Crítica
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Sinopse
Depois de um primeiro encontro que anunciava uma conexão perfeita, Bea e Ben são vítimas de algo que esfria essa relação de modo acelerado. Isso até que ambos sejam convidados a um casamento na Austrália.
Crítica
Assistindo a Todos Menos Você é quase inevitável a sensação de “já vi essa história antes”. Isso porque o roteiro assinado por Ilana Wolpert e Will Gluck é ligeiramente inspirado na peça Muito Brulho por Nada, de William Shakespeare, que teve a sua primeira apresentação em 1598. De lá para cá, muitas histórias beberam dessa fonte estabelecida como uma espécie de paradigma quando se trata de duas pessoas aparentemente incompatíveis que vivem às turras, mas destinadas a se apaixonar uma pela outra. Alguns elementos da peça são aqui transportados à atualidade, mais especificamente ao universo da juventude pertencente a uma classe social abastada – de certo modo equivalente à realeza do texto original. Os protagonistas são Bea (Sydney Sweeney) e Ben (Glen Powell). Ela, repleta de dúvidas existenciais, descrente no amor e prestes a trancar a faculdade de direito que satisfaz mais aos pais do que a si própria. Ele, um solteirão convicto, sujeito que tem medo de se envolver. Um dia, os dois se conhecem de modo fortuito, bem mais por inciativa dele, é verdade, têm uma noite incrível juntos, porém são atrapalhados pelas dificuldades de lidar com um possível amor. Desencontros que transformam dois potenciais amantes em praticamente inimigos obrigados a conviver num fim de semana agitado e paradisíaco na Austrália – onde se casarão a irmã mais velha dela e uma amiga dele.
Também diretor dessa empreitada, Will Gluck não procura subverter a fórmula, mas apenas consagrá-la com mais um filme leve e despretensioso. Então, no quesito originalidade, Todos Menos Você perde pontos, não necessariamente por recontar uma história para lá de conhecida (com quase 450 anos e, repita-se, aproveitada inúmeras vezes ao longo desse tempo). Sabemos exatamente o que vai acontecer com esses turrões que insistem em se odiar a despeito das evidências de que poderiam fazer bem um ao outro. Gluck é conservador também no modo como desenrola essa trama, preparando os ganchos com muita antecedência e raramente quebrando expectativas. Aparentemente, ele estava desejando fazer um confort movie, como chamamos as produções cinematográficas suaves, pouco incisivas, que existem para deixar os nossos corações quentinhos – sem a necessidade de uma mente alerta. E isso é evidenciado pela apresentação e resolução superficial das situações, bem como em virtude das respostas simplistas com toques sentimentais para tirar do caminho os problemas aparentemente complexos. No entanto, é preciso analisar um filme por aquilo que ele é, ou seja, pelo modo mais ou menos consciente como emprega determinados elementos e faz uso de certo arcabouço estético para contar a jornada de um modo. Ponderando assim, o filme é agradável e divertido.
Os dois principais destaques de Todos Menos Você são os protagonistas Sydney Sweeney e Glen Powell. Ele funciona como esse rapaz profissionalmente bem-sucedido, de poucas dificuldades sociais evidentes, mas que encara o amor como contratempo – embora em alguns momentos o roteiro imponha a ele comportamentos e falas que contradigam essa desconfiança no romance. Já ela tem um pouco mais de margem de manobra para fazer de sua personagem uma figura com nuances (negadas a ele). Bea tem questões mal resolvidas com o antigo noivo, morre de medo de contar aos pais o desejo de interromper os estudos porque ainda não se encontrou e encarna bem a mocinha furiosa com o mocinho de quem, sabemos, ela acaba gostando. Num panorama cada vez mais sexualmente asséptico das grandes produções hollywoodianas, também é bem-vinda a carga erótica do filme. Embora seja estrategicamente domesticada para não ferir os preceitos da comédia romântica bem-comportada, a sensualidade é um componente latente na ciranda amorosa repleta de erros e problemas de comunicação. Will Gluck consegue capturar a voltagem erótica estabelecida entre os protagonistas, o que acaba valorizando os instantes de desacordo, pois essa tensão contínua também é oriunda da repressão do desejo, desses corpos atléticos e tonificados impedidos parcialmente de extravasar por meio do sexo.
Então, Todos Menos Você aproveita com relativa competência os clichês desse tipo conhecido de filme, mostrando protagonistas errando bastante até finalmente encontrarem soluções a dois – com direito à típica cena presente nas comédias românticas do mocinho correndo para algo extraordinário que funciona como o desabrochar definitivo da paixão. A Austrália é utilizada simplesmente como uma moldura exuberante para embelezar ainda mais as imagens desse filme repleto de pessoas lindíssimas vivendo um fim de semana intenso em torno do casamento de duas jovens que têm pouquíssima importância ao enredo. Aliás, o casório é estritamente uma desculpa para unir personagens em ambientes comuns durante o espaço de tempo suficiente para determinadas sementes germinarem ao ponto de oferecer a possibilidade de algo novo (no caso, o relacionamento que pode apaziguar ambos os protagonistas). Sydney Sweeney e Glen Powell desempenham muito bem seus personagens pouco profundos, encarnando arquétipos consagrados pela repetição ao longo dos séculos, mas demonstrando mais do que carisma. Eles ajudam a transformar essa trama batida numa experiência agradável, senão instigante ou mesmo propositiva, ao menos capaz de entreter por cerca de 100 minutos sem entediar. Por incluir o sexo na equação, não infantilizando personagens, o filme já mereceria receber créditos.
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