Crítica
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Sinopse
Lara Croft é a independente filha de um excêntrico aventureiro que desapareceu quando ela mal tinha chegado à adolescência. Agora, uma jovem de 21 anos e sem nenhum foco ou propósito na vida, faz entregas de bicicleta nas caóticas ruas de Londres, ganhando apenas o suficiente para pagar o aluguel, e cursa a faculdade, raramente conseguindo ir às aulas. Contrariando os pedidos finais de seu progenitor, ela deixa tudo para trás em busca do último destino em que ele foi visto: um lendário túmulo em uma mítica ilha possivelmente localizada ao longo da costa do Japão.
Crítica
Logo após Angelina Jolie ganhar seu Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por Garota, Interrompida (1999), qual foi a primeira produção de peso que ela estrelou? Lara Croft: Tomb Raider (2001), a estreia na tela grande da heroína dos jogos eletrônicos. Quase vinte anos se passaram, e assim que Alicia Vikander colocou suas mãos na estatueta dourada recebida por sua performance como coadjuvante em A Garota Dinamarquesa (2015), qual blockbuster que ela rapidamente aceitou ser protagonista? Tomb Raider: A Origem. Como se o mundo – e os fãs – precisassem de mais um filme com a personagem. Afinal, assim como as duas incursões anteriores – Jolie esteve ainda em Lara Croft: Tomb Raider – A Origem da Vida (2003) – essa mais recente também não é uma exceção à regra de que toda adaptação de um videogame é inferior à fonte na qual se baseou.
De olho nestas trajetórias similares, duas coisas se depreendem: primeiro, chega a ser impressionante o quanto ainda apostam no poder de um Oscar, como se nerds vidrados no mundo dos videogames se importassem com os melhores da Academia. E, segundo, como ainda são raros bons papéis femininos em filmes de ação, a ponto de ter que reciclar um que, obviamente, não só já está desgastado, como também desprovido de novas ideias. O diretor norueguês Roar Uthaug até chamou alguma atenção com as produções que realizou no seu país de origem – principalmente A Onda (2015), premiado como Melhor Filme no Amanda Awards, o ‘Oscar’ da Noruega – mas essa sua incursão inicial em Hollywood é mais do que problemática. Totalmente desprovida de personalidade, é um típico filme de produtor, que atira para todos os lados tentando acertar o maior público possível, e acaba não agradando ninguém de fato.
A história, bem de acordo com o público a que se dirige, é absurdamente simples. Senão, vejamos. De origem esse filme pouco inova, pois assim como no citado Lara Croft: Tomb Raider, Lara (Vikander) é uma menina que cresceu sem pai, um milionário aventureiro que sumiu do mapa sem deixar vestígios na sua última missão. Determinada a encontrá-lo, ela se recusa a aceitar sua morte e, após descobrir algumas pistas do seu possível paradeiro, parte rumo ao mesmo destino: uma ilha supostamente despovoada na costa do Japão. É lá onde ele acredita estar o túmulo de Himiko, a primeira imperatriz japonesa, uma figura que espalhava morte e destruição por onde passava até ser traída pelos seus próprios generais, que a teriam enterrado viva. Vilões estariam no seu encalço, determinados a possuírem o mesmo poder. E o pai, assim como agora a filha, estava decidido a fazer de tudo para impedi-los, tarefa que caberá a ela desempenhar.
A estrutura narrativa de Tomb Raider: A Origem é igualmente simplória, desenvolvida como etapas de um jogo de computador. Temos a fase de apresentação, pelas ruas de Londres, onde mostra sua força e habilidade. Depois vamos para o outro lado do mundo, ao chegar ao porto de Hong Kong, onde, antes de encontrar um aliado (Daniel Wu, astro asiático que só tem feito coisa boa nos Estados Unidos, como Tempestade: Planeta em Fúria, 2017, e Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos, 2016, #sqn), ela precisa mostrar seu fôlego e destreza por canais e embarcações locais. Uma vez na ilha amaldiçoada, se deparam com os bandidos (Walton Goggins, que é um ótimo ator quando possui o material certo em mãos – como visto em Os Oito Odiados, 2015 – mas não quando diante de desastres anunciados). Pra completar, há ainda o careteiro Dominic West – que a acompanha em diversos e cansativos flashbacks – e até o desperdício de Kristin Scott Thomas, em duas participações pontuais que servem apenas para reservar um espaço que deve ser melhor explorado numa eventual continuação (cujo caminho é preparado, mas que desde já podemos rezar para que não aconteça).
Desprovido de qualquer originalidade, resta ao espectador tentar se divertir na busca por todas as referências – para não dizer plágios – que o roteiro da novata Geneva Robertson-Dworet e de Alastair Siddons (Não Ultrapasse, 2016) espalha pela trama. Os mais atentos perceberão: tudo já foi visto antes. A ponte para transpor um precipício que após o cruzamento é jogada no abismo, o avião abandonado prestes a cair numa cachoeira, a perseguição pelo rio bravio, as charadas espalhadas rumo ao mausoléu, até mesmo a corrida de bicicleta pela cidade grande – não há nada que já não tenha sido visto antes, e melhor. Alicia Vikander pode até ter se esforçado, mas continua diminuta e franzina demais para convencer no papel – ela é melhor no arco e flecha do que nas lutas corporais – e seu rosto inexpressivo não colabora em nada com o resultado final. Em resumo, chega a ser constrangedor ter que admitir, mas é preciso: quando será mesmo que Angelina Jolie sairá da aposentadoria?
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