos quais será responsável a partir desse ponto.
Há muito o que se observar em Todos Já Sabem. A religiosidade, um elemento bastante latino, é um destes pontos em questão. A força das aparências, a fidelidade conjugal, a evolução sócio-político-econômica da Europa e a moral daqueles que já não possuem esperanças também encontram espaço no discurso adotado. No entanto, tudo é mais apontado do que observado com a devida atenção. O que Farhadi oferece, em última análise, é a impressão de preferir emular conceitos muito caros à cineastas como Julio Medem (Árvore de Sangue, 2018) ou Pablo Trapero (A Quietude, 2018), que também demonstraram recentemente essa vontade em abraçar o dramalhão de um modo mais despudorado. Porém, se esses partem desse universo de forma natural, brincando com essas convenções em excessos calculados, o realizador iraniano tenta se apossar destes recursos sem a habilidade que somente a vivência poderia oferecer. Como resultado, temos algo desajeitado, que por diversos momentos ambiciona ir além do prometido, mas acaba por se contentar bem aquém do potencial anunciado.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 5 |
Roberto Cunha | 7 |
Francisco Carbone | 3 |
Leonardo Ribeiro | 6 |
MÉDIA | 5.3 |
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