Crítica
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Sinopse
Pete "Maverick" Mitchell é um jovem que ingressa na elite da academia aérea para se tornar um às como piloto de caça. Lá se envolve com Charlotte, uma bela mulher, e enfrenta Iceman, o primeiro competidor à sua altura.
Crítica
Maverick (Tom Cruise) é um personagem derivado da longa tradição de rebeldes (com ou sem causa) celebrados por Hollywood. Um sujeito avesso às regras, destemido e que coloca essa impetuosidade a serviço dos colegas quando necessário. De certa forma, a desobediência do piloto da marinha norte-americana é um dos traços da masculinidade que Top Gun: Ases Indomáveis celebra tendo a vivência militar como guarda-chuva. Mas, tudo está devidamente sob controle. Maverick não é subversivo, não é alguém de atitudes ou temperamento controversos. Portanto, está longe de figuras como o Jim Stark vivido por James Dean em Juventude Transviada (1955), pois a sua disposição de ir contra os protocolos é bem-vinda, no fim das contas. Note como até os superiores se curvam para celebrar a genialidade desse sujeito, assim sempre “passando pano” para a insubordinação. De todos os colegas de Maverick, apenas um se coloca como opositor a seu estilo de vida e pilotagem arrojada: Iceman (Val Kilmer). E, curiosamente, ele é bem mais ponderado e responsável do que o protagonista, mas acaba situado na posição de “vilão” por uma questão de ciúme e antagonismo. Aliás, os dois pilotos parecem meninos disputando para ver quem tem a maior coleção de Lego ou algo que lembre uma peleja infantil. Boa parte do filme comandado por Tony Scott se dá sobre a rivalidade para ver quem pode mais.
Top Gun: Ases Indomáveis começa com Maverick herdando a posição do colega desistente como aprendiz na escola de elite dos pilotos da força aérea norte-americana. Não sem antes dar um indício de inabalável coragem ao salvar alguém enquanto coloca a sua vida em risco. Assim, ele é definido por um dos requisitos do herói: a capacidade de abdicar da própria integridade em prol dos outros. Portanto, a partir disso, não importa quantas bobagens ou infantilidades o militar fizer/disser, sempre virá na frente a noção de que ele é um sujeito altruísta. Maverick é um personagem destacável justamente porque a sua energia agressiva está voltada somente (e superficialmente) à lógica da autoridade e a quem tiver a ousadia de se achar melhor do que ele. Pode-se dizer que Maverick é um bad boy comportado que nem provoca discussões sobre hierarquias ou a respeito das ocupações militares. Num momento-chave, ele recorre ao instrutor como se esse superior fosse um substituto do falecido pai, o que transforma a sua rebeldia num gesto mais ou menos natural de alguém amadurecendo. Então, essa natureza indomável não põe nada em xeque. Nada, mesmo. Até porque Tony Scott nunca perde de vista a ideia do espetáculo de guerra, vide a construção visual das decolagens numa contraluz poética, a montagem que denota a competência militar e a moldura gerada pela vibrante canção "Danger Zone".
Curiosamente, antes mesmo de o cinema se apoderar da linguagem dos videogames, Top Gun: Ases Indomáveis utiliza estratégias para transformar momentaneamente o espectador num empolgado piloto alvejando as aeronaves inimigas. Alguns dos instantes com maior tensão e senso de aventura está justamente no processo de mira que situa o nosso olhar diretamente na perseguição os “vilões” até que tudo esteja pronto para detona-los com mísseis. Tony Scott utiliza certas situações dramáticas como meros subterfúgios para acentuar uma visão excitante dos aparelhos bélicos. Nesse sentido, há até um exagero em como Maverick é falsamente preso numa estrutura contra a qual se rebelar. Os instrutores que o repreendem nutrem profunda admiração por ele; a esposa do parceiro que morre numa missão está mais preocupada em consolá-lo do que atenta à própria dor; os questionamentos de Maverick sobre as opiniões da mulher amada resultam numa coisa: ele está com a razão. Até Iceman, o único que parece realista sobre a sua inconsequência, é levado a dar o braço a torcer diante da excepcionalidade do rival. Portanto, o filme existe para glorificar o personagem de Tom Cruise, ao ponto de não serem ponderadas as suas investidas amorosas. Não é preciso ir muito longe para entender como bem problemáticas a invasão do banheiro e a insistência para transformar o “não” num “sim”.
Há situações empolgantes em Top Gun: Ases Indomáveis e a nostalgia durante a revisita pode se encarregar da relativização de certos problemas em prol de uma experiência menos exigente. No entanto, se olharmos um pouco mais criteriosamente, poderemos perceber que nem mesmo o romance entre os personagens de Tom Cruise e Kelly McGillis faz muito sentido. Ela é uma oficial flertando abertamente com um cadete e ninguém fala nada, ou seja, a transgressão das regras nem é vista como transgressão; ela é uma figura existente somente para confirmar o quanto ele é incrível, tanto no que diz respeito aos conhecimentos de voo quanto nas intrincadas lógicas do amor; na isolada cena de sexo entre os dois (filmada meses depois, pois não existia na primeira versão do roteiro), a única coisa enfatizada na dinâmica pudica das sombras se pegando é o beijo de língua. Mas, continuando nessa toada de escrutinar os principais pontos do filme, nem a rivalidade com Iceman é bem trabalhada. O evidente homoerotismo existente nessa relação (vide as olhadinhas maliciosas durante as apresentações, as cenas de te(n)são no vestiário e principalmente o flagrante jogo de vôlei dos descamisados) não serve para mobilizar algo. Sobre as batalhas aéreas, as primeiras realmente são ótimas, mas servem de parâmetro a todas as outras, o que gera repetições cansativas nas disputas desses meninos excitados que comparam seus falos enquanto abatem inimigos malvados da estrela vermelha (comunismo?).
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