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Sinopse

Casey, uma adolescente otimista e vibrante com curiosidade científica, e Frank, um gênio desiludido, embarcam em uma missão repleta de perigos para desvendar os segredos de um local enigmático em algum lugar no tempo e no espaço conhecido como Tomorrowland. O que eles devem fazer lá mudará o mundo – e eles – para sempre.

Crítica

Com quase US$ 200 milhões à disposição, Brad Bird decidiu recusar o convite para comandar o sétimo longa da saga Star Wars para investir em um projeto mais pessoal e autoral. O resultado é Tomorrowland: Um Lugar Onde Nada é Impossível, um filme que não é nem uma coisa, nem outra. O diretor vencedor do Oscar pelas animações Os Incríveis (2004) e Ratatouille (2007) e responsável pelo campeão de bilheteria Missão: Impossível – Protocolo Fantasma (2011) – que arrecadou quase US$ 700 milhões em todo o mundo – tropeçou feio neste novo projeto. O mais curioso é que ele peca justamente nos pontos em que deveria inovar. Por exemplo, ainda que a trama passe a maior parte do tempo discutindo o futuro, é impressão que se tem é a de se estar assistindo a uma obra feita três ou quatro décadas atrás. Sem falar nos efeitos especiais, que devem ter consumido boa parte do orçamento e se revelam tímidos na tela. Por fim, nem mesmo os atores de maior destaque do elenco justificam a atenção, pois os principais nomes possuem tempo reduzido em cena.

Qualquer conhecimento básico de neurolinguística indica que se deve evitar uma expressão que contenha dois termos negativos em sequência, como é o caso do inacreditável batismo nacional Um Lugar Onde Nada é Impossível (!) – muito mais sentido faria se chamar Um Lugar Onde Tudo é Possível! A não ser que a própria distribuidora, não confiando no potencial do produto que tinha em mãos, tenha decidido enviar uma mensagem subliminar logo de cara. Afinal, a tal Cidade do Futuro – ou Terra do Amanhã, para sermos mais fieis – é exatamente isso: um ambiente em que a principal diretriz é o que a imaginação e a criatividade ordenam. Para tanto, até o próprio Einstein é citado em uma passagem, com o frase “um boa ideia vale mais do que todo o conhecimento do mundo” (ou algo do gênero... vocês pegaram o sentido).

No entanto, ainda que este seja o nome do filme e o centro da ação, é também o lugar menos explorado da história. Passa-se muito pouco tempo na tal Tomorrowland, e quando lá enfim chegamos, são em ambientes fechados onde a trama restante se encerra. Na maior parte do tempo, acompanhamos dois momentos distintos. No primeiro temos um garoto chamado Frank Walker (Thomas Robinson, de Coincidências do Amor, 2010) que vai até a Feira Mundial de Nova York em 1964 para apresentar sua mais recente invenção: um jato propulsor para ser usado nas costas e que possibilita que os seres humanos possam voar. Nix (Hugh Laurie) não leva muita fé na proposta, mas Athena (Raffey Cassidy, a jovem princesa de Branca de Neve e o Caçador, 2012) decide confiar no menino. Assim, lhe oferece um pin que, quando tocado, serve de porta de acesso a este mundo novo e incrível.

Muitos anos se passam e chegamos ao segundo enredo, sobre uma jovem (Britt Robertson, a verdadeira protagonista) decidida a sabotar qualquer tentativa de desativação da sucursal da NASA próxima de sua casa, onde o pai trabalha. Numa dessas acaba presa, e é na cadeia onde recebe, sem saber de quem, o mesmo pin que vimos antes. Com ela acontece o mesmo, e ao vislumbrar aquela realidade alternativa, decide ir atrás de quem poderá ajudá-la. É quando a mesma Athena aparece, guiando-a até Frank (agora já com o rosto de George Clooney, atuando em ponto morto). Descobrimos que ele foi expulso de Tomorrowland por ter inventado a única coisa que nunca poderia ter sido criada: uma máquina que prevê com exatidão o momento da morte de cada um. O que mudou, tanto tempo depois, é que talvez essa novata recém-chegada possa ser a pessoa certa para reverter essa situação.

Por mais voltas que o enredo dê, Tomorrowland nada mais é do que um jogo de gato-e-rato: de um lado temos os com esperança que acreditam em um mundo melhor, enquanto que do outro temos o vilão (Laurie) que, desiludido com o comportamento humano, se refugiou com os seus neste universo paralelo, condenando a Terra à sua própria extinção. Ainda que seja inevitável pensar no velho ditado que afirma que de boas intenções o inferno está cheio, o filme de Brad Bird é exatamente isso: uma história sobre o poder da mudança e da fé por dias melhores, mas construída de forma tão ingênua e pueril que é inevitável se tornar cansativa e redundante. Isso sem falar na longa duração – são mais de 130 minutos – que exploram todas as possibilidades disponíveis sem muita criatividade, por mais irônico que isso possa soar. E, assim, o que se percebe é um discurso sobre o amanhã que tudo que consegue é reciclar velhos dizeres e recursos do passado, entregando-os requentados e sem muita inspiração.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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