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Sinopse

Jerry se muda para um dos hotéis mais luxuosos de Nova Iorque às vésperas do "casamento do século", que será lá comemorado. Isso força a organizadora a contratar os serviços de Tom, assim reacendendo uma das rivalidades mais conhecidas dos desenhos animados.

Crítica

Criados há exatos 81 anos – a data de “nascimento” da dupla é 10 de fevereiro de 1940, quando o primeiro curta por eles estrelado, Puss Gets the Boot (quando ainda se chamavam Jasper e Jinx), chegou aos cinemas – Tom & Jerry são personagens que, durante todo esse tempo, fizeram basicamente uma única coisa: um perseguiu o outro, enquanto esse sempre dava um jeito de escapar na última hora, fazendo o primeiro pagar pela tentativa de caçá-lo da pior maneira possível. Não houve evolução, mudança ou avanço em suas intenções – e talvez seja justamente esse o segredo do sucesso deles até hoje. Portanto, ao chegaram, enfim, às salas escuras em grande estilo, dois grandes perigos haviam: serem “domesticados”, ou seja, amenizados em suas correrias e demonstrações de violência, e, por outro lado, se tornarem coadjuvantes de sua própria história. Felizmente – e surpreendentemente – o longa de Tim Story consegue habilmente desviar dessas duas armadilhas, fazendo de Tom & Jerry: O Filme uma surpresa curiosa.

Em tempos de politicamente correto, seria natural que os excessos cometidos por Tom e Jerry se tornassem motivo de “cancelamentos” ou protestos mais efusivos. Porém, é preciso ter a noção de que o gato e o rato criados por Joseph Hanna e William Barbera há quase um século praticam aquilo que se convencionou chamar de “violência sem consequência”. Ou seja, podem literalmente explodir a si mesmos, caírem do alto de um prédio de dez andares ou destruírem um delicado telhado de vidro, que nada de grave irá lhes acontecer. As crianças que os acompanharam durante o século XX, até por não serem tão mimadas e protegidas por pais e babás – e até mesmo pelos desenhos animados, pois o acesso a eles era limitado a determinados dias e poucas horas na semana – tinham mais claro que tudo se passava de mera fantasia, e certamente pensariam duas vezes antes de tentar reproduzir o que fora visto em cena na vida real. Porém, como será que os pequenos espectadores dos anos 2000 – ou, mais precisamente, dos anos 20 desse novo século – irão reagir a esses abusos, quando eles próprios são filhos de uma realidade que tudo lhes oferece em demasia?

Bem, essa é uma questão a ser pensada por pais e educadores. No entanto, Story e o roteirista Kevin Costello (da série Jean-Claude Van Johnson, 2017) demonstram ter algo claro ao assumirem o comando desse Tom & Jerry: O Filme: fazer um longa para aqueles que já são fãs dos personagens (sem esquecer, é claro, de também se comunicar com os recém-chegados) ao invés de criar mais uma trama de origem – a qual todos essas figuras clássicas volta e meia se veem sujeitas – que sirva de introdução àqueles que nunca ouviram falar deles (por mais que, sabiamente, consigam também fazer isso). Assim, o espectador desavisado não irá se frustrar ao acompanhar o gato Tom na sua tentativa eterna de se livrar do rato Jerry: os duelos entre os dois seguirá indo até os limites do impossível (ou além, dependendo da situação). Exatamente como sempre foi durante estas últimas oito décadas.

Tom está tentando a sorte em Nova Iorque, e sonha em se dar bem como músico de rua no Central Park. Jerry, por sua vez, está em busca de um lar, mas sem muitos fundos para lhe garantir um lugar confortável, acaba se metendo em uma apresentação do gato – enquanto o maior toca seu teclado eletrônico, o pequenino surge dançando e conquistando a simpatia dos passantes. Claro que a interferência de um na performance do outro não irá terminar bem, e assim tem início uma inimizade sem data para acabar. Ela irá adquirir novas dimensões quando o roedor decidir se esconder em um luxuoso hotel em frente ao parque. A nova contratada – papel que Chloe Grace Moretz defende com desenvoltura – recebe a incumbência de se livrar do incômodo, e para isso decide colocar um gato (quem mais, se não o próprio Tom?) no encalço da diminuta ameaça. Mas é claro que nada será tão simples quanto se poderia imaginar.

Um dos acertos da produção é que todos os animais são desenhados – e não apenas Tom e Jerry. Assim, teremos também o cachorro Spike (voz de Bobby Cannavale), além de tigres, pavões, elefantes e outros gatos e ratos, é claro. Mas o resto é real, numa combinação entre live action e animação que funciona em perfeita sincronia. E por mais que trama humana seja uma tanto redundante – um casamento milionário que irá ocorrer no citado hotel e tem tudo para dar errado, ao menos até a influência certeira (primeiro para destruir, depois para consertar) dos protagonistas – as gags visuais recorrentes desse universo se fazem presentes, sem exageros ou desgastes, mas usadas nos momentos mais apropriados: o tombo que deixa a marca do corpo no chão (ou nas paredes), as versões em miniatura como anjo e diabo em discussão, os diversos planos que causam mais transtornos do que soluções, e por aí vai. Em Tom & Jerry: O Filme, ao contrário do longa homônimo (todo animado) de 1992, a sensação de reencontro com velhos amigos está presente do início ao fim – e será como se não houvesse passado um único dia desde o último ‘até logo’.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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