Torre: Um Dia Brilhante
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Jagoda Szelc
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Wieza. Jasny dzien
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2018
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Polônia / República Tcheca
Crítica
Leitores
Sinopse
Mula mora com seu marido, sua mãe enferma e filha, Nina, em uma casa de campo. No final de semana antes da Primeira Comunhão da menina, sua família vem visitar, com a irmã mais nova, Kaja, que havia desaparecido 6 anos atrás. Kaja é a mãe biológica da Nina e Mula teme que ela possa querer levar a filha embora. Porém, há um motivo totalmente distinto para Kaja ter retornado.
Crítica
Há alguma coisa muito estranha acontecendo em Torre: Um Dia Brilhante, longa de estreia da polonesa Jagoda Szelc. Selecionado para a Mostra Forum do Festival de Berlim 2018 e reconhecido em três categorias no Polish Film Festival – a mais importante premiação do cinema polonês – a trama começa com cenas aéreas acompanhando um carro rumo ao interior do país. O caminho dentre as árvores, no entanto, é marcado por uma trilha sonora intensa, de ritmos profundos, servindo como anúncio dos tempos sombrios que estão por vir. Dentro do automóvel, um casal à frente e duas crianças no banco de trás, cada uma dormindo encostada em uma das janelas. No meio delas, bem desperta, uma mulher. Ela permanece em silêncio durante todo o trajeto, mas os olhos atentos entregam a ansiedade por chegar. Está nela, afinal, o mistério que irá se desenrolar durante os próximos noventa minutos de projeção.
Assim que as visitas estacionam em frente à casa de Mula (Anna Krotoska) e Michal (Rafal Cieluch). O casal mora com a filha, Nina (Laila Hennessy), e a avó da pequena, mãe da esposa, Ada (Anna Zubrzycki). Trata-se de um reencontro familiar: a reunião se deve pela cerimônia de Primeira Comunhão da menina, marcada para os próximos dias. Andrzej (Rafal Kwietniewski) trouxe a esposa, Anna (Dorota Lukasiewicz), os dois filhos, e a outra irmã, Kaja (Malgorzata Szczerbowska), para prestigiarem esse importante momento da sobrinha. Ao chegarem, ao invés de abraços saudosos, o que se percebe são cumprimentos desajeitados. E no primeiro instante oportuno, Mula pega a irmã pelo braço e, assim que as duas ficam sozinhas, um alerta é dado: há regras a serem cumpridas durante a visita. A mais importante delas? Não revelar que é ela, enfim, a verdadeira mãe da criança.
Jagoda Szelc não está preocupada em oferecer explicações. Por isso, é importante que o espectador esteja atento a cada detalhe do que vai transcorrendo em cena. E o que aos poucos é possível depreender é que Kaja esteve seis anos desaparecida, sem que ninguém soubesse o seu paradeiro. Ao retornar, esse novo contato se dá, aparentemente, sem explicações convincentes – elas até podem ter existido, mas provavelmente eram tão fracas e inconsistentes que não valiam o esforço de serem repetidas para a audiência. A questão é essa: durante sua ausência, quem cuidou da filha que deixou para trás foi a irmã, Mula. Meia década é muito na vida de uma criança, o suficiente para que ela esqueça suas origens e forme novas referências. Hoje, para Nina, seus pais são Mula e Michal. É essa a sua verdade. E Kaja, nem ninguém, irá estragar essa realidade.
O embate familiar, no entanto, não se dá apenas no aspecto dos relacionamentos. Há algo a mais em curso. E estas mudanças, tão lentas e discretas, exigem horas, até mesmo dias, para que os demais percebam o que está acontecendo. Mula é a única desperta, mas a falta de apoio daqueles ao seu lado a levam a se questionar: “estarei sendo paranoica?”, se pergunta. No entanto, quando existem fatos, é difícil seguir fingindo que eles não estão se sucedendo por uma razão. A matriarca, há anos entrevada em uma cama sem emitir um som inteligível, após permanecer alguns minutos com a filha desaparecida no mesmo quarto, se levanta como se nunca tivesse lhe abatido nenhum mal. Está sorridente, reconhece os demais e retoma sua posição junto aos filhos, netos e genros, para espanto mal dissimulado de todos. Mas há mais. Um cachorro que desaparece, barulhos estranhos vindo de dentro das paredes, noites de insônia, mudanças de ideia e comportamento. A presença de um elemento perturbador, que tanto pode estar à espreita como também entre eles. O que almeja? Só o tempo dirá.
É interessante perceber como, mesmo com uma premissa bastante clara desde o princípio, a diretora deliberadamente a deixa de lado, para, gradualmente, abrir espaço para uma outra possibilidade a ser perseguida pela história. Afinal, o que querem os personagens de Torre: Um Dia Brilhante? Em um momento são dados como mortos, logo em seguida o mundo parece tomado pelas crianças. A vida ressurge naqueles que pareciam condenados, ao mesmo tempo em que as sequências na igreja possuem uma caracterização tensa, como se algo fosse irromper a qualquer instante: o que, mesmo não acontecendo, não impede que um sentimento de desconforto adquira contornos cada vez mais difíceis de serem ignorados. E o final, quando enfim algumas pistas começam a se manifestar, deixa claro que não há mais nada a ser dito. Um outro plano de entendimento foi alcançado, e a partir daqui cabe a cada um, independente do lado da tela em que se encontre, fazer sua própria leitura. Afinal, há certas coisas que não podem ser explicadas. Nem neste e nem em qualquer outro mundo.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 8 |
Leonardo Ribeiro | 4 |
Francisco Carbone | 10 |
Chico Fireman | 3 |
MÉDIA | 6.3 |
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