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Crítica


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Sinopse

Um jovem rapper é obrigado a sair de Paris após um acerto de contas. Como escape, a ele é proposto que acompanhe o pai de seu empresário numa volta pelos portos da França, seguindo os passos do pintor Joseph Vernet.

Crítica

Que a xenofobia é um problema desolador na Europa, isso não é novidade. Inédita, talvez, seja a maneira de tratar desse problema no cinema. Muitos filmes denunciam a violência a estrangeiros de forma catártica, até apoteótica, como uma grande guerra civil. Não deixa de ser verdade, mas é interessante também ver a questão com outros olhos. É justamente o que Tour de France faz. O longa de Rachid Djaidani coloca a xenofobia sob outra perspectiva, ao abordar o tema com uma ótica sensível e, acima de tudo, bem-sucedida.

É nas ruas do subúrbio de Paris que conhecemos Far'Hook (Sadek), jovem rapper que não quer saber de fama, mas sim de expressar sentimentos e injustiças sociais através da música. Relativamente conhecido no meio, ele está prestes a abrir um grande show, mas se envolve numa briga com outro rapper e precisa sair de vista por um período. A solução é ser motorista do pai de seu produtor. Serge (Gérard Depardieu) é um ex-presidiário racista que não aceita a conversão do filho para o Islã, tendo prometido à falecida esposa que pintaria todos os 15 portos da França. Está aí a tour do título.

Porém, muito mais que um simples road movie, o longa de Djaidani é um apanhado das diversas vertentes culturais e sociais do país europeu. É através do embate entre Far'Hook e Serge que o filme toma forma, expondo tudo o que há de degradante na maneira como os "franceses puros" (na pele de Depardieu) entendem as diferentes etnias marginalizadas nas ruas. Justamente através desse choque cultural obrigatório entre os dois é que as afinidades começam a surgir, especialmente o gosto pela arte. Far'Hook não é um rapper que desconhece suas origens musicais e só canta "vou te foder", como imagina o preconceito de Serge. Com longas conversas, percebe-se que o velho turrão é muito menos casca grossa do que aparenta, assim como o jovem precisa aprender a melhor forma de educar alguém a quebrar estereótipos.

A distância entre os dois diminui a cada diálogo do roteiro que mostra o ser humano como igual em sua essência, independentemente de ele ser de uma etnia ou de outra. O estreante Sadek, também rapper na vida real, entrega uma performance sensível que se iguala à monstruosidade em cena de Depardieu. Com apenas alguns olhares, o ator expressa muito mais que as palavras duras de Serge podem sugerir. E olha que ele fala pelos cotovelos. Assim, com dois grandes personagens e intérpretes, um roteiro bem humorado que não poupa críticas ácidas à situação dos imigrantes na Europa e uma direção que consegue conduzir essa história de forma sensível e sem pieguice, Tour de France se mostra um grande filme embalado numa pequena obra que merece ser descoberta. Com seu discurso de igualdade permeando cada momento, quem sabe o conto toque os espectadores pela realidade em questão. Melhor ainda: que façam questão de mudá-la com pequenos gestos.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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