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Sinopse

​Torquato Neto vivia apaixonadamente as rupturas. Atuando em múltiplas frentes - no cinema, na música, no jornalismo - o poeta piauiense engajou-se ativamente na revolução que mudou os rumos da cultura brasileira nos anos 1960 e 1970. Foi um dos pensadores e letristas mais ativos da Tropicália.

Crítica

É possível que você já tenha cantarolado versos criados por Torquato Neto e nem tenha se dado conta. Nomes importantes da música brasileira gravaram suas canções e também realizaram parcerias com o poeta, tais como Gal Costa, Nara Leão e Gilberto Gil. Seu trabalho esteve nos discos e nas bocas de artistas talentosos, mas nem por isso é fácil entender suas rimas e seus experimentos. Torquato Neto: Todas as Horas do Fim, dirigido pela dupla Eduardo Ades e Marcus Fernando, é um documentário, mas também não é. É uma homenagem, mas também é registro. É puro Torquato.

Nascido em Teresina, no Piauí, integrante do grupo de jovens que deu início ao movimento do Tropicalismo, Torquato Neto partiu cedo e de maneira trágica. Silenciosa e trágica, vale ressaltar. Os primeiros versos ditos no filme, narrados pelo ator Jesuíta Barbosa com sotaque e atitude que certamente agradariam seu autor, já falam sobre uma vontade de ir embora e ao mesmo tempo ter tantos motivos para ficar. Mesmo associado a uma produção artística que trouxe alegria e colorido à vida das pessoas, a morte sempre o rondou. O jornalista João Rodolfo do Prado dá início as depoimentos de amigos e familiares, todos com efeito de câmera super 8, formato no qual Torquato faria suas aventuras como cineasta. Na noite em que cometeu suicídio, foi Prado quem o levou para casa e ouviu sua empolgação com novas criações.

Torquato Neto: Todas as Horas do Fim faz mais que contar a história de um dos artistas mais importantes que o Brasil já teve. Inebriados pelo avesso à caretice típico do personagem do documentário, Ades e Fernando deram o ritmo da poesia meio concretista, meio marginal que o consagrou. As lembranças de Tom Zé, Caetano Veloso e Ivan Cardoso são permeadas por inúmeras fotografias e imagens de arquivo. Entre uma leitura de Jesuíta Barbosa e outra, somos brindados por interpretações tocantes de suas canções. Vários trechos de filmes brasileiros, incluindo Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), de Glauber Rocha, pelo qual Torquato tinha grande admiração, aparecem para representar momentos da vida do artista. Se ele falava do seu tempo sem deixar de falar de si, o cinema também traduzia um pouco do que ele era.

A montagem inteligente de João Felipe Freitas, o roteiro poético pautado pelos temas caros ao personagem e o respeito com o qual é tratado a partida tão prematura de Torquato fazem deste um documentário que precisa ser visto em tempos sombrios como os que estamos vivendo, em que muitos versos e talentos se calam por meio de ordens de caras caretas que em nada agradariam uma alma libertária e ousada como a dele.

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é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands.
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